Os fenômenos espíritas na Bíblia Muito se tem insistido sobre as proibições de Moisés, contidas no Êxodo, no Levítico e no Deuteronômio. É inspirados em tais proibições que certos teólogos condenam o estudo e a prática dos fatos espíritas. Mas o que Moisés condena são os mágicos, os adivinhos, os augures, numa palavra, tudo o que constitui a magia, e é o que o próprio espiritualismo moderno também condena. Essas práticas corrompiam a consciência do povo e lhe paralisavam a iniciativa; obscureciam nele a ideia divina, enfraquecendo a fé nesse Ente supremo e onipotente que o povo hebreu tinha a missão de proclamar. Por isso não cessavam os profetas de o advertir contra os encantamentos e sortilégios que o perdiam. (Nota clvi: Ver, por exemplo, "Isaías", XLVII, 12-15.) As proibições de Moisés e dos profetas tinham apenas um fim: preservar os hebreus da idolatria dos povos vizinhos. É possível também que não visassem senão o abuso, o mau uso das evocações, porque, apesar dessas proibições, são abundantes na Bíblia os fenômenos espíritas. O papel dos videntes, dos oráculos, das pitonisas, dos inspirados de toda ordem é ali considerável. Lá não vemos Daniel, por exemplo, provocar, por meio da prece, fatos mediúnicos? (Daniel
Como poderiam as proibições de Moisés servir de argumento aos crentes dos nossos dias, quando, nos três primeiros séculos da nossa era, nisso não viam os cristãos o menor obstáculo às suas relações com o mundo invisível?
Dizia S. João: "Não acrediteis em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus. " (I João
Os hebreus, cuja crença geral era que a alma do homem, depois da morte, era restituída ao scheol, para dele jamais sair (Job
Era costume consultar os videntes sobre todos os fatos da vida íntima, sobre os objetos perdidos, as alianças, os empreendimentos de toda ordem. Lê-se em Samuel I, cap. IX, v. 9: "Dantes, quando se ia consultar a Deus, dizia-se: Vinde, vamos ao vidente. - Porque os que hoje se chamam profetas, chamavam-se videntes. " O sumo-sacerdote mesmo proferia julgamentos ou oráculos mediante um objeto de natureza desconhecida, chamado urim, que colocava sobre o peito. (Êxodo
Sua inspiração, projetando-se nos profetas, devia necessariamente traduzir-se por ensinos, ora opulentos e elevados, ora vulgares e eivados de erros.
Em muitos casos mesmo deveram eles ter em conta, em suas revelações, as necessidades do tempo e o estado de atraso do povo a que eram dirigidos.
Pouco a pouco as crenças dos judeus se ampliaram e se completaram ao contacto de outros povos mais adiantados em civilização. A ideia da sobrevivência e das existências sucessivas da alma, vinda do Egito e da índia, penetrou na Judeia. Os saduceus encrespavam os fariseus de terem assimilado dos orientais a crença nas vidas renascentes da alma. Esse fato é afirmado pelo historiador Josefo (Antig. Jud., I, XVIII). Os essênios e os terapeutas professavam a mesma doutrina. Talvez existisse mesmo, desde essa época na Judeia, como se provou mais tarde, ao lado da doutrina oficial, uma doutrina secreta, mais completa, reservada às inteligências de escol. c (Nota lviii: Padre de Longuevsl, História da igreja galicana
Do mesmo modo que em nossos dias, os seus médiuns, a que eles chamavam profetas, eram como tais reconhecidos em razão de uma faculdade especial (Números
Semelhante à dos médiuns, a lucidez dos profetas era intermitente. "Os mais esclarecidos profetas - diz Le Maistre de Sacy, em seu comentário do livro I dos Reis - nem sempre possuem a faculdade de arroubo na profecia. " (Ver também Isaías
A vida que aí se levava, toda de recolhimento, de meditação e prece, predispunha para as influências espirituais. Certos profetas prediziam o futuro; outros, falando ao povo por inspiração, lhe excitavam o zelo religioso e o exortavam a uma vida moralizada.
As expressões de que se serviam para indicar que se achavam possuídos pelo Espírito fazem lembrar o modo pelo qual esses fenômenos continuam a produzir-se em nossos dias. "O peso, ou o Verbo do Senhor está sobre mim. O Espírito do Senhor entrou em mim. Eu vi, e eis o que diz o Senhor. " Recordemos que, nessa época, toda inspiração era considerada diretamente proveniente da Divindade. "O espírito caiu sobre ele", diz ainda a Escritura a respeito de Sansão, cuja mediunidade tinha o característico da impetuosidade. (Juízes
Passemo-los rapidamente em revista, começando pelos que, tendo primeiro chamado a atenção em nossos dias sobre o mundo invisível, simbolizam, ainda, aos olhos de certos observadores muito superficiais ou pouco iniciados, o fato espírita em si mesmo; queremos falar dos movimentos de objetos sem contacto. A Bíblia (IV Reis
(Êxodo 30II, 15, 16; XXXIV, 28). Todas as circunstâncias em que essas tábuas foram obtidas provam exuberantemente a intervenção do mundo invisível.
Todos os fenômenos luminosos hoje observados têm igualmente seus paralelos na Bíblia, desde a simples irradiação perispirítica notada em Moisés (Êx., XXXIV, 29, 30), e no Cristo (transfiguração), e a produção de luzes (Atos
19) a que se faz ouvir na ocasião do batismo do Cristo (Lucas
As curas magnéticas são inúmeras. Ora a prece e a fé reforçam a ação fluídica, como no caso da filha de Jairo (Lucas
Na Bíblia podem-se ainda notar casos de clarividência, compreendendo, então, como hoje, sonhos, intuições, pressentimentos, formas ou derivados da mediunidade que, em todos os tempos, foram grandemente numerosos e se reproduzem agora às nossas vistas.
Digamos ainda uma palavra da inspiração, esse afluxo de elevados pensamentos que vem do alto e imprime às nossas palavras algo de sobre-humano. Moisés, que apresentava todos os gêneros de mediunidade, profere, em diferentes lugares, cânticos inspirados ao Eterno, como por exemplo, o do capítulo XXXII do Deuteronômio.
Um caso notável, assinalado nas Escrituras, é o de Balaão. Esse mago caldeu cede às reiteradas solicitações do rei de Moab, Balac, e vem dos confins da Mesopotâmia para amaldiçoar os israelitas.
Sob a influência de Jeová é obrigado, repetidas vezes, a elogiar e abençoar esse povo, com decepção cada vez maior de Balac. (Nota clx: "Números" XXII, XXIII, XXIV.) Os homens da Judeia, esses profetas de ânimo impetuoso, experimentaram também os benefícios da inspiração, e graças a esse dom, a esse sopro que anima os seus discursos, é que a antiga Bíblia hebraica deve ter sido muito tempo considerada o produto de uma revelação divina. Pretendeu-se desconhecer as numerosas falhas que nela se patenteiam aos olhos de um observador sem preconceitos, a insuficiência, a puerilidade dos conselhos, ou dos ensinos implorados a Deus (Gên., XXV, 22; I Reis