A caminhada evolutiva nos capacita à expansão de potenciais anímicos.
Cada reencarnação é estágio de experimentação de nossas potências obedecendo a uma cadência crescente de possibilidades. A mente, que se revela acanhada e sem muitos recursos de autossustentação nas fases primitivas do ser humano, carece do apoio dos grupos étnicos, da vida gregária, a partir do que há repetência de processos mantenedores da sobrevivência, até que o automatismo responda pelo fluxo seguro dessas operações. Avançando, graças à capacidade de abstrair essa mente, que já associa dados, informações e que logra projetar arquitetar, inferir, converte-se em manancial de possibilidades, pelo poder de raciocínio, de imaginação, de criatividade, de interpretação de acontecimentos os mais diversos.
Quando, na apreciação da história do assassinato de Abel por Caim analisamos sua confissão, ao dizer que "é maior a minha maldade que a que possa ser perdoada" (
Gênesis 4:13), notamos que isso revela o plano de despertamento moral relativo do infeliz filho de Eva, dentro de uma linha lógica, pois ele é capaz de deduzir: "Eis que hoje me lanças da face da terra [desencarnação], e da tua face me esconderei [previsão de seu retorno à vida física, com o esquecimento do passado]; e serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar me matará
[revela clara percepção de que reencarnará em condição expiatória, pois carrega em aberto um delito a ser acertado]" (Gênesis 4:14).
Mas, se a Justiça regula tudo na Criação, a Misericórdia se lhe associa para promoção das consciências nas linhas do amor, e, por isso, Deus (os Espíritos que nos governam sob a tutela do Cristo) ensina: "[... ] qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse" (Gênesis 4:15).
Aí está a revelação primeira que considera o ciclo setenário como símbolo da trajetória formatadora de padrões de natureza moral.
Remontando, novamente, aos sete dias da Criação (Gênesis 2:1-3) podemos adiantar que, para nos depurar de contaminações e delitos cometidos à luz do conhecimento já adquirido (Caim representa aquela serpente que tentou Eva, figura de linguagem para significar o "gênio do mal", que pode ser o obsessor ou o "vício", que escraviza e desvia da rota o coração em luta evolutiva), a criatura em culpa, em remorso, necessita atravessar etapas de resistência e autocontrole, até a automatização de novo padrão de comportamento. Daí os sete dias (ciclos evolutivos) estabelecerem a criação do mundo, que pode ser o "Filho do homem", renovado e voltado para o bem.
Observe-se, porém, que, após Caim receber a oportunidade de "renascer" na terra de Node, casar-se e devolver a vida a seu irmão, agora na posição de seu filho, o elemento chamado "Enoque" (Gênesis 4:16-17) outros ciclos reencarnatórios têm ocasião, dentro daquela genealogia e o mesmo Caim assume, no tempo, a personalidade de Lameque, que por sua vez, confessa a suas mulheres: "[... ] eu matei um varão por me ferir, e um mancebo por me pisar". Ou seja, repetiu o delito de tirar a vida de seu semelhante. É então que observamos a revelação clara dos mecanismos evolutivos, os quais tornam-se complexos, multiplicando os desafios de depuração da individualidade, que se complica em vícios de comportamento, fugindo à Lei de Deus: "Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque setenta vezes sete" (Gênesis 4:23-24). No Evangelho de Mateus, no capítulo 18, versículo 22, Jesus, que, a seu tempo, lidava com uma humanidade já avançada em percepções se comparada com a época de Caim, usufruindo de relativo livrearbítrio e já assentada há muitos séculos sobre bases religiosas (a Lei e os profetas), responde a Pedro sobre quantas vezes deveria ele perdoar as faltas de seu irmão: "Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete". Em verdade, a capacitação moral e de consciência de um ser impõe aberturas cada vez mais abrangentes, de modo que os testemunhos vão sendo exigidos pelos mecanismos da vida, em padrões sempre mais amplos e de maior poder irradiador. Se um delito comum, para um Espírito simples, em aprendizado, é punido "com poucos açoites" (LC 12:47-48), o "servo que soube a vontade do seu senhor" (consciência da Lei), e "fez coisas dignas de açoites" (culpas e remorsos), "será castigado com muitos açoites" (não mais sete vezes, mas setenta vezes sete - MT 24:51).
E como Deus, que "é amor" (1 JO 4:8), nunca se sente agredido e, por isso, não necessita perdoar, a "Parábola do filho pródigo" ao retratar o retorno do filho esbanjador à casa de seu pai, define com sublime beleza esse nosso processo de deserção e ajustes: "[... ] pequei contra o céu e perante ti" (LC 15:21). Ou seja, o delito se dá por fugirmos à consciência (o "céu" interno), e sempre na presença de Deus ("perante ti").