Sabedoria do Evangelho - Volume 7

CAPÍTULO 7

O PODER DE JESUS



MT 21:23-27


23. E entrando ele no templo, aproximaram-se dele, que ensinava, os principais sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: com que poder fazer estas coisas? e quem te deu esse poder?

24. Respondendo, Jesus disselhes: "Perguntar-vos-ei também eu uma palavra, que, se me responderdes, também vos responderei com que poder faço essas coisas.

25. Donde era o mergulho de João? Do céu ou dos homens"?

Eles, porém, raciocinavam entre si dizendo: se dissermos "do céu", dirnosá: "por que não acreditastes nele"?


26. Mas se dissermos "dos homens" tememos a multidão, pois todos têm João como profeta.

27. E respondendo a Jesus, disseram: "Não sabemos"!

Disse-lhes também ele: "Nem eu vos digo com que poder faço essas coisas".


MC 11:27-33
27. E vieram de novo a Jerusalém. E perambulando Jesus pelo templo, vieram a eles os principais sacerdotes e escribas e os anciãos, 28. e disseram-lhe: com que poder fazes essas coisas? ou quem te deu esse poder para fazeres essas coisas?

29. Jesus porém disse-lhes: Perguntar-vos-ei uma palavra e me respondereis, e vos direi com que poder faço essas coisas:

30. o mergulho de João era do céu ou dos homens? respondeime"!

31. E raciocinavam entre si, dizendo: se dissermos "do céu", dirá: por que não acreditastes nele?

32. Mas se dissermos "dos homens" ... temiam o povo, pois todos consideravam que João fora realmente profeta.

33. E respondendo a Jesus, disseram: não sabemos. E Jesus disse-lhes: "Nem eu vos digo com que poder faço essas coisas".

LC 20:1-8


1. E aconteceu em um dos dias em que Jesus ensinava ao povo no templo e anunciava coisas alegres, chegaram os principais sacerdotes e os escribas junto com os anciãos,

2. e falaram dizendo-lhe: dizenos com que poder fazer essas coisas, ou quem é que te deu esse poder?

3. Respondendo-lhes, disse: "Perguntar-vos-ei também eu uma palavra; respondeime:

4. o mergulho de João era do céu ou dos homens"?

5. Consultaram-se entre si, dizendo: se dissermos "do céu" dirá: por que não acreditastes nele?

6. Mas se dissermos "dos homens", o povo todo nos apedrejará, pois está certo de João ser profeta.

7. E responderam que não sabiam donde (era).

8. Jesus disse-lhe: "Nem eu vos digo com que poder faço essas coisas".



Diariamente Jesus ensinava no templo. Numa dessas ocasiões, chegam a Ele os sacerdotes principais, ou seja, os que pertenciam ao Sinédrio, em companhia de seus colegas os anciãos do povo e os escribas, para interpelá-Lo.

Observavam aquele galileu, de condição social inferior, que jamais lhes havia seguido os cursos acadêmicos e que, não obstante, demonstrava sabedoria profunda em Suas palavras, poder mágico em Suas ações, irresistível força de liderança popular, movimentando as massas como em tempo algum haviam eles conseguido.

Lembravam-se vivamente da cena de dois anos atrás, quando expulsara os comerciantes do templo; das curas instantâneas que efetuara; das respostas irretorquíveis que lhes dera, muitas vezes, obrigandoos a retirar-se cabisbaixos e silenciosos, embora remordendo-se de despeito; das peças que lhes havia pregado em várias circunstâncias, como no episódio da "adúltera"; do que ouviam contar Dele, trazido por testemunhas oculares da Galileia; da tão falada ressurreição de Lázaro havia alguns dias apenas; e de tantas outras "façanhas" que, realmente, homens como eles, cultos e de alta categoria social e religiosa, não só não podiam realizar, como nem compreender.


Animam-se, pois, e vão perguntar-Lhe, talvez movidos por íntima sensação de estar diante de algum profeta:

—Com que poder oculto fazes todas essas coisas? Quem te deu esse poder (exousía é o poder baseado em dynamis, "força", de realizar érgon "trabalho ou ação").

Quiçá tinham a esperança de ser-lhes revelado o segredo espiritual, que eles, como autoridade pretendiam ter o direito de saber, e que os animasse a estudar o caso, aceitando-o, se convencidos da proveniência divina, ou rejeitando-o se não fosse provada essa origem com plena nitidez.


