As Chaves do Reino

CAPÍTULO 29

EU SOU A PORTA - ENTRAR E SAIR - PAGAR O ÚLTIMO CEITIL - LIGAR E DESLIGAR



A regência da Lei de Causa e Efeito determina que cada criatura aprenda com suas próprias escolhas, e, por força dessa Lei inderrogável, temos o que produzimos e somos o que alimentamos, desde os mais ocultos desejos e pensamentos até as atitudes concretas. À luz das verdades espirituais, passamos a compreender que não adianta responsabilizar os outros ou delegar essa culpa a situações específicas, como se elas nada tivessem a ver com nossa história evolutiva e vibracional. Esse mecanismo de transferência passional e muitas vezes irresponsável que geralmente induz o coração magoado ou inconformado aos quadros mais dolorosos de criminalidade, obsessão e loucura, perde sua razão de ser quando passamos a nos conhecer melhor, a partir do estudo das Leis cósmicas, conforme está registrado no Evangelho de João no capítulo 16, versículo 8: "E, quando ele vier [referência de Jesus ao Consolador Prometido], convencerá o mundo do pecado [origem e culto dos erros], e da justiça [quando a Lei opera sobre o indivíduo expiação] e do juízo [reconhecimento do erro, arrependimento, busca de melhoria moral]".

É a partir dessas concepções lúcidas sobre a Justiça Divina no Universo que iremos bem interpretar o texto evangélico: "Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil" (MT 5:26). Os ciclos de aprendizado devem ser esgotados pois envolvem níveis de percepção e de sensibilização moral, sem o que não há sabedoria e nem autoridade vivencial.

No Evangelho, os termos "entrar", "sair", "permanecer", "parar" "seguir", "voltar", "descer", "subir" e tantos outros verbos de ação representam verdadeiras chaves para a apreensão moral dos valores espirituais encerrados na letra dos escritos sagrados, na linguagem didática do Mestre. É por isso que, nos estudos e reflexões, o coração interessado em se saturar das luzes espirituais deve se situar comparar, conjugar, inferir, numa busca de integração com o objeto de suas pesquisas.

Jesus, em uma de suas propostas vigorosas e sábias de orientação à humanidade, afirma: "Eu sou a porta; se alguém entrar por mim salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens" (JO 10:9).

Indiscutivelmente, a pureza do Cristo supera tudo o que o nosso mundo já pôde conhecer em termos de revelação. Guia e modelo para todos os séculos terrenos, as lições d’Ele descortinam para todos e em todas as circunstâncias da vida horizontes de progresso e plenificação interior. No sentido de "porta", Jesus abre perspectivas da Luz como jamais se viu na história, e, ainda que numa feição desafiadora dos costumes e dos vícios humanos, porque perfeitas, Sua vida e Sua Mensagem expressam o caminho redentor e de felicidade real para todos os Espíritos vinculados à Terra.

Não é por outro motivo que o Senhor assevera que "salvar-se-á" aquele que "entrar" por Ele. Quer dizer, os que se emaranham no cipoal das culpas e dos remorsos, da incredulidade e dos vícios morais, dos sofrimentos e penitências conscienciais - tudo definido por imposição da Lei –, encontram salvação n’Ele, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (JO 14:6). E Sua sabedoria mostra como se processa essa redenção íntima da criatura em lutas no orbe, quando se encontra com Ele (contato com o Seu Evangelho), numa lógica impecável de vida e evolução: "e entrará" (o aprendiz se embeberá e saturará dos valores ainda desconhecidos do amor puro, que abundam na vida do Mestre); "e sairá" (conseguirá sair dos "emaranhados cármicos", pelo poder da visão divina, dos sentimentos elevados, da compreensão dilatada da vida e do viver, em profunda transformação moral); "e achará pastagens" (numa objetiva referência ao descanso íntimo, ao refrigério mental e moral, que permitem ao ser o usufruto das coisas existenciais das relações, do direito de caminhar em paz e sonhar, seguir, em novas bases de liberdade interior).

Neste ponto, ganha nova dimensão o diálogo do Senhor com Simão Pedro, a propósito da indagação feita pelo Mestre aos discípulos: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?" (MT 16:13). Após a confissão do ex-pescador de Cafarnaum, que alcançara, pelos canais da intuição vigorosa e límpida, o âmago da missão de Jesus, Este afirma ao seguidor, que por Ele foi nomeado a "rocha da fé": "E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus" (MT 16:19). Aí está o atestado de que os mundos materiais, como a Terra são "campos operacionais" dos Espíritos, que necessitam fixar o poder intrínseco herdado de Deus, o Criador e Pai. A informação doutrinária do Consolador ensina que é no plano físico, pelas vias da reencarnação que o Espírito não somente se depura, mas revela sua autoridade moral para assumir a parte que lhe toca na obra da Criação, em plano maior. "Jesus, a porta. Kardec, a chave" - temos aí a equação do Consolador que restaura o Evangelho para os novos tempos do planeta. E a chave libertadora que ele proclama é a caridade, encerrada na advertência de Pedro em sua Primeira epístola: "Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de pecados" (I Pedro 4:8).