O Caminho do Reino

CAPÍTULO 16

TEMPO DE VIGILÂNCIA



"Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo"(MC 13:33). Se o "cair em si" (LC 15:17; AT 9:4; MC 14:72) representa o "choque" de quem se distraiu ou se desviou do reto caminho, num contexto de efeito, de consequência, para retomada de realizações em plano de consciência, a advertência de Jesus sobre vigilância se reveste de caracteres muito especiais, pertinentes ao processo de evolução consciente.

O instinto, estudado por Allan Kardec no capítulo 3 de sua obra A Gênese, já, por si, representa todo o automatismo de sobrevivência ativado e requintado durante o período em que o Princípio Inteligente estagiou nos ambientes basilares de expansão da vida na Terra: os reinos mineral, vegetal e animal. Com muita inspiração do Alto, na Revelação Espírita o instinto é definido como uma espécie de inteligência rudimentar, antecedendo as atividades refletidas - base das operações inteligentes, expressando consciência. É por essa linha vibracional de vida, que denuncia uma espécie de "genoma espiritual", que os princípios e os seres mais primitivos se movem, fazendo-nos recordar um "campo magnético" ambientador e fomentador de valores - as potências então dormentes da alma. A princípio, toda essa saga de sobrevivência regida pela instintividade guarda o escopo de preparar forças, de despertar potências, qual ocorre com as sementes que, para revelarem a espécie, primeiramente lançam raízes no solo, com que se nutrem e se garantem ("Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus" - MT 5:43-45).

Essas reflexões de ordem doutrinária espírita nos facultam instrumentos lógicos para que, no estudo da recomendação de Jesus sobre a necessidade de vigilância, possamos compreender os saltos quânticos que estão definidos na mente desperta, ou seja, quando a inteligência passa a orquestrar o progresso consciente da criatura ("Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá" - Efésios 5:14). Sob o instinto ou no plano das sensações, somos regidos pela Lei, e as circunstâncias nos conduzem como uma espécie de rio cujo percurso e destino geralmente se desconhece... Já no plano da vigilância, a mente opera pelo discernimento, pois então se dota de recursos que guindam a alma ao plano da inteligência dinâmica, da razão, do bom senso. Nesse passo, o livre-arbítrio se constitui de registros colhidos de inumeráveis reencarnações (André Luiz nos informa que já são, somente na Terra, duzentos mil anos de atividade mental - Evolução em Dois Mundos, parte primeira, capítulo 3).

No resumo apresentado por Marcos, em seu Evangelho (MC 13:34-37), observamos a Parábola do Servo Vigilante, na qual o Senhor (Jesus Cristo, nosso "guia e modelo", operando a Vontade de Deus) se ausenta e dá autoridade a seus servos (debaixo da Lei, todos somos servos, nos preparando para a condição de "Filhos de Deus"). Esse movimento diz respeito à emancipação íntima de alguém que já dispõe de valores evolutivos e que, em posição de despertamento, é capaz de identificar oportunidades valiosas de qualificação espiritual ("Olhai" - MC 13:33; "E já via ao longe e distintamente a todos" - MC 8:25).

Há uma cadência de vida no Universo que estamos ainda longe de poder compreender na sua integralidade, mas é possível estudar as estações, os ciclos, de modo que os sinais são sempre balizas, e, nesse sentido, o Evangelho de Jesus se nos apresenta como o divino código da verdade e do amor. Se não podemos precisar a chegada do "Senhor"(aferição, prova, resgate), devemos zelar pela integridade íntima da casa a nós entregue para administração - nosso íntimo. A vigilância proposta pelo Mestre seria o grande primeiro passo, em termos de vida inteligente e desperta para os valores reais do Espírito, requisitandonos atenção, empenho, foco, interesse, esforço, compenetração, consciência, porque vigilância não é um verbo estático, ele é dinâmico, interativo, tem uma expressão de "permanência": "Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte" (JO 8:51).

Quando não dominamos determinadas áreas de trabalho ou realização, a atenção, no sentido de vigilância, é atestado de segurança e responsabilidade. Isso perdura como uma espécie de "tensão" promotora, até que esse cuidado, esse zelo, seja "automatizado", quer dizer, se converta em hábito e virtude: "Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá" (LC 12:43-44).