A sapiência divina se revela nas mais mínimas coisas que se ordenam na Criação, e não poderia ser diferente, pois o poder dinâmico do Universo se dá pelo Espírito, que, na condição de ser inteligente e cocriador, é, ao mesmo tempo, agente fomentador de possibilidades e objeto dessas ações, que nele repercutem vibracionalmente.
Um estudo acurado dos vigorosos símbolos de Caim e Abel nos ajuda a compreender o mecanismo evolutivo aí sintetizado pela sabedoria do Antigo Testamento, e, consequentemente, os padrões representativos em nível moral, de conquistas ou da necessidade delas.
Caim, consoante bem definiu Jesus em texto muito expressivo do Evangelho de João, no capítulo 8, versículo 44, é a corporificação da "serpente", que representa o interesse pessoal, filho dileto do egoísmo. Caim tem vivido em nós, que nos encontramos em expiações e provas na Terra, de modo que, toda vez que permitimos à vaidade e à presunção nos tomar, de assalto ou sub-repticiamente, violando o direito do outro ou utilizando-o sagazmente para auferir vantagens pessoais, repetimos o delito de Caim - por ciúme e inveja, assassinamos moralmente os semelhantes. É mecanismo de fuga do dever, atitude negadora da consciência genuína que, por esse motivo, amaldiçoa a criatura, consoante se observa no próprio caso de Caim, narrado no primeiro livro da Bíblia: "E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra" (Gênesis
Abel, por sua vez, apresenta os "sinais" daquele que já opera muito além da "conquista comum" ou do "reajustamento da terra íntima" (quadros ilustrativos das expiações e provas), pois foi "pastor de ovelhas" e ofereceu a Deus "dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura" (Gênesis
Tomando essas expressões tão ricas dos relatos bíblicos, podemos entender as referências de Paulo acerca das "obras da lei" e das "obras da fé": "Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras?
Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei" (Romanos
Na contramão, identificamos as "obras da fé" como expressão de evolução consciente, em que o conhecimento de ordem superior é aplicado com determinação por aquele que aprendeu a discernir saindo do ramerrão "bem e mal" para separar o "melhor" do "menos bom". Os Espíritos que orientaram Kardec deixaram bem claro que a Doutrina Espírita é meio, é instrumento, que habilita os homens a buscarem o perfeito entendimento da Mensagem cristã, com seu poder libertador.
É exatamente isso que o Apóstolo da Gentilidade expõe na sua vigorosa Epístola aos hebreus: "Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção" (Hebreus
Fé raciocinada é sinônimo de autonomia moral-espiritual. É por esse mecanismo que o Evangelho de Jesus, conhecido e meditado, passa a ser sentido e vivido pelo coração que a ele se converte e torna-se irradiador legítimo dos bens divinos.