O Caminho do Reino

CAPÍTULO 19

RESSURREIÇÃO DOS MORTOS



Os versículos de 27 a 40, do capítulo 20 do Evangelho de Lucas (LC 20:27-40), apresentam vigoroso testemunho da imortalidade da alma, anunciando a vida espiritual após a morte do corpo, declarando ser Deus o Criador e Pai de vivos, e não de mortos...

Mas existem movimentos expressivos na preciosa narração que merecem reflexões à luz da Revelação Espírita, para bom entendimento do processo evolucional das almas que se valem da reencarnação para atingir a pureza indispensável à sua incursão no Reino Divino.

Segundo o próprio Paulo, o "homem" é a cabeça da "mulher" ("Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo" - I Coríntios 11:3), a par de todos os preconceitos existentes na época, numa análise filosófica de profundidade, tendo a afirmativa como divina inspiração do apóstolo, e não apenas um relato sociológico do seu tempo. Assim, o "homem" é o aspecto provedor, fecundador da individualidade, responsável por buscar no meio ambiente, ou na Criação excelsa, os fundamentos lógicos, racionais, positivos da vida, para acobertar e inflamar a "mulher" - o aspecto sensível, de sentimento, de acrisolamento e gestação que o indivíduo também possui em seu mundo íntimo: "E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem" (Gênesis 4:1). Em suma, entre razão e sentimento o indivíduo opera o seu despertamento gradativo, através das obras produzidas (os filhos), caminhando para a consciência plena (pureza interior), no seio de Deus.

O Livro dos Espíritos define com clareza que não existem metades eternas (questões 298 e 299), de modo que, no processo de evolução para a consciência universal, as almas se vinculam em processos de atração regidos pela Lei de Causa e Efeito, para efeito de compensação vibracional, ou seja, dentro das linhas adredemente trabalhadas desde os movimentos astrais, na descida dos Princípios 1nteligentes dos mundos felizes onde são acalentados, até os mundos primitivos, onde iniciam a "subida" vibratória, agora em operações de dentro para fora, e não mais de fora para dentro, tanto os princípios existentes nos reinos mineral, vegetal e animal, quanto as almas (seres inteligentes da Criação), buscam os pares com que se afinizaram nas escalas múltiplas do progresso já efetuado, para apoio e compensação vibracional, até que desenvolvam, pelo progresso feito, as "duas asas" que levam a criatura ao Criador: Sabedoria e Amor.

Desse modo, podemos entender o relato de Lucas, já citado - são sete irmãos, da mesma linhagem, buscando descendência, perpetuação, e uma mulher, ou seja, o sentimento que gera e tem o poder de "materializar" o ideal, a ideia, o projeto, o sonho, a revelação... (JO 1:14). Já tivemos oportunidade de estudar o número sete como um ciclo de edificação, de construção, de experimentação, contendo início, meio e fim: "E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito" (Gênesis 2:2). E não será o acaso que define sete irmãos operando, segundo sua linhagem (proposta, desejo, visão particular da vida), a fecundação da mulher - para que o sentimento pudesse gerar e dar à luz o fruto dessa vinculação, segundo a sua natureza.

Explicando aos saduceus que o indagaram sobre quem desposaria a mulher após a morte de todos (visão imortal do Espírito), Jesus salienta que "os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento", o que significa que as "vinculações" são necessárias em mundos como a Terra, para efeitos de compensação vibracional, para expiação e provação, em busca de aprimoramento e harmonização interior.

Adentrando, porém, nosso mundo interno, podemos conhecer várias etapas ou vários ângulos de uma mesma proposta ou desafio. É por esse motivo que os homens e as mulheres do Mundo mudam de visão, de interesse, de rumo, pisando e repisando filosofias, conceitos, desejos, até que "somem" valores, interpretações, experiências, e isso culmine na "morte" daquela inquietude, daquela busca frenética, migratória, de cunho personalista, porque a sabedoria ou a maturidade é capaz de resumir tudo e sossegar a alma. É aí que cabe a ressurreição.

De acordo com Jesus, na "nova era" ou no "mundo vindouro"(essa referência é válida tanto para a desencarnação quanto para a transformação moral do indivíduo, mesmo encarnado) não casam e nem se dão em casamento, porque não podem mais morrer: "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação" (Hebreus 9:27-28). Aprendida a lição, a alma não está mais sujeita a "negociação" ou "vinculação" com os temas e subtemas que constituem o processo de iniciação do Ser naquele nível de aprendizado ou experimentação, porque, adquirida a virtude, o mérito, o domínio sobre a situação ou tema, "vivem para o Senhor", conforme explicou o Cristo: "Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos" (LC 20:38).