O Caminho do Reino

CAPÍTULO 18

O ESPÍRITO IMPURO



A sabedoria da Criação se estampa nos símbolos que enfeixam, por si, ciclos de trabalho e realização, dentro do plano evolutivo em que nos inserimos. Tudo se move e tudo se encadeia de modo admirável, sem que haja uma nota de injustiça ou qualquer dissonância em aspecto moral nas vidas que perfazem a Vida, no seio do Criador.

Sob esse prisma evolutivo, o tema da impureza, tratado com esmero pelo Codificador da Doutrina Espírita a partir da questão 100 de O Livro dos Espíritos, nos enseja base imprescritível para a análise mais racional e lógica do que os versículos de 24 a 26, do capítulo 11 das anotações de Lucas (LC 11:24-26), apresentam aos leitores de O Novo Testamento.

Todas as aquisições morais, significando "despertamento íntimo", de alma, se dão entre fluxo e refluxo, entre causa e efeito, entre busca e encontro, entre anseio e resposta... É nesse emaranhado de cocriação que o Espírito se versa de sabedoria e virtudes, sem o que estaciona, acrisolado em si mesmo. Os apelos do Mundo são convites, e os há em diversos níveis de possibilidades, desde os puramente materiais, na horizontalidade da existência, como os de natureza espiritual, na verticalidade da vida, em acordo com a Lei Divina e Eterna. "Quando o espírito imundo tem saído do homem" pode ser associado ao que ensina a passagem em MT 15:11 ("O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem"), porque é isso a causa, o marco de um processo experimental, de descoberta de valores intrínsecos, dentro da regência da Lei que opera pelo mecanismo de causa e efeito. Significa que a criatura liberou algo laborado por sua vontade, e isso vai percorrer órbitas no plano relativo da Criação, como ondas nutridas, acalentadas por outras de mesmo teor, até seu esgotamento, caso sejam de natureza personalista, ilusória (JO 8:43-44).

O assunto tem origem nos primeiros movimentos do livro Gênesis, de Moisés, quando descreve a maldição de Caim (Gênesis 4:13-15): "Qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado". A referência ao sete não ocorre ao acaso, pois remonta aos "sete dias da Criação", ou seja, um ciclo inteiro de movimentação, necessário à formação intelecto-moral de pisos conscienciais (mundo novo, homem novo).

Quando a obra kardequiana define a evolução como uma caminhada que se dá do vale eivado de brumas até o cume do monte, de onde se observa toda a caminhada realizada, (Obras Póstumas, parte primeira, capítulo 14), isso significa o sete utilizado para definir a obra do Criador, pois refere-se às probabilidades de movimentação dentro daquele circuito de aprendizado e descobertas do Espírito em evolução. Por isso ocorrem as profecias, as instruções inteligentíssimas e certeiras, pois quem as faz são os Espíritos mais evoluídos, que têm visão larga e profunda dos temas de seu passado, que são os temas de nosso presente.

Como se trata de Espírito "imundo" ou "impuro", isto é, sem sabedoria, sem ciência, sem moral agregada, ele percorre lugares áridos (vicissitudes) e não encontra repouso, já que isso define exaustão, esgotamento de interesses primários, no sentido de mera formação conceitual, que é dever evolutivo e não graça ou favor ao Divino: "Mas para Caim e para a sua oferta não atentou" (Gênesis 4:5). Note-se que o Espírito somente descansa após a obra de seu progresso realizada: "E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito" (Gênesis 2:2). Daí a inquietude ou insatisfação íntima que geralmente caracteriza a jornada das criaturas, até que se harmonizem com a Lei, com sua consciência (Gênesis 4:7).

Ao analisarmos os ciclos de aprendizado, temos que ter em mente que tudo concorre para o nosso despertar espiritual, e tudo o que experimentamos talha, em nós, o caráter diamantino, ou o "Filho do Homem". Nem sempre isso se dá com harmonia (evolução em linha reta), pois o livre-arbítrio nos enseja escolhas, sempre de acordo com os interesses do momento evolutivo em que nos encontramos: "Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear" (MC 4:3). Por isso, tudo o que "causamos" (escolhas e rumos tomados) "vai", no sentido de executar, segundo queremos, mas "volta", porque é da Lei: "Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras" (MT 16:27). E, voltando à origem de onde a proposta impura saiu, encontra a casa "varrida e adornada", ou seja, pronta para receber a resultante do processo, pois não foi "ocupada" por forças outras, de natureza positiva (esforço de renovação, novas ideias ou propostas de vida): "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo" (Apocalipse 3:20).

Quanto a vir e trazer consigo outros sete Espíritos, piores do que ele, percebemos que a multiplicação da culpa torna a mente (casa) enferma, 92 tormentosa: "Então disse Caim ao Senhor: é maior a minha maldade que a que possa ser perdoada" (Gênesis 4:13). Pelas escolhas impuras (insensatas, desgovernadas), podemos enveredar pelos caminhos dolorosos da expiação: "Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra" (Gênesis 4:12); "Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes" (MT 22:13).