Quando o estudioso das Letras Evangélicas analisa o que registra Lucas, no 9 de 57 a 62 (LC 9:57-62), percebe que a mensagem do Evangelho não se prende às "negociações" de ordem primária que atendem ao interesse pessoal do indivíduo, mas ao plano cósmico da vida eterna - a vida que Jesus revelou em seus mais mínimos gestos e pensamentos.
Citando as tocas ou covis das raposas e os ninhos das aves num primeiro plano, o Mestre assinala os movimentos básicos (instintivos) da existência, num plano herdado do reino animal, que antecede a inteligência, para, em seguida, ouvir dos candidatos: "Deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai" e "Deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa".
Na verdade, o "Filho do Homem" não tem uma pedra onde reclinar a cabeça, ou seja, não tem domínio na Terra e em seus sistemas, porque, tendo palmilhado as experiências evolutivas que vão do instinto à inteligência e desta ao "senso moral", todo o seu escopo é transitar sem se prender, porque seu regente é o Amor do Pai e não mais a Lei que regula interesses próprios, para que haja justiça entre partes diferentes.
Esse material alicerça, num plano de fé raciocinada, as afirmativas de Jesus registradas em JO 12:46-47: "Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo". O Cristo é a redenção da Humanidade, e não lhe compete qualquer operação coercitiva ou de julgamento, pois Ele é inclusivo, regenerador, o Consolador por excelência. "Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia" (JO 12:48). Num plano didático de natureza divina, a Lei opera a instrumentalização da mente humana, para que, devidamente ilustrada em temas de justiça, possa o Espírito assumir a sua natureza essencial, no Amor que fez nascer e acalenta toda a Criação sem fim.
É pela chegada e instalação da proposta crística, ou seja, pelo Amor, que o Mundo se salva, se redime, se plenifica, conforme explicado por Jesus (JO 12:31): "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo". E muitos indagarão, mas como se dá o julgamento do Cristo, já que Ele não julga? Então o Evangelho esclarece: "E eu [o Filho do Homem], quando for levantado da terra, todos atrairei a mim" (JO 12:32). A salvação do mundo interno de cada criatura humana, já devidamente preparado pelas reencarnações regidas pela Lei (expiações e provas), se dá pelos testemunhos pessoais, por amor e caridade. Convertido o homem ao Evangelho, o Mundo encontrará sua redenção (Hebreus 7:22-28).