O início do capítulo doze das anotações de João Evangelista merece uma atenção especial do estudioso das Letras Evangélicas pelo seu conteúdo extraordinário de viva espiritualidade.
Note-se que o termo "seis dias antes da páscoa" assinala o fechamento de um ciclo de trabalho árduo, antecedendo o instante monumental do testemunho de Jesus que se daria no sétimo dia, o qual simboliza o acabamento, o capitel da obra empreendida anteriormente, quando seria içado na cruz, para redenção dos homens (Gênesis
Betânia, a singela cidade onde se abrigava a querida família à qual Jesus devotava muito carinho, constituída por Lázaro e suas irmãs Marta e Maria, pode ser considerada, em termos espirituais, como a antessala de Jerusalém, que, em essência, simboliza a busca religiosa, o encontro do sagrado em nós. Encontraremos ali, naquele momento especial da visita do Mestre, Lázaro redivivo já em posição de ajuste à proposta da Vida Abundante, representada por Jesus e sua doutrina. Ele se reclina à mesa - posição preparatória ao ato de comunhão que a ceia propõe (I Coríntios
Marta e Maria são expressões bem marcantes de nossa intimidade espiritual: se Marta se propõe a servir e a arrumar a casa (LC
É por essa natureza devotada e mística da alma que vamos compreender Maria, lançando mão de um tesouro - o unguento de nardo puro, caro (JO
Maria ungiu os pés de Jesus, e a imagem nos merece considerações doutrinárias, à luz dos ensinos espíritas. Em singela analogia, podemos considerar que Jesus está no "superconsciente" da alma, porque é projeto do futuro para o nosso hoje operacional. Não o dominamos, pois, na condição de irmão mais velho, Ele percorreu instâncias cósmicas e se experimentou em mundos que já se desintegraram, até atingir o grau de pureza que o torna um "Cristo". Ao ungir os pés, ou a base em que Jesus se erige entre os homens, notamos que isso se refere à interpretação, à percepção que temos do Cristo, o que fez nascer todo tipo de idolatria que as religiões divulgam. Em suma, nosso "superconsciente" hoje atinge o que seria o "subconsciente" de Jesus, ou seja, nossa capacidade relativa de amar e servir faz contato com aquilo que Jesus viveu e já superou, em sua condição de Espírito puro.
Quanto ao cabelo para enxugar os pés, então orvalhados pela devoção de Maria, ele representa a cobertura da mulher ("Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada" - I Coríntios