As Chaves do Reino

CAPÍTULO 27

COISAS SANTAS AOS CÃES - PÉROLAS AOS PORCOS - ZAMBUJEIRO E OLIVEIRA



Quanto mais empenho no cotejamento das informações espirituais disponíveis nas revelações de Deus aos homens, tanto mais afinidade no trato das questões morais, que interessam à dinâmica da vida mental do indivíduo, em bases universais de verdade e amor.

Enquanto catedráticos e dogmatistas brigam com textos e permitem que sua presunção oblitere seus canais intuitivos e de comunicação efetiva com os documentos sagrados, num atestado vivo de vaidade e orgulho, os "simples de coração", desataviados da ideia de poder e de domínio num mundo tão ilusório como a Terra, logram o levantamento de dados que iluminam seu íntimo, porque libertam a criatura das amarras impostas pelos sistemas reducionistas e pelas escolas fechadas de intelectualismo exacerbado: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos" (MT 11:25).

A clareza da Doutrina dos Espíritos, desde a apresentação dos temas que constituem seus fundamentos vivos até a linguagem dessa exposição, sob a custódia do ínclito Allan Kardec, o organizador da obra dos Espíritos superiores, nos permite trabalhar com harmonia e leveza as imagens figuradas e a explanação eivada de símbolos da Bíblia, estabelecendo vigorosa conexão entre as Três Revelações que se integram com suprema beleza e proveito para os corações. É impressionante como o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, de Moisés encontra ressonância com a última obra do Pentateuco Kardequiano o livro A gênese, que se aplica a estudar cientificamente os símbolos daquele primeiro livro revelador. E toda a obra espírita se compromete com a retaguarda, porque "Verdade" é chave libertadora e, munido dela, tudo torna-se inteligível e sensato, mesmo sob o manto da letra forte e simbológica dos antigos.

É por efeito desse entendimento rico e promissor que vamos vincular por exemplo, os "cães" com o "zambujeiro", e os "porcos" com a "oliveira". Para apreensão do significado profundo desses termos, o conhecimento do processo evolutivo que determinou o nosso hoje no planeta torna-se indispensável. Não somente de Capela, como já explicamos, a Terra recebeu contingente espiritual. Temos a revelação da raça adâmica, que representa um grande grupo de seres oriundos daquele orbe distante, os quais vieram resgatar seus desvios no nosso mundo, enquanto estimulavam os primitivos daqui - os autóctones ou aborígines - a conhecerem outros horizontes de realização, na base dos movimentos morais e éticos que até então desconheciam, por tacanhez mental. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, vemos habitantes que vêm de todo o Brasil e até do exterior, formando ali uma cultura multiforme e por isso dinâmica, já que se influenciam mutuamente. Assim também ocorre com um orbe, que recebe seres de diversos mundos, para os trabalhos evolutivos de abertura mental, de expiações e provas, de fixação de caracteres, em testemunhos repetidos e de missões. "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; não aconteça que as pisem com os pés, e, voltando-se vos despedacem" (MT 7:6). Quando lemos no Evangelho esta orientação do Mestre, necessitamos considerar que Jesus adverte os que já estão buscando a luz de Seus ensinamentos divinos, e a Sua recomendação diz respeito à vigilância necessária ao cultivo da "árvore da vida" na intimidade da alma, porque o mundo terreno abriga tendências as mais variadas, e elas podem colocar em risco a "sobrevivência" dos ideais e dos bons intentos do indivíduo em preparação espiritual. É claro que as violências externas, as propostas viciosas e de desvios morais só podem encontrar guarida, acolhida causando danos ou impactos, naqueles que ainda não se firmaram em patamares mais elevados, apresentando-se frágeis, débeis e passíveis de queda: "Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo" (MC 13:33). Por isso, a ocupação útil e edificante, ou seja, o serviço espontâneo e ativo em favor do próximo, é o segredo do êxito porque gera o mérito que estrutura o "Filho do homem", a renovação em bases de luz e amor: "E o que estiver no campo não volte atrás, para tomar o seu vestido" (MC 13:16).

Quando se refere a Seu compromisso com "as ovelhas perdidas da casa de Israel", o Senhor assinala Seu dever, de modo prioritário, para com os que vieram de outros orbes da Imensidão, pois é da lógica que os mais despertos mentalmente, acolhidos aqui sob Sua tutela amorosa e sábia, tivessem um atendimento compatível com seu nível intelecto-moral. Esses simbolizam a "oliveira", pela fecundidade de seus conhecimentos e experiências trazidos de um mundo mais evoluído do que o nosso. O Mestre lhes prometera assistência, para que não se perdessem e pudessem expiar suas faltas e, com isso merecessem retornar ao seu mundo de origem. Desse grupamento surgiram então os "porcos", aos quais não se devem dar "pérolas".

Compreendemos assim que, aos viciosos empedernidos - os quais na Terra constituem os líderes perversos, os habilidosos "senhores das trevas", que enaltecem a matéria acima do espírito, e tudo fazem para enganar e perverter, como meio de manter seu reino de ilusões, com a escravização dos mais simples –, não se devem confiar os tesouros laborados com sacrifício e suor, pois ainda são impermeáveis às tentativas mais frágeis de socorrê-los. Eles estão figurados no Antigo Testamento como a "serpente", a qual tentou Eva, e, no Apocalipse como o "dragão". Em essência, são mesmo indispensáveis à dinâmica de nosso planeta, pois aqui a "treva" ainda é necessária, para expiação e aferição de valores das almas: "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (MT 18:7). Se os "porcos" são esse instrumento de "escândalo", no plano externo da vida planetária como também por dentro de nós, naqueles vícios e posturas que não se coadunam com a Verdade Divina, os "cães" ou "cachorrinhos" são os simples, também figurados como gentios ou "zambujeiro" (a "oliveira brava", que ainda não produz fruto).

No episódio da "Mulher cananeia" (MT 15:21-28), Jesus exalta a sua fé raciocinada, e aprendemos sobre a ordem do processo evolutivo na argumentação dela: "E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores" (MT 15:27).

Vamos encontrar os Espíritos que dão ensejo à figura dos "porcos" (endurecidos) nas referências impactantes das obsessões, como a do "endemoninhado" gadareno (MC 5:1-20), quando, em legião dizem ao Cristo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?

Conjuro-te por Deus que não me atormentes".

Ciente de que seria o exercício do amor fraterno e caridoso o caminho de redenção dos "caídos" ("as ovelhas perdidas da casa de Israel" - capelinos e os demais, que vieram de outros mundos), Paulo de Tarso escreve, dando seu testemunho pessoal: "Porque convosco falo gentios [os "cachorrinhos", "zambujeiro"], que, enquanto for apóstolo dos gentios [instrutor, orientador deles], glorificarei o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne ["oliveira", os caídos, os "porcos"] e salvar alguns deles" (Romanos 11:13-14). O grande apóstolo, que resgatou o Evangelho do exclusivo domínio judeu, para que o mundo o conhecesse livre e puro compreendeu com Jesus que seu apostolado redentor deveria se dar com os simples, com os que necessitam do alimento espiritual para sua boa formação, obviamente em adequação: "Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento" (Hebreus 5:12). Pois, com esse testemunho, ele mostraria aos seus irmãos caídos (judeus, capelinos) o caminho da libertação efetiva: "Fora da caridade não há salvação".