As Chaves do Reino

CAPÍTULO 22

A FIGUEIRA BRAVA E O ZAMBUJEIRO - OS RAMOS DA OLIVEIRA



Na sua pregação vigorosa e eivada de símbolos, Paulo de Tarso, judeu convertido ao Evangelho, demonstra sua cultura universal dos temas evolutivos, que fazem da Terra um palco de experiências múltiplas e intensas, para gáudio de todos os seres - os simples ou os assinalados por compromissos cármicos, oriundos de outros domínios do Universo.

É através da análise dessas verdades, expostas não somente por Jesus, mas por seus legítimos seguidores, que podemos compreender a genuinidade da Revelação Espírita, em seu escopo de desfraldar a Verdade e resgatar a Mensagem cristã em sua essencialidade, para os novos tempos do globo.

A "Pluralidade dos mundos habitados", como um dos Princípios espíritas e vinculada ao que o Mestre salientou para os discípulos ao dizer que "na casa de meu Pai há muitas moradas" (JO 14:2) ganha dinâmica e racionalidade lógica quando se concebe a Lei de Solidariedade, que reúne os mundos da Amplidão, como se formassem uma só família diante do poder de Deus. A abordagem doutrinária do Espiritismo sobre a raça adâmica, ou seja, os degredados de Capela auxilia-nos a interpretar termos e definições próprios do Evangelho tanto quanto enseja-nos deduções extraordinárias a respeito do movimento da Lei sobre os destinos, marcando ciclos de progresso e evolução em aspectos intelecto-morais, nas várias fases civilizatórias da Terra.

A tão decantada "queda" dos anjos, geralmente interpretada pelo misticismo com as tintas do fecundo imaginário humano, está tão bem delineada pelos textos da Boa-nova, que se nos torna um prazeroso trabalho de aculturamento e iluminação o seu estudo, com o cotejamento desses Princípios revelados aos homens pelos Espíritos superiores.

Desde o primeiro livro da Bíblia, identificamos a figueira como símbolo da Lei de Justiça, que opera pelas reencarnações o cumprimento dos códigos da vida, através do "a cada um segundo as suas obras" (Romanos 2:6). Em Gênesis 3:7, Adão e Eva, então "de olhos abertos" ou seja, cientes de seu delito contra as determinações da consciência já desperta, lançam mão do produto da figueira - suas folhas, que são cosidas e passam a servir de aventais –, com o que cobrem suas vergonhas. Vamos observar, então, o símbolo da figueira, como base do entendimento moral das almas, que se preparam aí, no ambiente "rude" da Lei de Justiça - "[... ] vida por vida, olho por olho, dente por dente" (Deuteronômio 19:21; MT 5:38) –, para a emancipação espiritual de maior vulto, no Evangelho, que é simbolizado pela oliveira.

Zaqueu, de pouca estatura e ciente de que Jesus passaria pela região onde estava, subiu em um sicômoro, que é a figueira brava, imagem da Lei de Justiça, intentando vê-lo: "E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali" (LC 19:4).

Essa imagem da figueira brava é semelhante à do zambujeiro, pois são arbustos que não produzem frutos - sendo que o zambujeiro é a oliveira brava –, e ambas são utilizadas pelos mestres da sabedoria espiritual na Bíblia, para codificação do que é imortal, moral, espiritual, como as parábolas de Jesus encerrando em histórias simples os conteúdos cósmicos da Criação. Em bom entendimento da passagem de Zaqueu que era um publicano, ao "subir a uma figueira brava", ele se vale da Lei, que conhece e estuda, para "ver" Jesus - o futuro que o aguarda a excelência das conquistas evolutivas, a perfeita identidade com o Amor de Deus.

Aprofundando o sentido espiritual desses símbolos, encontraremos para nossa edificação moral, textos como o de Provérbios 27:18, que ensina: "O que guarda a figueira comerá do seu fruto; e o que vela pelo seu senhor será honrado". Temos aí uma síntese do que acabamos de considerar, isto é, quem cumpre a Lei, se alimenta dela, nos limites em que se mantém. Mas quem busca a "causa" de tudo no Universo, ou seja, Deus, torna-se honrado (o primeiro é servo, o segundo é filho).

Foi o que aconteceu com Caim e Abel (Gênesis 4:2-5), pois, enquanto um se esfalfava no cumprimento da Lei (Caim), trabalhando a terra "íntima", preparando-se para a emancipação espiritual (expiações e provas), o outro agradava ao Senhor (Abel), na condição de pastor oferecendo da abundância de seu esforço (fruto do amor - caridade).

Em sua Epístola aos romanos, Paulo revela domínio pleno desse mecanismo da Lei, que ajusta e promove todos os seres, pela interdependência universal. Ensinando o Evangelho Divino aos "gentios" (termo que significa os povos pagãos, sem iniciação espiritual como ocorrera aos judeus), argumenta sobre a "misericórdia" do Senhor ao operar a denominada "enxertia", ou seja, trazer para a Terra um contingente de Espíritos (os capelinos, a raça adâmica) que, embora na condição de "caídos" (não conseguiram abandonar no mundo de origem, bem mais evoluído do que o nosso, os vícios do egoísmo e do orgulho, que os tornaram incapazes de avançar moralmente com a maioria daquele orbe, donde partiram para o seu degredo aqui na Terra), traziam ciência, arte, filosofia, política, religião etc. : "Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado" (Romanos 11:22).

Temos, nesses textos paulinos, uma substanciosa aula de justiça e misericórdia, pois o autor, em feliz raciocínio, demonstra que, pela "enxertia" do melhor (capelino) no menos bom (gentio, autóctone, o primitivo da Terra), aquele alcança o plano das "expiações" necessárias ao seu resgate, e é o primitivo que o recebe no ambiente rude do planeta como "filho". No entanto, com a "queda" do degredado, mais preparado e mais experiente, o gentio (o "zambujeiro", a "oliveira brava") "psiquicamente" é enxertado na "oliveira", nos capelinos, que já tinham a mente descortinada para valores da vida muito mais alta e expressiva, em relação ao que a Terra detinha para os seus habitantes naquele momento: "E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti" (Romanos 11:17-18).

Por esses movimentos solidários, que ajustam e reajustam almas em processo evolutivo, identificamos a harmonia da Lei Divina. A Terra deve muito aos que "caíram" de Capela, pois impregnaram o planeta de uma cultura que beneficia os "gentios", e, com sua capacitação ao retorno ao seu mundo de origem, permanecemos com os ganhos intelecto-morais de seu estágio entre nós, numa obra digna do Criador e Pai: "E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!" (Romanos 11:12).