As Chaves do Reino

CAPÍTULO 38

A CIDADE SANTA - O PINÁCULO DO TEMPLO - PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO



Quando analisamos a fala de Jesus em Mateus, ao dizer que "vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte" (MT 5:14), temos, nessa belíssima afirmativa do Mestre o testemunho dos filhos que já operam segundo a vontade do Pai permitindo que "edifiquem" uma cidade (centro de convergência de inúmeros interesses evolutivos) sobre o "monte" da elevação de propósitos. Aí está configurada a "cidade santa", simbolizada no Evangelho por "Jerusalém" (centro dos interesses religiosos da época em que viveu Jesus). E se a existência de um encarnado, com todas as suas aquisições, relações, anseios, movimentos, perfaz essa "cidade" experimental, que cresce e se sublima, à medida que se mostra coerente com os valores da consciência desperta pelo Evangelho, o "pináculo do templo" será, em seu coração (templo do Espírito), a linha mais sutil de sua ligação com os fundamentos da vida em Deus.

Num estudo da arquitetura dos grandes templos, geralmente encontraremos uma peculiaridade, qual seja, as agulhas que se afinam, ao mesmo tempo em que sobem para o céu, como acabamento do prédio. Lendo a obra Nosso lar, do Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, identificaremos as descrições da Governadoria, apresentando suas "torres soberanas", que avançam para o alto, como linhas de ligação com as faixas superiores. São detalhes que surgem das profundas intuições e remontam ao fato de em essência, todos estarmos vinculados, vibracionalmente, à fonte dadivosa da vida, que é Deus.

Assim, o "pináculo do templo", no plano interno de cada individualidade, será a parte mais alta e mais santa de nossos sentimentos, que fogem, em tudo, dos jogos e das impressões puramente materiais. Foi para aí que o "diabo" conduziu Jesus, em Sua primeira tentação como Salvador da humanidade (MT 4:1-11). E o que significa isso, se Jesus é Espírito puro e não guarda nenhuma relação de interesse pessoal com o pobre mundo material em que trabalhamos nossa evolução ainda precária?

Contando, Ele mesmo, Sua tentação, Jesus cria referencial para nossas lutas de afirmação no bem, a fim de que não nos perdêssemos de nós mesmos, de nossa origem no Pai e Criador. Quando relata que "o diabo o transportou à cidade santa, e o colocou sobre o pináculo do templo", o Mestre deseja nos dizer que é pela percepção mais alta e mais abrangente que podemos alcançar da vida que surgem as mais sofisticadas tentações. E continua: "E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra" (MT 4:5-6). Observemos que o "tentador" sempre revelará facetas de nossa personalidade pois, enquanto não adentrarmos o plano da "unidade divina", como Espíritos puros, lidaremos com Satanás, com o diabo e assemelhados (nossas concupiscências).

Note-se que a tentação envolve tanta sutileza de postura interna de adesão ou não ao plano crístico, trazido à Terra por Jesus que podemos afirmar ser a grande provação do poder. Todo filho consciente de Deus ganha autonomia, pois se alarga o universo de seu livre-arbítrio, e ele não mais administra somente para si, mas interage na Criação, de modo cada vez mais ampliado. Isso é uma prova das mais complexas e desafiadoras, e pede, por compensação, firmeza de caráter e pureza de intenções. Os anjos da referência do tentador são as virtudes já reveladas desse filho de Deus, pois são elas que impedem os tropeços operacionais, e as "pedras", nas quais se pode tropeçar, são os princípios e as leis, que fundamentam a Justiça imperecível.

Em verdade, a grande queda ou a "queda dos anjos" se dá quando o ser alcança esse "pináculo do templo" e necessita ser aferido pelas forças contrárias e adversas do projeto-Luz. Se há presunção, por efeito da dita "autonomia" pessoal, se há vaidade, por decorrência do "poder" alcançado (pois, nessa fase, o elemento se dota de refinamento cultural, em aspecto múltiplo e notadamente religioso e apresentará vigoroso magnetismo polarizador, atraindo multidões impressionando corações), se há indiferença quanto aos seus deveres morais, que então se tornam mais exigentes e mais constrangedores (daí o imperativo da humildade sincera), conheceremos todo tipo de desmando e arrogância, de desrespeito e indiferença, de zombaria e escárnio com o que é sagrado.

Surgem, então, os "falsos profetas", os "falsos cristos", pois articulam e enganam, trapaceiam e negociam na "casa do Pai", desprezando os "pequeninos" (MT 18:10). É contra esse tipo de personalidade, que materializa o diabo ou que se lhe torna "filho" ("Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" - JO 8:44), que a Terra vem lutando há milênios, pois se forja por dentro de nós, usando nossa natureza divina e imortal, por algum tempo. Diante dessas reflexões, poderemos compreender o que registra Marcos: "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo" (MC 3:29).