Cristianismo e Espiritismo

Nota 8



Sobre o sentido atribuído às expressões deuses e demônios Toda a antiguidade admitiu a existência dos deuses, expressão pela qual se designavam os Espíritos puros e elevados, e dos semideuses ou heróis, como pelas palavras demônios ou gênios entendia os Espíritos em geral.

Os cristãos mesmos se serviam dessas designações. Diz S.

Pedro (I Coríntios 8, v. 5, 6): "Porque, ainda que haja alguns que se chamem deuses, ou no céu, ou na terra, não temos, entretanto, senão um único Deus, o Pai, de quem tiveram o ser todas as coisas. " Em seus Comentários sobre S. João (Oiv. II n. 2), diz Orígenes: "O Deus eterno tem direito a maiores homenagens; somente ele tem direito à verdadeira adoração e não os outros deuses que com ele vivem e são seus ministros e subordinados, sendo ele próprio seu Deus e seu criador. " Santo Agostinho diz (De civitate Dei), I, VIII, capítulo XXIV: "Os demônios (maus Espíritos) não podem ser amigos dos deuses cheios de bondade, a que nós chamamos santos anjos. " É no mesmo sentido que S. Justino, em seu Discurso aos gregos, nº 5, assim se exprime: "Cultivando bem a fé, nós podemos nos tornar deuses", e S. Irineu (Contra hocreses, I. IV, capítulo XXXVIII) diz: "Nós ainda não somos mais que homens, mas um dia seremos deuses. " O mesmo S. Justino, Apologética, I, 18 (edição dos Beneditinos de 1742, pág. 54), escreve o seguinte a respeito das manifestações dos mortos: "A necromancia, as evocações das almas humanas... vos demonstrarão que as almas, mesmo depois da morte, são dotadas de sentimento; os que se acham possessos dos espíritos dos mortos são por todos chamados demoníacos e furiosos (et qui ab animabus mortuorum correpti projiciuntur daemoniaci et furiosi ab omnibus appellati). " Eis aqui de que modo, no século XVII, E Fondet, com a aprovação dos mais eminentes doutores eclesiásticos da Sorbona, traduzia, ou antes, desnaturava esta mesma passagem: "... e esses pobres desgraçados, que os espíritos dos mortos agarram, lançam por terra e atormentam, como o sabeis, de muitos modos e que são comumente denominados furiosos, maníacos, e agitados pelos demônios. " É verdade que, em seu prefácio, o citado tradutor havia tido o cuidado de prevenir os leitores de que em S. Justino "se encontra em certos trechos muitas coisas obscuras, particularmente no tocante aos demônios, sobre os quais o autor escreve segundo as opiniões do seu tempo, que não tiveram continuidade na 1greja, e que não fariam agora senão embaraçar os espíritos. Poder-se-ão mesmo notar nessa apologia alguns ligeiros vestígios, que todavia se teve o cuidado de suavizar quanto possível, sem violar a fidelidade da versão (?)" (E Fondet, Segunda Apologia de S.

Justino, pág. 48 e prefácio; Paris, Savreux, 1
670) Indicaremos também Tertuliano, Apologética, capítulo XXIII.