Quando o Mestre dos mestres sentiu a aproximação de graves acontecimentos à Sua vida missionária, começou a falar aos Seus discípulos que iria ao Pai, mas que não os deixaria órfãos, que enviaria outro consolador, para que ficasse eternamente com a humanidade. Dava, sempre que achasse conveniente, outros avisos, preparando os Seus seguidores, para que o fato não os pegasse desprevenidos. Era consciente do que iria acontecer. A mensagem deveria ser de sacrifício, devido ao tamanho espiritual das tribos da Terra. Por enquanto, somente a dor e os sacrifícios têm o poder de despertar nas almas o interesse mais profundo para a vida espiritual, e certamente para o Amor que universaliza os sentimentos.
Depois do drama da cruz, que atingiu toda a família cristã, depois que as nuvens cobriram toda a Palestina, os corações dos seguidores do Nazareno se entristeceram, restando-lhes uma só esperança: a Sua grande promessa de Ressurreição. Esperança esta, fio invisível que ligou os Céus à Terra, que teve e tem o poder de libertar as criaturas, no que concerne à sua felicidade e alegria em todos os momentos. E foi esse fio de luz que alimentou toda a família do Messias, que a ligou pelo coração, fazendo da fé uma segurança para a verdadeira vida.
Jerusalém dormia na indiferença. Os políticos e sacerdotes, os romanos e os fariseus, pertinazes na busca do ouro e posições de mando, regalaram-se e festejaram os acontecimentos que os livrou de um profeta, que poderia impedi-los na profissão do roubo e das matanças, do jogo nos templos que era como que oração, na simplicidade dos povos. Sacrifícios humanos e de animais, permanentemente eram feitos, para agradar a um deus cujo coração no Amor desconheciam a legitimidade.
Mas não foi somente a terra dos profetas que ficou de luto. Pelo comando que reconhecemos ter o Cristo de Deus sobre a Terra, foi toda ela que chorou a expulsão do Divino Amigo, que desceu para andar com os homens lado a lado, e ensiná-los a viver bem, exemplificando toda a bondade. Trouxe-nos o esquema do verdadeiro Amor, e viveu essa virtude singular. Mostrou o valor da fraternidade entre os povos, e os Seus passos junto ás multidões demonstraram a Sua vivência, em clima de amizade. Falou da compaixão das criaturas sofredoras nas Suas bem-aventuranças, e curou milhares delas pela imposição das Suas mãos santas. Disse que voltaria depois do túmulo e voltou quantas vezes foram necessárias. Não Se esqueceu da promessa do Consolador, enviando no momento exato, uma filosofia de vida que explica todos os fenômenos da própria existência, e ainda prova e comprova, tudo o que Ele tinha dito aos Seus discípulos.
A esperança cresceu, o céu se abriu e as almas voltaram dos planos espirituais para viver e conviver com os homens, como é da lei.
Passaram-se quase dois mil anos. A nossa fome de Cristo é muito maior agora, por reconhecermos a Sua presença em nossos corações, em nossas vidas. A Terra geme sob o peso das suas provas, e os espíritos nela estagiados sentem as provações
que provocaram no passado, mas, a piedade do Mestre é imensurável. O Seu amor ultrapassa as razões em conjunto, porque Ele ama até mesmo, e muito mais, aos que desconhecem Seu valor, ante a direção do planeta.
E de nosso dever confiar em Deus e na Sua presença, e abrir os corações para que Ele possa fazer morada no centro de nossas vidas. A mensagem de Jesus Cristo não está somente nos livros que chamais sagrados; ela está viva, vibrando na própria natureza. Quem já abriu os olhos para o entendimento, que entenda; quem já libertou os ouvidos, que ouça, porque o Cristo está conosco sempre...
