As Chaves do Reino

CAPÍTULO 28

OS QUERUBINS E A ESPADA INFLAMADA - O SINÉDRIO E OS AÇOITES NAS SINAGOGAS



O reconhecimento da presença de Deus no Universo é fenômeno consciencial, o que implica responsabilidade e tem o efeito de tornar inteligente e harmônico o movimento intrínseco de vida do Espírito que avança da condição "simples e ignorante" para a plenitude de suas potências herdadas de seu Criador e Pai. Induzido pelas necessidades de sobrevivência a se movimentar no meio em que surge, é por esse apelo instintivo de vida e de conhecimento das cousas que a criatura passa a comungar as forças mais diversificadas da Criação, entrosadas num dinamismo sem fim e admirável, para sua ilustração íntima. É por essa mecânica promotora, que vige no Cosmos, que o campo mental do ser se desenvolve e alcança níveis de percepção e realização que vão ao infinito, uma vez que a mente é "o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar", como ensinado pelo Espírito Emmanuel, através do médium Francisco Cândido Xavier, no livro Pensamento e vida.

Se o estudo do Universo, a partir dos domínios infinitesimais na intimidade atômica, fascina e ilustra, formando a nossa cultura de mundo, então vigente na Terra, a aplicação desses mecanismos de conhecimento para desbravar as potências da alma, do mundo interno, representam o domínio das "chaves", que acessam o infinito da vida, na sua essencialidade. É o que propõe o grande Sócrates e igualmente a sabedoria imanente da Revelação Espírita, para justa compreensão do Evangelho de Jesus, que é a vida eterna permeando nossas necessidades evolutivas, como se fora o Espírito perfeito a nos resgatar dos escombros personalistas e estreitos, em que mourejamos por vontade própria. Alcançamos, na atualidade, o que denominamos de "nivelamento moral médio", e esse fenômeno da evolução conjunta define a transição no planeta e impõe metas globais além das individuais, que correm por conta dos mais preparados espiritualmente, a quem "muito mais se lhe pedirá" (LC 12:48).

Os conflitos dominantes noticiam, por efeito da crise moral, a fecundidade do terreno psíquico da Terra. Estão em minoria no orbe os grupos simples e ignorantes, pois uma grande parte já alcança a "maioridade", daí as lutas acerbas e intensas, que atingem todos os domínios do globo.

Tomando o significado das estruturas de regência político-religiosa da antiga Palestina, vamos identificar o Sinédrio (tribunal da raça onde os príncipes dos sacerdotes judeus deliberavam sobre a vida e a morte de seu povo) e as Sinagogas (lugar onde se celebravam as grandes cerimônias de culto, assembleia, congregação) como instâncias presentes no campo psíquico das individualidades. Através das meditações em torno da sabedoria que nos é revelada pelo Alto terminamos por concluir que o que existe fora, no campo externo da existência, é o que existe dentro de nós, funcionando sempre por "exteriorização" de nossos valores em desenvolvimento. Por isso nossas organizações e nossas leis são mutantes e imperfeitas, pois seguem nossos padrões ainda deficitários de interpretação das forças que nos governam - estas últimas em perfeita harmonia, porque emanações de Deus. "Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas" (MT 10:17). Desta forma nos advertindo, em Seu Evangelho, Jesus utiliza, didaticamente as referências sociais dominantes para ordenação das relações interpessoais, e nos ensina sobre o que se passa no plano de nossa intimidade, a partir da consciência adquirida por cada qual. Devemos nos lembrar de que, antes de Jesus, Moisés e os profetas implantaram as noções de Justiça, e a chegada do Evangelho propõe a sublimação dos conceitos laborados por quem antecedeu o Mestre por excelência: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar mas cumprir" (MT 5:17).

No livro que fala das origens do Universo (entendamos aqui a relatividade da revelação, pois, no grande Universo Divino, existem os muitos universos, relativos à evolução específica de grupos de Espíritos, com tarefas de despertamento, de expansão ou de sublimação de potenciais), encontraremos os fundamentos do que Jesus quis estabelecer, tomando as instituições de justiça dos judeus para falar de nosso mundo interno: "E havendo lançado fora o homem pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gênesis 3:24). O que o versículo expõe é a expulsão de Adão e Eva do "paraíso", ou seja, tendo caído em erro e reconhecendo-se culpados - pois não obedeceram ao que lhes foi ditado por Deus (a consciência) - "perderam" a condição de espontaneidade evolutiva, em que usufruíam de todas as cousas da Criação sem peso, sem medo, sem ameaças de qualquer tipo. Os "querubins" são a representação dos valores de justiça e de correção, que somos capazes de implantar e desenvolver no mundo interno, a partir das experiências reencarnatórias somadas.

A espada flamejante, conforme já pudemos estudar nesta obra, é a Verdade insofismável. Essa espada é o instrumento dos querubins os guardiães da "árvore da vida", que pode ser compreendida como aquele direito de estar em paz interiormente, o qual foi perdido em decorrência de nossos desmandos, de nossa desobediência à Lei implantada pela própria consciência. Em síntese, essas imagens revelam que, quanto mais evoluímos, tanto mais exigente torna-se a nossa consciência, pois passamos a assumir a gerência de nosso progresso, a evolução consciente.

Entendendo o mecanismo de gestão consciencial da vida interior - a única real, e da qual geralmente fugimos para nos "enterrar" nas experiências externas do mundo, nas "ilusões que salteiam a inteligência" –, podemos interpretar os sinédrios (no plural) como os vários ângulos de percepção e de compreensão do indivíduo, e as sinagogas como aqueles territórios psíquicos (conflitos internos dilemas, culpas, remorsos, arrependimentos etc.) e físicos (problemas gerados em família, nos relacionamentos, perdas materiais ou afetivas, enfermidades etc.) . Em nós, a consciência é o Sinédrio pleno e as sinagogas são áreas de aplicação das leis exaradas pelo Sinédrio.

Somos escravos do que sabemos, e é de bom alvitre não desviar da Verdade já revelada à nossa conduta. Muitos corações já sofrem a ausência da alegria de viver por carregarem remorsos e culpas, por estarem sem obras regenerativas e de compensação vibracional - perderam o acesso à "árvore da vida": "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas" (Apocalipse 22:14).