O Caminho do Reino

CAPÍTULO 23

A CURA DA SOGRA DE PEDRO



Ante todos os problemas humanos, a exigirem providências para a harmonização dos processos a que as almas se submetem, o Cristo, em sua mensagem, vibrará sempre por solução efetiva, na feição do Amor que a tudo equaciona e cura.

As enfermidades são clamores das almas, geralmente na inversão de valores ou na insipiência da mente que elege a ilusão por caminho mais fácil ou de imediata satisfação: "E, Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus enfermos" (MT 14:14). "Em princípios de soberana espontaneidade, constrói o Homem a própria existência" (O Espírito da Verdade, capítulo 78). Esta fala de André Luiz nos mostra que o livre-arbítrio autoriza a criatura a seguir pelo caminho que mais lhe apraz. Daí as experiências nem sempre positivas ou gloriosas a ferirem, pela desilusão, pelo remorso, pela culpa, as fímbrias da criatura dantes sonhadora: "E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!" (LC 15:17).

As curas operadas por Jesus nas diversas circunstâncias das anotações de seus discípulos em O Novo Testamento são, em essência, as operações do Amor, que, como Luz Imperecível, sublima, santifica, eterniza aquilo que, em nós, ainda é apenas esboço, busca, plano, anseio... No episódio em que Jesus visita a casa de Pedro e encontra sua sogra (ancestralidade geradora de sua mulher, sua "adjutora" - LC 12:53), encontramos farto material para o estudo de nossas dificuldades interiores. Tomando o texto de Lucas, no 4 de 38 a 41 (LC 4:38-41), observamos Jesus "levantar-se" da sinagoga, como a nos dizer que é necessário se projetar das bases religiosas tradicionais (próprias dos homens e do Mundo) e adotar a dinâmica das "visitas" às "casas" dos que nos aguardam pelas estradas da vida (pessoas e situações específicas no processo da inter-relação, para as permutas de sentimento à luz do Amor).

A "febre", como alarme e proteção no organismo humano, com muito acerto é utilizada em linguagem metafórica para dizer dos estados psíquicos alterados, e, nesse sentido, dizemos "febre do dinheiro", "febre do sexo", "febre do poder" etc. Na casa de Simão, sua sogra (a que gerou sua mulher - expressão do sentimento que lhe era a "adjutora" - Gênesis 2:20) estava "enferma com muita febre", ou seja, tomada por agentes perturbadores de sua harmonia ("E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária" - LC 10:41).

Atuando sobre ela, Jesus "repreende" a febre, que a deixa, e ela passa a "servi-los". Todo e qualquer problema que nos aflige e nos atormenta, se recebe a ponderação e a luz do que contém a mensagem do Cristo, libertadora por excelência, passa ao estado da harmonia, porque o colocamos na plano da relatividade, ou seja, onde as propostas das experiências corriqueiras do Mundo devem estar, por serem "meios", condições, e não a finalidade, o fim de nossa vida: "Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens" (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 6, item 2).

Assim que nos cientificamos dos propósitos divinos acerca de nossa jornada evolutiva, cujo determinismo é a perfeição, somos capazes de relativizar os acontecimentos transitórios e não mais entronizá-los por "senhores" de nosso destino, daí não mais suicídios ou homicídios, não mais guerras e ambições funestas, porque o "senso moral" nos dota de sabedoria e amor, conforme a exemplificação de Jesus.

Note-se que as "curas" operadas pelo Mestre se dão, conforme registrado em LC 4:40, "ao pôr do sol", representando o "final de ciclo" de experiência, porque Jesus não opera senão quando há edificação sob a tutela da Lei ("manhã", início de jornada). Jesus e seu Evangelho expressam o "coroamento" da evolução, daí "todos os que tinham enfermos de várias doenças" se apresentarem ao Cristo, para serem curados. Imperioso discernir que os simples, os que iniciam sua jornada de percepção da vida são regidos pela Lei (Moisés e os profetas), porque necessitam formar conceitos básicos sobre tudo.

Jesus chega para o coroamento da obra, para o aperfeiçoamento, por isso Ele não julga, mas salva o que, aparentemente, estava perdido.

Somente os experimentados possuem "enfermidades", "doenças", que são vícios, desvios de conduta a serem regenerados, sublimados: "Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei"(Romanos 2:14). O texto de Lucas noticia também a saída de "demônios" que gritavam "tu és o Cristo, o Filho de Deus", o que deixa bem claro que "enfermidades" são estados anômalos, passíveis de harmonização ao toque da Luz Divina, mas os daimones são cristalizações da personalidade que requerem tratamento diferenciado e geralmente longo. Expressam o egoísmo e o orgulho, as chagas da Humanidade, como "trevas" (sabem, mas não fazem): "Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum" (MT 17:21).