Já tinha caído a tarde do terceiro dia da Ressurreição. Chegara aos ouvidos dos companheiros do Mestre que o túmulo estava vazio e que Ele desaparecera. E quando alguém lhes disse que fora Maria de Magdala a primeira que teve a visão do Divino Senhor, esfriaram-se os seus corações, por situarem essa mulher como de má vida. A lei não dava oportunidade de a mulher recompor seu mundo íntimo, e não compreendia os motivos da sua liberdade no campo dos sentimentos, na efervescência da carne.
Como explicar esse fenômeno? Como fazê-los entender os conflitos de um coração que procurava o Amor verdadeiro? Somente o Mestre
Entendia e poderia ajudá-la, como o fez na casa de Simão, com certa reverência. Somente Jesus podia compreendê-la, como compreendeu, rasgando o véu do desconhecido e aparecendo pela primeira vez depois da lápide fria, para Maria, a mulher de Magdala.
O ciúme cresceu no meio dos Seus seguidores, porque, pela análise deles, o Mestre deveria ressurgir em primeiro lugar, frente aos Seus amados companheiros das primeiras horas, e não frente a uma mulher que era conhecida como de má vida, nos bastidores da Galiléia. No entanto, Ele já dissera, que o Amor cobre as multidões dos pecados, e que o Amor faz acender o Sol nos corações que amam.
Dois dos companheiros do Mestre, mais afoitos, combinaram entre si e partiram de Jerusalém para Emaús, aldeia próxima à Cidade Santa, da qual distava uns onze quilômetros. Eram Cléopas e Judas Tadeu. Dali, se fosse o caso, poderiam romper para Lida e depois para o porto de Jope, no Mar Mediterrâneo.
Dificilmente os homens se libertam das dúvidas, mesmo os mais nobres na escala evolutiva. Sempre a razão fornece momentos para certas fraquezas, como aconteceu com Pedro negando o Senhor por três vezes, Tomé intentando apalpar as chagas do seu Mestre, Tadeu e Cléopas no caminho que os levavam a Emaús.
Os dois companheiros dialogavam, assim dizendo:
- Cléopas, companheiro, chegando hoje o terceiro dia, o meu coração se encontra aos saltos. Não tenho paz na mente. Passo horas a olhar para o céu, esperando a volta do nosso Mestre, pois entendo que Ele deverá surgir das nuvens, e todos constatarem Sua chegada triunfal. No entanto, hoje é o último dia para que se possa cumprir esta profecia e já se vai a tarde da maior das nossas esperanças.
Toda a família espiritual de Jesus deve estar sofrendo, como nós, a angústia da demora. Se porventura o que Ele falou não se cumprir, se nós não soubemos bem interpretar a Sua fala - pois dizia muitas coisas por parábolas - erramos ao anunciar por todos os ventos, a Sua volta. E agora?
Certamente que vamos pregar o Evangelho de libertação, por onde o destino nos enviar, se as nossas esperanças forem desfeitas. Se não houver ressurreição,
poderemos partir de Jope para outras terras, e lá repetir a quem nos possa ouvir, as palavras do Divino Senhor. Que achas deste ideal? As perseguições em Jerusalém vão ser sem conta; eles têm sede de sangue e fome de carne humana.
Cléopas, cismando, respondeu com ponderação:
- Olha, Tadeu, a nossa amizade é antiga, de muito tempo, e queira Deus que dure para sempre. Conheço a tua disposição como homem de coragem, que não teme tempestades nem o mar; que não teme a política nem os romanos; que és homem de lutas. Mas eu não me sinto disposto para tais empreendimentos como pensas. Falta- me alguma coisa no coração para que eu possa pensar do modo que falas.
Sei que não posso ficar em Jerusalém, onde já fui procurado como se busca um criminoso, porque aliei-me com os irmãos de fé, mas ir para o estrangeiro... Sinto-me aterrorizado, por me faltarem muitas experiências Se Jesus voltasse como anunciou, certificar-me-ia das verdades do espírito e certamente estaria completo para todas as ordens de perseguições travadas contra o Evangelho do Senhor. Não sei. Judas, porque o coração ainda bate dentro do meu peito.
