As convenções do mundo acerca da contagem do tempo, definindo dias, semanas e meses do ano, foram sabiamente utilizadas pelo Alto como didática a referendar ciclos de trabalho do Espírito encarnado.
Ao recordar os sete dias da Criação, explorados com fecundidade por Allan Kardec na obra A gênese, em que cada dia simboliza um ciclo de formação do planeta, obtemos expressiva informação que nos auxilia a compreender o significado essencial do que se denomina uma "etapa setenária", que, independentemente da quantidade de dias ou de anos a estruturá-la, resume um "período" de tempo em que forças se conjugam e geram "circunstâncias", nas quais passamos a ter um papel ativo e interativo, para viva ilustração de nosso psiquismo em evolução.
Nessa etapa de sete dias, em que, segundo o registro original do primeiro livro de Moisés (Gênesis
Até o sexto dia, ou seja, na simbologia dos seis movimentos de criação da Terra, vamos transferir a imagem para nossa realidade evolutiva de modo que se apresentam seis etapas de realização pessoal dentro de um contexto de trabalho, que pode ser a reencarnação. Com base no esforço perseverante e crescente, veremos a edificação que nos interessa à alma, exigindo-nos continuamente a atenção e o zelo vigilante, pois somente na conclusão do processo ou da obra espiritual a que nos aplicamos, quando o sentimento do dever cumprido nos alcança pelo plano da consciência - figurando uma coroa de vitória, de êxito –, é que adentramos o "sétimo dia", o que representa o "descanso". Essa imagem diz respeito à espontaneidade, ao estágio de pleno domínio sobre o tema trabalhado, sobre a obra começada no primeiro dia e mantida até o sexto dia dentro de disciplina e ordem (fase em que o esforço e a vigilância ativa predominam).
Essas reflexões nos projetam a mente na direção do reconhecimento da harmonia dos processos, pois a lógica da vida estabelece, em primeiro plano, o conhecimento gradativo das cousas, requisitando do ser a desativação do comodismo ou dos conceitos fechados, mais primitivos, para, no fluxo dos esforços continuados, permitir à criatura uma visão mais abrangente da situação, da empreitada, e, então guindá-la ao domínio do tema.
A partir da compreensão desse mecanismo divino da evolução e do progresso, passamos a entender o que significa a afirmativa de Jesus: "Ouvistes que foi dito aos antigos" (MT
Todo aprendizado substancioso passa pela percepção mais generalizada num primeiro momento. Na história dos personagens que surgem nas narrações do Evangelho, muitos "ouviram falar" de Jesus, ou mesmo "ouviram" Jesus pessoalmente, para, mais à frente, tomarem uma decisão quanto a isso e encontrarem o campo dos testemunhos pessoais - que representa o "ler" (sentido dinâmico de interpretação de interação), o adentrar daquela referência auditiva, que, antes, soava como algo encantador, poético, consolador, diferente, mas ainda externo. Quando Jesus foi defrontado pelo Doutor da Lei, que buscava tentá-lo, o Mestre indagou dele: "Que está escrito na lei? Como lês?" (LC
Vale ressaltar que muitos valores dos quais ouvimos falar na retaguarda da evolução, em remotas reencarnações que tivemos, hoje os estudamos "lendo" seu conteúdo e sua profunda significação na vida prática, com o fim de revelá-los em nós, através de nosso esforço e adequação.
Uma reencarnação representa uma etapa setenária para o Espírito e por isso, ele precisa operar bem, fase a fase, para alcançar a abrangência possível do plano estabelecido pelo Alto, como meio de estimulá-lo ao progresso, às conquistas íntimas. Quando alguém se "desatrela" dos deveres que a consciência lhe dita e que se lhe apresentam pelas circunstâncias existenciais, preferindo, em nome de seu livrearbítrio, ziguezaguear pelas "sendas" de seus desejos personalistas (interesse pessoal e exclusivista), ele se perde no emaranhado de uma "universalidade", sem fundamentação moral.
Ao estudarmos Jesus, que durante trinta anos se submeteu às injunções da existência física, para, em apenas três anos, revelar a natureza divina do Filho de Deus então encarnado, vemos em Seu exemplo o símbolo que nos interessa ao esforço consciente pela evolução. A partir disso, poderíamos dizer que os trinta anos do Mestre representam dentro de uma didáica irretocável, utilizada conscientemente por Ele, os seis dias da Criação da referência bíblica, de modo que os três anos de realizações do Senhor expressam o sétimo dia, a pujança da obra divina. Assim, em trinta anos, temos a imagem da estruturação imprescindível da equipagem perceptiva do aprendizado, que nos leva à plena consciência - é o período da Lei, o preço da evolução consciente, sobre cujos alicerces revela-se o Amor, o sétimo dia!