Todos os que estudamos os textos dos Evangelhos, dentro da lúcida expressão doutrinária do Espiritismo, logramos compreender a sublimidade do aspecto moral do Consolador Prometido, então em curso entre nós, graças ao esforço de Allan Kardec e de seus legítimos continuadores. É esse o fundamento da Terceira Revelação, e sua genuinidade nos remete aos padrões de pureza e simplicidade vividos por Jesus, aqui no planeta Terra.
O fenômeno evolutivo da consciência desperta faculta ao indivíduo uma autonomia de vida interior que o projeta a realizações de natureza coletiva, mas igualmente representa, justamente por conta da responsabilidade alcançada, um "laço de tropeço", que pode arrojálo aos despenhadeiros das trevas, exatamente por negligenciar ou conspurcar o que há de mais sagrado em seu coração.
Nesse movimento de despertamento íntimo e iluminação moral temos de salientar duas etapas: a que faz nascer o "Filho do homem" e a que delineia o "Espírito Santo". A primeira é a resultante do encontro com Jesus e Sua Mensagem: "Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim" (MT
Na segunda etapa, que se refere à "segunda vinda do Cristo" ("Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo na sua vinda" - I Coríntios
Podemos entender, assim, por que motivo as grandes luzes acesas na alma podem converter-se em trevas, pois o desvio de uma alma, já experimentada no Amor do Pai, significa um grande dano moral para a "nuvem de testemunhas" (Hebreus
Indiscutivelmente, nossa ascensão espiritual vem se dando entre luzes e sombras, pois conhecer é abertura do campo mental, mas temos uma caminhada de afirmação dessas luzes que nos custa muito suor e tantas vezes lágrimas ardentes. Há grandes conversões à Luz que não se confirmam, e é por isso que existem legiões de Espíritos dotados de vasto conhecimento das Leis universais, senhores de muitas experiências reencarnatórias, que, no entanto, vivem nas regiões trevosas, assumindo o papel de "instrumentos de escândalo", na feição dos vingadores e justiceiros, impermeáveis à proposta do Amor com Jesus. São, na acepção moral do termo, a expressão do diabo, de Satanás, de Belzebu. Por efeito de nossas imperfeições e vícios, todos ainda temos parte com eles, pois representam a "mentira", a qual se opõe à "Verdade": "Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus" (JO
Desse modo, torna-se compreensível que, na elaboração do "Filho do homem", ou seja, no processo de transformação moral, somos "perdoados" (movimento de adequação da consciência) se caímos, se nos equivocamos, se demonstramos um retorno aos padrões antigos por efeito de algum acontecimento inesperado, mas carregamos uma culpa superlativa, quando já experimentados e em ação sob a tutela do "Espírito Santo", que é a Verdade, a Virtude etc. : "E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado" (LC
O benfeitor Emmanuel, no livro Vida e sexo, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, explica que, por conta dos desvios no campo religioso e nas esferas do relacionamento sexual, quando se enganam pessoas de modo consciente e calculado, para auferir vantagens imediatas, sem a menor consideração para com os envolvidos assumem-se culpas e compromissos cármicos muito difíceis de serem resgatados, escravizando esses oportunistas a cirandas de expiações e provas muito áridas. É por efeito da compreensão mais dilatada da Lei de Amor e da missão do Cristo que pode ocorrer a "segunda morte". A primeira é fenômeno biológico para quem está na carne e se desprende dela, retornando à vida espiritual. É também, para o Espírito livre no Além, verdadeira morte o retomar o corpo para as experiências evolutivas na Crosta reduzindo suas potencialidades já adquiridas em tantas incursões na matéria. Todavia, a "segunda morte", assinalada pelo Evangelho, é fenômeno pertinente aos que negam a Luz já revelada de modo tão claro. Essa segunda morte pode representar a "perda" do perispírito quando a individualidade torna-se um corpo ovoide, conforme relatos do Espírito André Luiz, na obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, tanto quanto pode figurar a "queda" profunda nos desvãos da animalidade, quando, em revolta e negação, o Espírito converte-se em "anticristo", em "dragão" espiritual: "Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos" (Apocalipse