Estou inquieto com a demora da promessa, mas ainda confio; o nosso Mestre nunca falou mentiras, e isso me conforta, no meio do turbilhão de dúvidas que a fraqueza reúne em meus sentimentos. Agora me sinto mais tranqüilo, por estar em tua companhia nesta estrada para Emaús e dentro da natureza, onde Deus pode nos confortar sem a intervenção dos homens.
Andaram mais um pouco em pleno silêncio, quebrado por Tadeu:
- Cléopas, meu amigo, eu também confio e muito, na palavra do Divino Senhor, más vê o que fizeram com Ele. O que aconteceu foi uma covardia. Ele foi um cordeiro subindo o monte do sacrifício, e ainda levando o instrumento da Sua própria morte sem Se queixar, sem blasfemar, sem defender Sua inocência, sem exigir, sem violência...
Despiram-No, no maior dos sarcasmos. Ele Se entregou como vencido, e na idéia dos que disputavam a Sua vida santa, Ele foi um vencido. Olha a fúria dos judeus que tramaram essa falsidade: "os seus acompanhantes devem morrer todos, e morte de cruz!" E ainda o nosso Mestre foi sacrificado entre dois marginais, como sendo um deles.
Surge com isso, em nosso coração, uma revolta. Nós deveríamos pedir justiça, mas, pedir como e a quem? Se abrirmos a boca, seremos lapidados, ainda mais no clima que reina no momento. O mal está organizado e o bem, por fazer. Ele mesmo nos ensinou a não violência, e se o Amor é a força vencedora, o nosso melhor caminho é amar, mesmo a esses carrascos que liquidaram o nosso Guia, mas não facilitando para eles com a nossa presença; fugir quando pudermos, porém, trabalhando em favor do bem, que é força de Deus.
Cléopas, mais animado com as palavras do seu companheiro, retrucou com mais ânimo:
- Tadeu!... Os destinos dos homens de bem são constrangedores. Bem conheces a vida dos profetas. Quantos foram sacrificados em sua própria terra? Jerusalém é pátria que mata seus próprios filhos, quando estes crescem na utilidade comum. O drama do Calvário foi uma afronta à justiça, retrata a falta de consciência dos homens que comandam o povo. Ainda não sei por que Deus permite tamanha barbaridade. Se eles mataram Jesus, um anjo de bondade, o que farão de nós, almas sem rumo,
endividadas com a própria lei? Se não tiveram misericórdia com quem manifestou a Luz de Deus, o que farão dos que seguem essa Luz?
A perseguição de agora em diante vai ser descomunal. Não vai ficar pedra sobre pedra. Tanto nós, assim como nossos familiares, seremos perseguidos, estropiados e apedrejados em praças públicas. Os sacerdotes estão furiosos; eles acham que somos sementes do Satanás!
E acrescentou:
- Há momentos em que a minha consciência me pede para voltar para Jerusalém, e me entregar como sendo também um cordeiro. Se todos fugirem, o que será do Evangelho de Jesus? E os que lá ficaram? A covardia parece que nos acompanha, juntamente com o medo. Onde a nossa confiança? Não foi Ele quem disse: "aquele que perseverar até o fim será salvo"? Covarde é aquele que foge das lutas provocadas pelo Amor, e que deve sustentar o bem da humanidade.
Tadeu, suspirando de apreensão, olhou os horizontes da terra, e desejou que o Sol não se pusesse, antes da alvissareira notícia de que o Cristo ressuscitou. A angústia fez-se presente em sua feição, mas continuou a conversar para distrair seus pensamentos de tristeza, falando compassadamente:
- Cléopas, nós ainda não compreendemos nada sobre a vida. Eu desejaria compreender o que me falta, principalmente nestes momentos de aflição. Não desejo ser aflito, mas onde buscar a serenidade? Onde buscar a solução daquilo que nos faz sofrer?
