O Caminho do Reino

CAPÍTULO 20

O FILHO DO HOMEM SERÁ LEVANTADO



Os estudos dos símbolos que enxameiam o Novo e o Antigo Testamentos são "chaves" preciosas da Sabedoria universal, e a Doutrina dos Espíritos, na atualidade do Mundo, faculta a seus adeptos e simpatizantes os mais refinados instrumentos que lhes permitem adentrar os meandros mais desafiadores desses códigos da Vida Espiritual.

Tudo o que é organizado pelo poder do espírito e é conhecido por matéria, seja a intimidade atômica, sejam as expressões estelares do Cosmos, são, com duração maior ou menor e com expressões mais densas ou sutis, formas didáticas e experimentais dos seres, filhos do Criador, em expansão de potencialidades, de modo que existem mas não se eternizam, tendo apenas a função do "laço que prende o espírito" (O Livro dos Espíritos, questão 22), ou seja, se mantêm enquanto dessas expressões materiais os seres delas necessitem para a consolidação de seus aprendizados e pela revelação ostensiva de seus poderes herdados do Pai e Criador. As sagas evolutivas já executadas no planeta Terra estão registradas na História que se passa de geração a geração e através dos mitos que enfeixam a sabedoria filosófica e o conteúdo moral de diversas civilizações pretéritas. Quando nos reportamos ao gigantesco trabalho que coube a Moisés, sintetizando os labores morais entre os povos antigos para recebimento da síntese que se registra em os "Dez Mandamentos", observamos que essa manifestação "exotérica" da Verdade, então franqueada a todos, tem sua expressão na assertiva de Jesus a Nicodemos: "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado" (JO 3:14).

Na análise da "serpente", encontramos diversos textos entre o Novo e o Antigo Testamentos que a definem como o "interesse pessoal", filho do egoísmo: "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" (Gênesis 3:1). Indiscutivelmente, a "serpente" expressa o "fermento" que dá a dinâmica evolutiva pertinente a um mundo como a Terra, onde as individualidades exercitarão o seu livre-arbítrio, para implementação dos valores decorrentes dessa luta entre o que se quer (desejo) e a genuína percepção da ordem divina (Tiago 1:12-15). Essa serpente se tornou o "dragão" apontado pelo Apocalipse: "E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele" (Apocalipse 12:9). Quando se observa o domínio do mundo terreno pelos homens ainda inescrupulosos e marcados por interesses puramente materialistas, percebe-se que a expressão "dragão" representa a sofisticação em múltiplos sentidos dos ardis da serpente, mas é preciso compreender que as forças "draconianas", expressando uma potência dantes inimaginável do aparente "mal", em verdade dinamizam o trabalho consciencial das almas, que, rapidamente, pela intensidade dos processos de egoísmo e orgulho, saturam os corações, sublimando-lhes as aspirações de vida. É aí, devidamente experimentados e senhores de mais graves percepções da vida e do viver, que entendemos o trabalho do grande legislador hebreu, citado por Jesus ao falar do "Filho do Homem": "E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia" (Números 21:9).

Quando o Cristo assinala que, "como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"(JO 3:14-15), reafirma o que já fora um labor experimental sob o guante da Lei antiga (livre-arbítrio como instrumento de consolidação de valores da alma, para amadurecimento de percepções anímicas), ou seja, sem que a renovação ou a transformação moral se erijam ("sejam levantadas") do íntimo da criatura que reencarna para se experimentar na matéria, não há domínio sobre as situações transitórias e sobre as imagens que são criadas, entre espaço e tempo, nesses circuitos de trabalho evolutivo em que nos inserimos por obra da infinita Bondade do Criador.

Quando o Amor, vivido por Jesus entre nós, se tornar a expressão de nossa verdade íntima, o "Filho do Homem" será levantado, como síntese de todos os nossos labores evolutivos, facultando-nos a vida eterna, a vida sem as "quebras" morais, que promovem sofrimento e desolação: "Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor" (JO 15:8-10).