Sabedoria do Evangelho - Volume 6

CAPÍTULO 7

TRIGO E JOIO



MT 13:24-30


24. Outra parábola lhes propôs (Jesus), dizendo: "Assemelhou-se o reino dos céus a um homem que semeou boa semente em seu campo.

25. Enquanto, porém, dormiam os homens, veio o inimigo dele e semeou por cima joio, por entre o trigo, e foi embora.

26. Quando, pois, cresceu a erva e produziu fruto, então apareceu também o joio.

27. Chegando os servos do dono da casa, disseram-lhe: "Senhor, não semeaste boa semente em teu campo? Donde, então, vem o joio"?

28. Ele respondeu-lhes: "um homem inimigo fez isso". Os servos disseram-lhe; "Queres então que vamos colhê-lo"?

29. Replicou ele: "Não, para que colhendo o joio, não arranqueis juntamente com ele o trigo;

30. Deixai crescer ambos até a colheita; e na época da colheita direi aos cefeiros: colhei primeiro o joio e amarrai-o em feixes para queimá-lo; mas o trigo, recolhei-o ao meu celeiro".



Segue-se outra parábola, esta menos clara, de tal forma que os discípulos, ao chegarem a casa, pediram uma explicação em particular.

Observe-se que geralmente o verbo é usado no presente: "o reino dos céus é semelhante" (homoía estin hê basileía tõn ouránõn, cfr. 13 31:33-44, 45, etc), e uma vez aparece no futuro: "assemelhar-se-á" (homoiôthêsetai, 25:1); no entanto aqui é empregado o aoristo: "assemelhou-se" (homoiôthê).

A semeadura é boa, e não há razão para vigilância noturna enquanto as sementes ainda se encontram sob a terra. E os lavradores aproveitam a noite para dormir. Aproveitando-se da escuridão, alguém percorre os sulcos recém-semeados de trigo, e lança à terra fofa a semente do joio. Dai Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 26 col.
93) avisar aos chefes da igreja que não durmam, para que não se façam semeaduras de heresias entre os fiéis.

O joio (em grego zizánia) é o lolium temulentum de Linneu, planta que apresenta grande semelhança com o trigo, pois é também uma graminácea, e frutifica em espigas, embora menores e mais magras que as do trigo. Cereal venenoso, com efeitos de náuseas e embriaguez, por causa do cogumelo microsc ópico (Endoconidium Temulentum, de Prillieux e Delacroix), que vive em simbiose com o grão, logo que ele se forma, como foi comprovado por P. Guérin ("Journal de Botanique", 1898 pág. 230).

Quando se formam as espigas, torna-se fácil distingui-lo do trigo, mas com ele se confunde durante todo o crescimento (Jerônimo, Patrol. Lat. vol 26, col. 94). Abundante sobretudo no oriente e na Palestina.

O hábito de querer prejudicar alguém plantando sementes nocivas em campos úteis não devia ser raro, pois foi previsto, no Código Penal de Roma.

Quando os lavradores percebem o fato, indagam do Senhor como terá ocorrido esse desastre. Dada a explicação e proposta a extirpação do joio, é-lhes ordenado aguardar a colheita, quando o trigo, crescendo mais alto, será mais fácil de distinguir. Será então colhido o joio junto com a palha e queimado, e o trigo será recolhido ao celeiro (1).


(1) Como curiosidade anotemos o correspondente grego de "celeiro": apothêke, que etimologicamente significa "caixa, cofre" (thêka) "debaixo" (apó), e designava geralmente a adega, onde se guardaSABEDORIA DO EVANGELHO vam os vinhos. Essa palavra passou diretamente do grego ao português, masculinizando-se apothêke

—boteco, donde saiu o diminutivo botequim.

O segundo comentário será feito junto com o do capítulo seguinte.