Todos os caminhos estão fechados, todas as portas se apresentam sem chaves. O próprio ar é interrompido nas minhas narinas, por recusa do coração. Achava eu, que com o poder que Jesus possuía, ninguém tocasse n'Ele principalmente para tirar-Lhe a vida; e tudo aconteceu como Ele anunciara...
Muitos choram, muitos vão morrer de tristeza, muitos ficarão doentes... E qual será o destino do Evangelho, se logo no princípio morrerem seus pregadores?
Sentiu algo de esperança no coração, e lembrou-se fortemente de Jesus quando desejou ensinar os discípulos a orar. E falou ao seu companheiro:
- Meu amigo, me vem à mente que a oração é o fio que pode nos ligar ao Mestre. Não podemos nos esquecer da súplica que Ele nos ensinou com tanto carinho e amor. E, como gratidão à alma tão pura como a d Ele, devemos recordar e também encher os nossos corações daquela paz que somente Ele pode dar. Esqueçamos os fatos e o mundo em que pisamos, e nos entreguemos ao Senhor, repetindo as Suas palavras santas.
E semi-cerrando os olhos, os seguidores de Jesus, mesmo andando, oram assim:
- Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o Teu nome. venha o Teu reino; faça-se a Tua vontade, assim na Terra como no céu. O pão nosso de cada dia, dá-nos. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.
Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
E Judas, com os olhos marejados de lágrimas, acrescentou com palavras entrecortadas de emoção:
- Senhor Jesus! Nosso Mestre de todos os tempos! Não nos deixes cair em novas tentações do medo, da dúvida e da covardia. Abre a nossa mente, para que ela
seja o canal do que possas sentir por nós, e nos guia. Senhor, como fizeste ao pisar no solo frio e indiferente dos detratores da Tua doutrina de Alegria e de Vida.
Compadece-Te de nós, de todos os Teus seguidores, que nos sentimos órfãos, sem teto e sem animo. Nós mesmos, estes dois filhos do Teu coração, estamos acovardados, escapulindo, é o que nos parece, dos deveres, do sacrifício, para que a Tua palavra seja eternizada nos corações que
Sabemos e conhecemos a Tua vontade, mas as fraquezas nos desviam do caminho da honestidade, e nos furtam as sementes que semeaste em nossos corações. Apieda-te de nós, seres frágeis que andam por onde os ventos da ignorância determinam. Contudo, Senhor, faça-se a Tua vontade e não a nossa.
Que o Teu amor, se possível, nos anime e nos acorde para os nossos deveres...
Chorando, os dois discípulos do Mestre incomparável, abraçaram-se na estrada de Emaús, sob os raios fortes do sol em caminho para o poente, selando seus corações para o que desse e viesse. Uma onda de coragem invadiu seus sentimentos, e eles abriram os olhos já com sorrisos nos lábios, dizendo:
Vamos, mas vamos para cumprir os nossos deveres, do modo que nos pedem as nossas consciências!
Nisto, já andando completamente agradecidos, separados um do outro por mais ou menos um metro de distância, sentiram que alguém chegara de mansinho, dizendo:
Eles retribuíram a saudação e continuaram a caminhada, as três personagens. E o companheiro recém-chegado fez menção, como que pedindo licença, para entrar na conversa, e sendo recebido cordialmente pelos dois caminheiros, brandamente interrogou:
- O que é isso que vos preocupa tanto e à medida que caminhais o assunto se estende, atormentando cada vez mais os corações? Não sei se posso entrar no convívio dos dois companheiros, contudo, desejo compartilhar convosco, para que possais saber que tendes mais um companheiro que, andando, pode também ouvir, e ouvindo, pode ajudar para que se acabem as tributações.
Pelo que sinto, e vejo, conhece a Deus e deveis observar Suas leis, e as respeitar no dia-a-dia. Elas mesmas poderão ajudar-vos no serviço da justiça; temer é desconfiar, e quem desconfia é como a folha seca ao vento, que sopra para onde quer que seja.
