As Chaves do Reino

CAPÍTULO 5

JESUS PRIMOGÊNITO CRISTO UNIGÊNITO



No estudo da história cristã em seu nascedouro, observamos a dinâmica santificante do amor de Jesus através dos discípulos, que, em nome d’Ele, operavam segundo a grande Luz recebida, testemunhada por meio de suas conversões ao Evangelho. Dentre eles, Paulo de Tarso apresenta, na sua condição de Apóstolo dos Gentios, expressivas marcas, que merecem nossa atenção e nossas meditações.

Como Saulo, representava a figura rígida do religioso preso aos ditames da Lei, das convenções interpretativas, obedecendo apaixonadamente aos sistemas dominantes e impositivos. Sofre o efeito da ação do Cristo e sente-se profundamente ferido em seu orgulho de raça e de liderança política. Pela natureza superior da Mensagem cristã e da verve amorosa e humilde dos seguidores do Nazareno, Saulo perde-se em desvarios íntimos, porque o "Templo" de Jerusalém, cristalizado como suprema expressão da vontade do Pai nas concepções dele, ruía em seus fundamentos exteriores. Então, pelas aberturas psíquicas que o sofrimento e as humilhações sequentes estabeleceram sobre aquele vigoroso Espírito, surge Paulo, o convertido, que recomeça de modo simples e padece todas as provas depuradoras, que o fazem crescer para Deus e para a divulgação do Amor, pelo Evangelho.

Mas, se Paulo avulta e torna-se figura proeminente do Cristianismo nascente, por decorrência de sua doação constante e plena, sem esmorecimento e sem facilidades transitórias, anuncia, ele próprio sua integração efetiva com as forças diretoras do Cosmos: "[... ] e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20).

Entendemos, na trajetória desse missionário, o que o Espiritismo explica na parte terceira de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec quando sintetiza o processo de emancipação dos seres na Lei de Justiça de Amor e de Caridade. Saulo era a lei antiga; Paulo é a conversão ao amor d’Aquele que foi "o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:29). Até que, pelo exercício incondicional dele pela causa do Evangelho, o Cristo triunfa em seu coração, como a glorificação de quem fora "predestinado" e depois "chamado" (Romanos 8:30).

Jesus, Espírito puro, representa aquele que foi absolutamente coerente, plenamente evangelizado, a nascer e morrer junto aos homens, abrindo o caminho da Vida, pela ressurreição. Na definição de Paulo, Jesus é "espírito vivificante" (I Coríntios 15:45), resgatando os homens da carne, para aquela glorificação no Amor - a iluminação crística.

Temos nos esforçado por fazer nascer, em nós, o "Filho do homem" que é a resultante harmônica e bem-aventurada dos labores exaustivos da evolução, através de incontáveis reencarnações pelo tempo. E esse "Filho do homem" encontra identidade em Jesus - o "primogênito" o primeiro "entre muitos irmãos". Observemos, então, que, se Jesus afirmara ser um com o Pai, dissera igualmente não fazer a Sua própria vontade, mas a vontade d’Aquele que O enviara, deixando-nos um caminho de entendimento da Sua condição crística (JO 8:28-29, JO 8:42).

Assim, a perfeita identidade do Filho com o Pai estabelece a "unigenitura", que, figuradamente, é a consequência e também a sublimação, em depuração e identidade plena, da "primogenitura" - que é uma espécie de inserção, iniciação, imagem da primeira vinda de Jesus –, pois significa a soma dos Filhos que encontraram a Verdade de Deus e Seu Amor no primogênito de nossa casa planetária - referência que desperta e vincula para os futuros testemunhos –, Aquele que se deu em holocausto para inaugurar, nas mentes e nos corações, uma era de espiritualidade e vida abundante, de modo universal e puro.

Todo aquele que desenvolveu a consciência do Amor e opera sob suas expressões, em dinamismo caridoso, sem notas de interesse pessoal incorpora-se naturalmente à proposta crística, a unigenitura. Deus irradia o Amor, e a missão crística significa o plano operacional dessa expressão divina: Deus cria, os Espíritos fazem!