As Chaves do Reino

CAPÍTULO 26

A ÁRVORE DA VIDA - A ÁRVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL - A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO



Viver representa uma complexa conjugação de valores, e não há vida sem essa dinâmica que a Criação estampa, do mais ínfimo elemento da Natureza aos apogeus estelares. Nos símbolos utilizados para figurar o processo da Criação, no livro Gênesis, da Bíblia, encontramos a árvore por expressão de nossa nutrição: "E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal" (Gênesis 2:9). É tão fecunda a imagem, que por ela, filosoficamente, podemos identificar tudo o que nos supre, para o fenômeno do progresso, da evolução.

O Espírito, mesmo encarnado, gravita em torno de assuntos que lhe interessam, que o atraem - esse o mecanismo de seu desabrochar e de sua capacitação, para novos e mais altos horizontes. "Árvore agradável à vista, e boa para comida" é toda e qualquer circunstância que estimule o ser, instigando-lhe os desejos, a vontade. É por esse processo que nos sentimos atraídos por alguém, vinculando-nos para realizações específicas, como a troca afetiva, a reprodução, os projetos sociais econômicos, culturais, religiosos. No estudo doutrinário espírita, vamos compreender que a matéria organizada exerce fascínio sobre a alma, instigando-lhe as ambições, fomentando-lhe estados de curiosidade de interesse, de poder, de acordo com os talentos e habilidades já desenvolvidos ou em desenvolvimento. Esse roteiro de interação é o que interessa ao progresso, pois, pelo exercício de suas faculdades - muitas até desconhecidas e então reveladas pelas circunstâncias que "tentam" a criatura - é que ela alcança ciência das coisas, conhecimento de si mesma e domínio sobre tudo. É o que determina o Apocalipse, ao falar da "árvore da vida": "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus" (Apocalipse 2:7).

Se a "árvore da vida" está bem delineada, como sendo a que produz frutos de eternidade, porque é a linha do amor, em que o indivíduo desenvolve a capacidade de jornadear e administrar o destino, sem aquelas ocorrências que ferem, que o lançam ao remorso, à culpa, que o fazem descer de nível, a "árvore da ciência do bem e do mal" expressa "reincidência", "queda", "erro", "vício", daí a advertência de Deus para que Adão e Eva não "comessem" de seu fruto. Essa árvore refere-se ao domínio da Lei de Causa e Efeito, quando a criatura, por deliberação pessoal - pois já tem condições de avançar no melhor –, teima e desobedece aos ditames da própria consciência já desperta, e volta aos padrões inferiores, comprometendo-se moralmente. Aí está o motivo da "maldição" lançada por Deus (a consciência) sobre Eva e Adão, na simbologia do Antigo Testamento. Paulo dá uma substanciosa aula sobre o tema, quando assinala com sua cultura incomum: "Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano [referência ao derramamento do sangue de animais no Templo, para purificação], pode aperfeiçoar os que a eles se chegam" (Hebreus 10:1). Ou seja, não adianta transferir realizações, protelar oportunidades, delegar deveres, cultuar ilusões, pois a "árvore da vida" é o amor em sua dimensão universal, exemplificado por Jesus: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" (JO 1:4). Então, aquele que elege a "árvore da ciência do bem e do mal" por vício de comportamento, por saudosismo e apego a situações que já não o atendem e tornam-se prejudiciais para ele e para seus semelhantes fica impedido de encontrar a "árvore da vida". Na análise dessa transposição de nível mental, sentimental, psicológico, espiritual para usufruto da vida sem as peias e as tormentas, tão comuns aos culpados, aos delituosos, aos falsários, aos levianos e inconsequentes - pois ninguém foge do "juízo" (ação da Lei de Causa e Efeito) –, temos de levar em conta que o Criador não exige de nós santidade da qual estamos longe, não nos pede conversão instantânea ao padrão dos santificados. O que a "árvore da vida" nos proporciona é a tranquilidade relativa de consciência, que nos permite sorrir, prosseguir, edificar permutar valores, em legítimo usufruto das riquezas que existem em cada etapa de trabalho evolutivo, mesmo na condição de reencarnado quando o Espírito fica praticamente bloqueado em suas prerrogativas intrínsecas.

No episódio da "Purificação do Templo" (para Jesus, o "templo" é o corpo em que o Espírito habita - JO 2:19-21), encontramos a expulsão dos animais e dos cambiadores, operada por Jesus, e isso, em nosso plano íntimo, na esfera mental (pois o nosso pensamento tem sido a geratriz de acontecimentos dramáticos para nossa caminhada) representará a "desativação" dos negócios escusos, dos vícios que nos tornam indignos diante de Deus. Quantas vezes nos "vendemos" vergonhosamente? Em quantas ocasiões falseamos nossos valores, a propósito de migalhas, abrindo mão da própria integridade moral? Por que usamos a violência, transferindo para os outros, então sacrificados por nossos caprichos, as responsabilidades que são nossas? Uma vez que já temos o nosso Espírito esclarecido graças aos valores que amealhamos nos terrenos da aprendizagem, das experiências somadas, a fala de Jesus aos que vendiam pombos no Templo ("Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda" - JO 2:16) torna-se uma advertência ao nosso coração, como a dizer: "chega disso", "não alimente esse tipo de coisa", "mude enquanto é tempo"!

Se não há melhoria, elevação espontânea, mudança de nível mental e comportamental, terminamos por invocar a Lei de Causa e Efeito naquele sentido negativo: "Concilia-te depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão" (MT 5:25).