As ovelhas, quando largam seu rebanho, são mais fáceis de serem atacadas por lobos vorazes, e quando todas reunidas, contam com a força do conjunto e fazem desaparecer os agressores. Mas, na verdade vos digo, que em muitos casos, necessário se faz que elas se dividam para que possam entender a Verdade, pelos sacrifícios que a fé sustenta.
Não deveis vos preocupar com o que tinha de suceder. Quando os acontecimentos estão delineados pela vontade de Deus, estes são lições para o futuro e Verdade que estala para a humanidade toda. Deveis confiar no que já sabeis e prosseguir sem tormentos...
E os dois caminharam com o amigo, já alegres com a nova fala, sem perceberem que estavam andando com o próprio Ressuscitado. E Cléopas, já erguido na sua fé e sustentado na confiança, disse com tranqüilidade:
- És o único que porventura desconhece, tendo estado em Jerusalém, o ocorrido há três dias?
E passaram a explicar todos os acontecimentos. Jesus, sorrindo no meio deles, disse com carinho:
- Filhos!... Não turbeis o coração por causa do cumprimento das escrituras. Não nos enche de esperança, sabendo que tudo se cumpriu, do modo que foi dito pelo Messias?
Estes acontecimentos são pois, os Céus se manifestando na Terra; é a luz espancando as trevas e a Paz anunciando a Esperança; é o Amor vencendo o ódio... Que achais disso tudo?
O silêncio se fez dentre eles. Caiu um véu nos olhos e no entendimento dos dois homens de Deus, que não reconheceram Jesus, que tanto conheciam. Não desconfiaram daquela Presença Divina, e como ela surgiu rapidamente no meio deles. Não atinaram daquele saber nas Suas palavras, no gesto ameno, na cordialidade da Sua conversa... E continuaram a falar sem constrangimento, dizendo Cléopas:
- Porventura estás vindo de Jerusalém, por causa dos acontecimentos também? Ou viajas em procura de algo que desconhecemos? Viajas por prazer de andar, ou objetivas a paz de quem encontras nos caminhos, como nós? Tens uma fala agradável, e nos comove pelo modo como interpretas a vida, e pela tranqüilidade que demonstras ter.
Jesus, manso e sereno de entendimento, fala novamente com doçura:
- Venho de outra Jerusalém, que desconheceis por um pouco. Conheço o porquê dai coisas que temais.
Se quereis vos libertar dos temores, é de bom grado que conheçais a Verdade, que ela vos libertará. O meu desejo é que confieis em Deus sobre todas as coisas e que não vos esqueçais do Guia que vos apascenta desde o princípio. Pensais que o mundo é governado pelo mal, e vos enganais completamente; não existe tal contrário do Amor. As leis do Senhor agem constantemente para a Paz de todos, e a luz do Criador nunca esquece de clarear todos os caminhos das criaturas. Compete a cada um de nós encontrar Deus no coração, e abrir as portas da inteligência, para que Ele governe e Se assente em nossos sentimentos, como Justiça e como Amor.
Fui crucificado entre dois homens fora da lei, e ora ando entre dois que respeitam os mandamentos. Se aqui estou, é por atração e dever de orientar as minhas ovelhas, livrando-as de todo o mal, e fazendo voltar a seus corações a esperança de todas as minhas promessas, de que ninguém
Todo o meu reino me açode quando preciso. São legiões de anjos de Deus que me servem, pela vontade do Criador, para que eu possa restabelecer a paz e o entendimento junto ao meu rebanho.
Se quereis saber, eu sou aquele que haveria de vir, eu sou aquele que deveria ressuscitar dentre os mortos, eu sou Jesus de Nazaré, a quem amais, e em cujas palavras confiastes. Só falo a verdade e sou a Verdade. Conduzo a todos por bom caminho, porque sou o Caminho. Desperto nas minhas ovelhas a vida, porque sou a Vida!... Se procurais tranqüilidade, vinde a mim, que eu sou toda a Esperança, e ficarei com todos até a consumação dos séculos!
