"E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?" (LC
Num primeiro momento, a proposta de reconciliação com o "adversário" ou o "inimigo", inserta nas anotações de Lucas, no 12 de 54 a 59 (LC
A par do Evangelho do Cristo, que é a suprema riqueza deste Mundo, pelo seu sentido de eternidade em Deus, somente a Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, logrou equações que são preciosas "chaves" para a efetiva emancipação consciente do Ser, ensejando domínio do que é o destino e a evolução que se processam no Universo, sem qualquer nota dissonante. Muitos autores, inclusive Espíritos, dentro de uma linha espiritualista e mais individual, criaram sistemas que "amarram" o estudioso a ideias e proposta que, em essência, são indignas do Criador. Expressam algum esforço, mas faltalhes o cunho de universalidade e de harmonização plena dos temas que esses sistemas interpretativos tentam enfeixar e expor. O advento espírita ainda não foi perfeitamente compreendido, mas será ele, em sua essencialidade conceitual, que libertará o Evangelho de Jesus Cristo das garras interesseiras do materialismo ou do profissionalismo religioso de tantos milênios: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito" (JO
Dentro dessa visão clara e discernida dos Espíritos superiores que fundaram no Mundo as balizas do Consolador Prometido, entendemos que cada criatura tem suas "medidas", e são essas "medidas" que lhe dão maior ou menor expressão moral, aplicada ao seu cotidiano: "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus"(MT
Na apreciação do versículo 58, do capítulo 12 de Lucas, vemos Jesus advertir sobre a necessidade de se livrar, no caminho, de nosso "litigante", antes de chegarmos à "autoridade" ou "magistrado", ou seja, o livre-arbítrio nos permite movimentos, escolhas, que são legítimos, até certo ponto. Qual a medida? - muitos indagarão. E as equações espíritas, interpretando os ensinos do Cristo, respondem: até o ponto em que nossa consciência, em despertamento contínuo, não nos imponha constrangimentos, aflições, fobias, temores, insegurança...
Em verdade, as experiências são imprescindíveis ao desbravamento do campo mental ("A mente é o espelho da vida em toda parte" - Pensamento e Vida, capítulo 1), e são elas, reunidas, que respondem pelo nível de progresso do Ser, por autorizar-lhe domínio sobre temas, sobre o trecho de vida percorrido, como base para novas projeções de sua inteligência e de sua sensibilidade moral. Mas essas experiências, ou os movimentos voluntários em busca dos interesses, deverão ser regulados pelo nível moral atingido até então pela criatura, e é isso que Jesus salienta no versículo citado ("Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado"), ou seja, quando estamos no movimento próprio de aprendizado, de busca, de exercício de nossa cidadania cósmica, elaborando valores internos no trato com elementos externos.
É na caminhada que devemos discernir, e não quando a culpa ou o remorso se instauram (expiação). Sempre há tempo de corrigir o passo, de reprogramar a jornada, de refazer os planos: "Procura livrarte dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão". Até o fechamento de ciclo, quando a expiação nos aprisione por insistência no erro, no vício, na deserção, temos uma medida que nos permite aprender sem nos comprometer: "Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer" (MT
Dentro das "medidas" que o processo evolutivo nos enseja, numa mesma existência, ou na somatória de várias existências, podemos nos "reconciliar" com o "adversário" (MT
Assim, retornamos à proposta de Jesus no início dessa passagem: "E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?" É condição sine qua non aprender a discernir, não somente o "bem" do "mal", mas, igualmente, o "melhor" do "menos bom"!