As Chaves do Reino

CAPÍTULO 11

O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA - A TUA PALAVRA É A VERDADE



Quando se estuda o que João Evangelista escreve em seu Evangelho sobre o "Verbo", que "era no princípio", que "estava com Deus" e que "era Deus" (JO 1:1), e que "se fez carne, habitando entre nós" (JO 1:14), adentramos o universo das causas, as quais estabelecem toda a dinâmica da evolução no Cosmos.

Ao observarmos o infinitesimal e igualmente o macrocosmo identificamos a mesma onda de vida, embora as formas diferenciadas e mutantes, que se apresentam embaladas por um poder desafiador das inteligências humanas, o qual não apenas sugere o que definimos por "ciência", mas principalmente demonstra uma capacidade harmonizadora e promotora, para muito além da sensibilidade que os homens já desenvolveram. A Criação Divina revela, em tudo, da essência aos processos tangíveis, sabedoria e amor.

O Verbo, que guarda perfeita identidade com o sentido da palavra "Cristo", pode ser compreendido como a irradiação do Criador e Pai pelo Infinito, e se reflete através dos que se purificaram, convertendose em Filhos perfeitos do Altíssimo. Se o termo "Espírito de Verdade" consagrado pela Terceira Revelação, representa a síntese dos "bemaventurados", ou seja, a união de todos os Espíritos que realizaram sua evolução consciente através dos testemunhos depuradores pelas reencarnações, gerando a "unidade", que se dá graças à desativação do interesse pessoal (por isso o seu sentido universalista), o "Verbo que se fez carne" é a positivação da Verdade, então disponível a todos os que se interessem por seus exemplos e testemunhos efetivos, mesmo nas condições mais adversas.

No versículo 17, do capítulo 17 do Evangelho de João, Jesus afirma, ao orar ao Pai pelos discípulos: "Santifica-os na verdade: a tua palavra é a Verdade". E Paulo, escrevendo aos hebreus, assinala: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" (Hebreus 4:12). Encontramos, também, expressiva referência no livro Apocalipse, no capítulo 1, versículo 16: "[... ] e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios". A partir desse cotejamento, fica claro que a dinamização do Verbo Divino, fazendo-se carne, é a Revelação da Verdade (fundamento da Criação, porque manifestação genuína de Deus), e será pelo conhecimento da Verdade que nos libertaremos conforme ensinou Jesus (JO 8:32).

Logrando entender que a Verdade é a vontade de Deus - daí o Espiritismo sintetizar para o mundo atual os princípios e as leis que regem o Universo, resgatando, insofismavelmente, o Evangelho de Jesus de todos os sistemas políticos e de interesse dos homens - podemos analisar, com mais propriedade, a afirmativa do Mestre se dizendo "o Caminho, a Verdade e a Vida" (JO 14:6). Só existe "verdade" (no sentido de palavra, ideia clara, concepção viva) quando o sentimento da criatura absorve o que se lhe revelou por fundamento inarredável da Criação. E se a "verdade" se revela pela clareza e lógica dos fatos, tangendo o plano dos sentimentos, "caminho" é pensamento antecedendo, pela ordem natural das cousas, essa sensibilização, que altera substancialmente a existência de uma alma. Por consequência, "vida" é o domínio perfeito de uma proposta, quando devidamente implementada na intimidade do ser. Jesus é a "verdade" operacional que se dinamizou na relação com os semelhantes.

Quando o Celeste Amigo afirma ser "o Caminho, a Verdade e a Vida" ele expõe a mecânica evolutiva que lhe assegurou a condição de "guia e modelo" da humanidade. Ele sintetiza, na pureza de seu Espírito livre das influências da matéria, tudo aquilo que nos aguarda no tempo através das reencarnações.

Lutamos na Terra para desativar os condicionamentos instaurados pelo "ego" - esse legítimo gerenciador de nossos primeiros passos nos terrenos da evolução. Com esse feito, abre-se a mente para as propostas mais substanciosas e abrangentes da Criação. Em princípio isso nos custa suor e, muitas vezes, lágrimas, pois, em fases como a que caracteriza a vida na Terra atualmente, entre expiações e provas as criaturas desejam, mas faltam-lhes força e convicção para a subida ou então experimentam a "morte moral", em tantos episódios de indiferença e violência, para, só mais tarde, em sublime ressurreição conhecerem-se renovadas e benditas.

O conteúdo doutrinário espírita reafirma a Boa-nova, que é a Verdade - essa "espada" que promove o verdadeiro autoconhecimento apresentando a peculiaridade de ter "dois fios", porque tange o princípio universal mais abstrato, que geralmente abordamos filosoficamente como Deus, como Amor, e, ao mesmo tempo, a operacionalidade, que é a conversão dessa percepção filosófica em "pão", em "caridade".