Sabedoria do Evangelho - Volume 7

CAPÍTULO 26

PLANO DE PRISÃO



MT 26:1-5


1. E aconteceu que, quando Jesus terminou todos esses ensinos, disse a seus discípulos:

2. "Sabeis que com dois dias acontecerá a Páscoa e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado".

3. Então reuniram-se os principais sacerdotes e anciãos do povo no palácio do sumo Sacerdote, chamado Caifás,

4. e resolveram apoderar-se de Jesus com engano e matálo.

5. Mas diziam: Não durante a festa, para que não surja tumulto no povo.

MC 14:1-2


1. Era, pois, a Páscoa e os ázimos dois dias depois. E procuravam os principais sacerdotes e os escribas como, prendendo-o com enganos, o matariam,

2. pois diziam: não na festa, para que não haja tumulto no povo.

LC 22:1-2


1. Aproximava-se, porém, a festa dos ázimos, a chamada Páscoa,

2. e procuravam os principais sacerdotes e os escribas como o matariam, pois temiam o povo.



Ao terminar a grande lição, o Mestre anuncia aos discípulos que a "páscoa" OU "festa dos ázimos" se celebrará daí a dois dias. Estamos, pois, na noite de terça ou na manhã de quarta-feira, já que essa festa era celebrada das 18 horas de quinta até as 18 horas de sexta-feira.


Recordemos (vol.
1) que o primitivo nome de "páscoa" era pesah hu"la YHWH (em grego páscha estì kuríôi) ou seja a passagem de YHWH" (EX 12:11).

Diz mais, que nessa páscoa "o Filho do Homem será entregue para ser crucificado". A comunicação é feita com tranquila solenidade.

Logo a seguir o evangelista modifica o cenário, e sobre o palco aparece a reunião das autoridades, isto é, dos sacerdotes, escribas e anciãos. Mateus e Lucas citam os escribas, que Mateus omite, como em outros passos (cfr. 21:23; 26:47; 27:1, 3, 12, 20).

A reunião é realizada no "palácio" (aulê) do Sumo Sacerdote. O sentido de aulê pode ser o próprio" palácio" (como em MT 26:3, MT 26:38; MC 14:54 e MC 15:16; LC 11:21 e JO 18:15) ou o "pátio do palácio", sobretudo quando acompanhado do adjetivo "exterior" (cfr. MT 26:69; MC 14:66 e LC 22:55).

A páscoa era comemorada rigorosamente a 14 de nisan, com a imolação do cordeiro, enquanto a "festa dos ázimos" durava uma semana, durante a qual só poderiam comer-se pães sem fermento e alimentos sem sal nem azeite, (cfr. EX 12:1-20 e EX 12:39).

A resolução era consumar-se o sacrifício às ocultas, e não durante a festa, a fim de não provocar tumulto entre o povo. Mas os desígnios espirituais nem sempre coincidem com as intenções humanas.

Dada toda a parte teórica da lição, já está soando o momento de chegar-se à parte prática, vivendo-se tudo o que foi ensinado. Isso é anunciado com palavras bastantes claras para todos.

A partir deste ponto da permanência de Jesus na Terra, em carne, torna-se de cristalina evidência que todas as ocorrências e palavras assumem característica dúplice: A) a parte externa, exotérica, para os profanos, que só percebem os fatos físicos, os gestos, as atitudes, os diálogos, numa palavra, o que ocorre com a personagem;

B) a parte interna, esotérica, que é representada simbolicamente pelas ocorrências exteriores, mas que se realiza em outro plano, em outra dimensão, relacionando-se com a individualidade, e que constitui em última análise, a verdadeira lição a aprender.


Jesus terminou "todos esses ensinos" teóricos (pántas tous lógous toútous) e faz a revelação que a exemplificação prática está para começar dentro de dois dias, durante os quais será feita toda a preparação mística indispensável. Tratava-se da "passagem" de um grau iniciático a outro, a "travessia"" da "porta estreita". Realmente, era esse o significado atribuído à palavra "páscoa" por aqueles que" entendiam" do assunto. Tanto assim que a "páscoa" era chamada por Flávio Josefo (Ant. Jud.

2. 14.
6) hyperbasía, isto é, "passagem"; por Filon (1,174 e II,
292) era dita diabatêria, "travessia"; por Gregorio Nazianzeno (Patrol. Graeca, vol. 37 col.
213) heortê diabatêrios, "festa da travessia".

Para essa "travessia" o Filho do Homem "tinha que ser entregue (paradídotai) para ser crucificado (staurôthênai)".

Aqui começamos a tomar contato com os primeiros passos da grande cena que se desenrolará (à imitação dos dramas sacros de Elêusis) em solene cerimônia iniciática, com a participação integral de todos os elementos indispensáveis a essa realização suprema.

Era o "sacerdote da Ordem de Melquisedec" que ia submeter-se ao sacrifício máximo para - se conseguisse vencê-lo vencendo-se - atingir o grau de "Sumo Sacerdote" da mesma Ordem, ou seja, o grau de Hierofante ou de "Rei" (1).

(1) Não é sem razão que o catolicismo considera Jesus "Rei": trata-se do grau máximo das Escolas Iniciáticas, inclusive da que Ele criou.

Para o ato, reuniu-se o alto poder espiritual de seu povo, o povo de Israel, na cidade-santa Jerusalém.

Embora as personagens que o compunham nem sequer desconfiassem do papel que estavam desempenhando na economia planetária pois só "viam dos tetos para baixo" e só consideravam os corpos físicos visíveis - não obstante a Lei utiliza as criaturas para execução de seus fins, mesmo sem nada revelarlhes: os homens são marionetas pretensiosas que julgam agir de acordo com suas convicções inabaláveis e sua plena liberdade de escolha...

Sacerdotes, anciãos e escribas (o Sinédrio) RESOLVEM matá-lo, mas desejam fazê-lo às ocultas, sem que o povo perceba, a fim de evitar tumultos e possíveis represálias. Pretendem, pois, executá-lo DEPOIS da festa da páscoa. Mas os desígnios dos Espíritos Superiores são outros: há de ser exatamente na celebração solene da PASSAGEM ("páscoa"). E o meio de conseguí-lo será posto em realização, conforme predições proféticas anteriores.

Vê-lo-emos a seguir.