O estudo do mecanismo sociológico, em que bilhões de seres são vinculados, dentro de buscas e necessidades de natureza diversa mostra-nos a pluralidade das tendências humanas e as condições tão múltiplas quanto o são os desejos e impressões dessas criaturas em evolução no planeta.
Um grande centro urbano reúne, dentro de uma "grade" de conceitos e regras sociais, um aluvião de ideias e sentimentos, gerando um "campo" operacional e de desafios intelecto-morais, que seria impossível para um homem abarcar em minúcias. Daí os estudos e teorizações de natureza particular, abordando ângulos dessa rede de interesses e experiências, influindo sobre as ciências dominantes mas nunca definindo com inteireza o objeto e o supremo fim dessa mecânica inestancável de progresso e evolução.
Somente o estudo sério e profundo das Leis universais poderá ajudar a criatura humana a abarcar, filosoficamente e pelo sentimento lúcido de percepção do que é abstrato, a beleza dessa mecânica de entrosamento anímico, gerando os circuitos de aprendizado e de exteriorização de valores intrínsecos, pelos quais as coisas terrenas se ordenam e ganham dinâmica experimental. No Evangelho, encontraremos referências a "cidade", "campo" "aldeia", "montes" etc., de modo que, para bom entendimento das propostas aí encerradas, há de se buscar o significado desses termos em aspecto espiritual. Temos de considerar, nessa busca de compreensão, que vivemos na "unidade" de Deus, que define ligação íntima entre o externo e o interno, entre o material e o espiritual, daí a informação dos Espíritos na primeira obra da Codificação, que diz: "Tudo está em tudo"!
Uma vez que guarda a prerrogativa da produção, que interessa à sobrevivência das pessoas, o campo terá igualmente o papel de oferecer à alma carente de obras e realizações um conjunto de recursos para a operacionalização de que ela necessita, com o objetivo de desenvolvimento de seus potenciais e de projeção íntima, no que concerne à autoridade moral. Confirmando isso, Jesus assinala, ao interpretar a "Parábola do semeador" para os discípulos: "O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno" (MT
Contudo, para entrar e estar no campo "operacional", que labora o "Filho do homem" em nós, é preciso sair da "cidade", e temos aqui de analisar o surgimento de uma grande e complexa cidade, que não surge pronta, mas nasce como uma pequena aldeia - um aglomerado singelo que enfeixa os objetivos dos que aí fundam um ambiente de interação e experiência. No terreno íntimo de nós mesmos, essas aldeias configuram zonas de convergência de interesses. São circunstâncias que passamos a vivenciar, ocupando-nos mental e emocionalmente delas, e são essas situações específicas que nos consomem as energias, movimentando nossas potências anímicas. Por exemplo, um relacionamento afetivo conturbado; a convivência tumultuosa no lar; os dissabores vividos na área profissional; a inconformação interior em relação à falta de dinheiro, de oportunidade, da vida em geral etc. Se considerarmos que a força oriunda dos acontecimentos nos projeta a outras buscas e experiências, vamos nos inserir numa cidade, que reúne muitos processos e vivências, culminando nas denominadas metrópoles onde os desafios de harmonização de interesses e de atendimento das inúmeras necessidades se revelam quase intransponíveis. É na cidade íntima, onde há muitos interesses e processos mais complexos em vigência, que vamos nos perder. Não é por outro motivo que se diz que é preciso voltar à simplicidade de vida, abrindo mão das sofisticações desnecessárias, que criam os "labirintos" morais, para as pessoas desatentas e apressadas: "E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas uma só é necessária" (LC
Na busca espiritual de afirmação no bem, para que nosso mundo íntimo se harmonize e encontremos nossa real felicidade, haveremos de nos situar na geratriz de tudo o que é pertinente e eficaz - a vontade de Deus, no Amor que Ele representa diante do Universo. Voltemos a fixar o profundo ensinamento de Jesus ao cego de Betsaida, quando este é retirado da "aldeia" e trazido até Jesus, para a cura de sua cegueira. Após a conquista da capacidade de ver - uma vez que "fé é recurso de visão" –, sinônimo de discernimento, de bom senso, o texto explicita a orientação que Jesus lhe deu: "E mandou-o para sua casa, dizendo: Não entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia" (MC
No "Sermão profético", identificaremos o resumo desse entendimento do processo de evolução, que nos reúne na mesma trama de aprendizados e testemunhos, com um único fim - o de nos capacitar "a suportar a parte que nos toca na obra da Criação": "Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e, os que nos campos, não entrem nela" (LC