As Chaves do Reino

CAPÍTULO 15

ORDENADO MORREREM UMA VEZ - A RESSURREIÇÃO E A VIDA



Alguns textos, com o seu grande alcance filosófico, a revelarem conhecimento profundo das Leis Divinas, aguardaram a maturidade dos corações para efetivamente mostrarem as mais belas e sábias equações da Criação, mas, principalmente, contaram, e ainda contam com o poder renovador do tempo, em cujas malhas benfeitoras as almas se qualificam, demonstrando habilidades e aberturas de entendimento para a proveitosa fixação dos valores eternos.

Para muito além das teologias humanas em termos religiosos, vigem as Verdades inapagáveis do Pai, e não poderia ser diferente, se consideramos a dualidade "espírito-matéria" por condição primeira de preparação das faculdades intrínsecas dos seres. Conceitos se refundem de ciclo a ciclo, e as reencarnações funcionam com muita precisão e dinamismo para efetivarem esse "despertamento", essa "sublimação" de potenciais.

O assunto "morte" nos textos dos Evangelhos guarda uma conotação toda especial, embora possa ser reconhecido, sem dificuldades, como o processo de esgotamento da vida orgânica, com o fim da existência física daquela personalidade. No entanto, já visitados por vigorosas "chaves" do conhecimento de natureza superior e universal - bênção que temos colhido nas estruturas doutrinárias do Consolador –, podemos e devemos, a título de esforço pelo próprio crescimento íntimo, realizar aquele "cotejamento" espiritual nos documentos evangélicos disponíveis na Boa-nova.

Identificando palavras-chaves e interpretando-as no "contexto" em que são apresentadas, chegamos a substanciosas conclusões, a inspiradoras propostas - então desvestidas dessas capas rígidas e incongruentes que geralmente as religiões tradicionalistas e interesseiras definem para formação de rebanhos. O termo "morte", por exemplo, guarda significação muito abrangente, de modo que, a partir do conhecimento da reencarnação, logramos adentrá-la em seu âmago, com ganhos expressivos no plano de nosso entendimento da vida cósmica, regida por Leis perfeitíssimas.

As encarnações, ou seja, tomar um corpo físico e submeter-se ao "esquecimento do passado", representam uma espécie de "morte" para o Espírito, se consideramos que a geratriz da vida e todo o seu apogeu se encontram no mundo espiritual. Não há dúvida de que o "berço" da evolução, do dinamismo do progresso, é o plano físico mas ele restringe o poder já revelado do Espírito. Então a "morte" tem uma conotação muito expressiva, porque fixadora dos valores tidos pelo ser em plano de ideal, de projeto: "Insensato! O que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer" (I Coríntios 15:36). O que efetivamente ocorre na reencarnação é que, a partir do cerceamento da memória do Espírito, ele é forçado, com esse "esquecimento", a agir sob o impacto de sentimentos renovados e não mais pela razão sistematizada ou programada por ele, mesmo ante a liberdade que tinha no Além. Ou seja, sua incursão na carne, esse "escuro da morte" define a disposição de operar, de deixar a simples projeção de "fazer" pela realidade da produção de frutos, de obras.

Sendo criado simples e ignorante, o Espírito necessita dessa fieira de existências físicas para desenvolver, para revelar suas potencialidades dormentes, e pode, em muitas circunstâncias, se perder, complicandose moralmente: "E eu, nalgum tempo, vivia sem lei [conhecimento] mas, vindo o mandamento [ditames da consciência], reviveu o pecado [transgressão da Lei, pelo comportamento contrário ao que ela ensina], e eu morri [morte moral, interna]" (Romanos 7:9). Na Epístola universal de Tiago, encontramos perfeita descrição desse processo de morte (expiação, queda moral): "Mas cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:14-15). Lembremo-nos de que o pecado é resultante da regência da Lei, que vige na consciência como registrado por Allan Kardec em O livro dos Espíritos.

Quando Paulo, na Epístola aos hebreus, escreve que, "[... ] como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Hebreus 9:27), com precisão explica que, após cometer erros e colher o fruto maldito de suas escolhas infelizes, a consciência se desperta (juízo), e o aprendizado moral permanece como aquisição imortal do ser. Essa é a dinâmica da iluminação consciencial pelas vidas sucessivas, quando transformamos a "alma vivente" (o primeiro Adão, homem vinculado aos processos da Lei, nas reencarnações) em "espírito vivificante" (evolução consciente, fé raciocinada, proposta do Evangelho - I Coríntios 15:45).

Compreendendo que a evolução prossegue para além das tramas dolorosas da condição "expiações e provas", que vive o planeta Terra alcançamos uma clara visão do que significa a vinda de Jesus ao orbe para nos ensinar a transformar "movimento comum de existência" em "trabalho digno, santificador de nossas potências": "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (JO 11:25). Sendo o Cristo o dinamizador do Amor do Pai, fazer Sua vontade é dar do próprio esforço, o próprio "sangue" para encontrar os méritos e a própria redenção (Romanos 5:17-21).

É assim que atingiremos nossa plenitude, vencendo o mundo, como Jesus advertiu, conquistando o Reino por dentro da alma: "Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus sendo filhos da ressurreição" (LC 20:36).