Haviam perguntado duas coisas e ansiosamente aguardavam a resposta. Jesus utiliza o processo rabínico, de responder com outra pergunta, mas salienta que, em vez de duas, lhes fará uma só:

—Respondei-me: o mergulho de João era do céu ou dos homens? Se mo responderdes, direi donde me vem esse poder...

Pronto! Outra peça pregada... Cochicham entre si e verificam que, qualquer que fosse a resposta, estavam presos pelo pé. O texto é claro e apresenta-nos a angustiosa dúvida da embaixada. O melhor era declarar a ignorância a respeito, como se lhes coubesse ignorar, a eles, a autoridade religiosa mais alta de Israel!

—Não sabemos!

O Mestre retorque-lhes altaneiro, declarando que tampouco lhes diria donde lhe vinha Seu poder.

Sabe-o, mas não dirá.

Lição preciosa!

Quase todos os espiritualistas que proliferam atualmente, ou que tais se julgam, fazem questão de apresentar e apregoar títulos que receberam de homens, ou que eles mesmos inventaram. Citam Centros frequentados, Ordens, Associações e Fraternidades a que pertencem "há tantos e tantos anos"; honrarias conquistadas (às vezes compradas...), milagres realizados, nomes "iniciáticos" precedidos de "sri" ou seguidos de "ananda" que alguém lhes deu ou que se atribuíram, e mais medalhas, e cargos do "Mestres (ou "gurus", que é mais bonito e impressiona mais...), e fitas de "veneráveis", e "crachats" de valor internacional, etc. etc. Muitas vezes também enumeram as amizades que tem com grandes homens, os contatos com personagens importantes, como se isso valesse algo... Não se lembram de que os motoristas, copeiros e cozinheiros dessas criaturas tem contato muito mais íntimo!

Jesus ensina-nos como devemos agir: nada temos que dizer. Mas também não há necessidade de manifestar nem de internamente envaidecer-nos pelo fato de nada dizer. SIMPLICIDADE, acima de tudo: nada vale nossa personalidade temporária, que hoje é a amanhã fenece como a erva do campo; trata-se apenas de um "veículo" que transporta nosso EU verdadeiro e que, uma vez envelhecido e imprestável, é abandonado à margem do caminho; e nosso EU verdadeiro, o Espírito, é idêntico ao de todas as demais criaturas: que razão nos sobra de envaidecer-nos?

Portanto, há uma só coisa que fazer: TRABALHAR e SERVIR.

Qual a fonte de origem de nossos atos, de nossos conhecimentos? Não interessa. O que importa é se falamos e agimos CERTO: pela árvore se conhece o fruto.

Por que inflar-nos de orgulho se, como médiuns, se manifestam por nosso intermédio nomes de seres respeitados pela humanidade? Teria direito de orgulhar-se a caneta, por ser usada por um sábio?

Que faz ela mais que a caneta, que presta idêntico serviço na mão de uma criança que aprende a escrever?

A função é a mesma, o resultado - escrever - o mesmo.

Certa vez, conversando com Francisco Cândido Xavier, ele citou-nos o nome de um espírito "graúdo" na Espiritualidade que estava a nosso lado. Retrucamos que não podíamos acreditar, pela nossa pequenez.


Mas, talvez observando uma vibração de vaidade em nós, apesar das palavras, Chico logo advertiu:

—Não se envaideça não, porque quanto mais errada a criatura, mais necessidade tem de um ajudante forte!

E pensamos: realmente, quanto mais recalcitrante o animal, mais hábil tem que ser o peão!

A vaidade é dos piores vícios. Mas se torna muito mais grave, quando ataca os espiritualistas, sobretudo aqueles que, por circunstâncias diversas, se encontram à frente de instituições. Já vimos (vol.
6) que "é preferível o suicídio a ensinar errado". Ora, a vaidade oblitera a inspiração, porque dissintoniza e corta as intuições; e o resultado é fatal: passamos a ensinar segundo nosso ponto-de-vista, e não segundo a VERDADE. Ensinemos sempre que os ouvintes devem usar a razão para analisar nossos ensino" (leia-se por exemplo, Allan Kardec, "Livro dos Médiuns", números 261:267), pois ninguém na Terra possui autoridade absoluta e infalível; todos estamos estudando e aprendendo, e apenas passamos adiante aquilo que vamos conquistando com esforço, pela grande dificuldade do assunto espiritual.

Portanto, não citemos "a fonte", já que não sabemos qual seja...