Os dois homens de Deus ferveram de emoção. Reconheceram Jesus, já chegando em Emaús. Quiseram beijar-Lhe as vestes, beijar-Lhe: os pés, tocar-Lhe em
sinal de gratidão; entretanto, Ele não consentiu. Foi conversando com os dois, com a ternura conhecida dos Seus discípulos. Entraram em uma residência de família amiga de Cléopas e Tadeu, e quando na mesa, convidados à ceia, ao partir o pão, confirmaram com toda a certeza, de que estavam verdadeiramente falando com o próprio Jesus de Nazaré, filho de Maria.
Muitos se admiram da falta de reconhecimento imediato do Divino Mestre, mas se esquecem da dinâmica do pensamento, da vontade soberana que atua nas mentes menores. Jesus fez-Se conhecido quando estava entrando na aldeia, e, ao partir do pão, caiu o véu das vistas e do entendimento dos dois companheiros de apostolado. O rosto do Mestre começou a fulgurar, as Suas mãos encandeceram; o Seu corpo clareou o ambiente todo, como se o céu tivesse descido naquela simples residência, e o Mestre falou na dimensão que a eles competia escutar, nestes termos:
- Se já não duvidais de que sou o Cristo que vive, se sentíeis na Ressurreição a única esperança para as vossas vidas, vivei, que eu estou aqui!
Alegrai-vos, porque sou o Cristo. Trabalhai, que irai na frente, e não recueis nas provações por que devereis passar por minha causa. Ao serdes injuriados, não façais o mesmo; se apedrejados, perdoai aos ofensores; se maltratados, compreendei os ignorantes; se encarcerados, orai por todos; se a incompreensão vos desunir, nunca vos esqueçais de fazer o bem onde estiverem; mesmo sozinhos. Deus está presente com aqueles de boa vontade, que não esmorecem no apuro dos sentimentos, porque somente reconheço os meus discípulos por muito se amarem - eis a senha da Vida.
O meu maior trabalho é ser um, na companhia de todos, e espero que todos vós me reconheçais como pastor de todo o rebanho que Deus me entregou para pastorear. Nenhuma das minhas ovelhas, que meu Pai me entregou, ficou órfã... Espero que volteis para o rebanho em Jerusalém, e quando a hora soar, deverei dar ordens para vos dividirdes, e muitos dos meus discípulos deverão ser devorados por lobos encarniçados; deverão ser sacrificados como sementes que haverão de nascer, como vidas e mais vidas, para que o Evangelho não fique esquecido. Espero, e isso deve acontecer, que as minhas palavras em Espírito e Verdade cubram o mundo inteiro, e isso deve começar agora, e na verdade vos digo, que já começou.
Eu devo voltar quantas vezes forem necessárias, para que todos me reconheçam, pois falo a verdade; eu estou aqui! Eu sou a vida!
Não deixeis para amanhã o que vos falo, porque eu já estou indo para Jerusalém, ter com os meus discípulos, confirmando o que eu disse antes do drama do Calvário. Multidões de anjos do Senhor me acompanham, esperando a minha vontade, solidificando a fé nas criaturas que se empenharam na divulgação da Boa Nova do Reino de Deus.
Se quereis ser confirmados como meus verdadeiros discípulos, renunciai à vida por minha causa, que é a novamente vos falo, que eu sou a vida!...
Os dois discípulos quiseram perguntar outras coisas, mas Ele desapareceu, como surgiu no meio deles no caminho de Emaús recendendo um perfume no ambiente da casa, que os companheiros do Mestre já conheciam, nutriente das almas e doador de ânimo, na freqüência do amor.
Os dois homens, renovados em Cristo, não esperaram mais nada, e ao clarão da luz que refletia a claridade branda do Sol, se puseram a caminho de Jerusalém, em busca dos outros discípulos que já se encontravam reunidos, pelos anúncios das
mulheres que O viram às margens do túmulo, iluminado como o Sol, pairando no ar, trazendo as mãos cheias de estrelas, recendendo a fragrâncias celestiais.