O Caminho do Reino

CAPÍTULO 35

SURGIRÃO MUITOS FALSOS PROFETAS



Quando observamos a saga de Adão e Eva no recém-criado Jardim, conforme narração do livro Gênesis, de Moisés, deparamo-nos com uma realidade vivida por incontáveis almas vinculadas ao globo terreno, experimentando as inquietações próprias de quem armazenou vivências e ainda se vê atraído pelos apelos de retaguarda, as concupiscências, sofrendo as provas aferidoras de seu conhecimento e ainda perigando cair nas valas das expiações: "E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais" (Gênesis 3:6-7).

A par das inúmeras interpretações que brotam desse episódio simbólico da Bíblia, a retratar nossas lutas entre o passado que tem força de Lei em nosso psiquismo, induzindo-nos a uma rotina perigosa, porque fechada no interesse pessoal, e o futuro que chega através das orientações superiores, geralmente nas revelações morais, relacionadas ao conteúdo do Evangelho e estribadas, para efeito de ressonância, na sensibilidade já desenvolvida por nós, que funciona como claustro gerador de novos caracteres em nosso íntimo, descobrimos o significado essencial do termo "expansão", citado no primeiro capítulo do Gênesis, abordando o mecanismo da Criação Divina: "E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas" (Gênesis 1:6). Forçoso entender que entre nosso modo de ver e sentir a vida, através das ondas mentais (os "nossos pensamentos"), e o "pensamento divino" a se espraiar no Universo por ondas concêntricas de largas possibilidades, lembrando os movimentos espiraloides da nossa galáxia, que é singelo lance do poder Criador, encontramos o "campo" dadivoso que nos permite experimentar para compreender e fazer para ser, numa expansão de sabor infinito...

Tendo por piso semelhantes percepções, poderemos depreender que os "falsos profetas" (MT 24:24) são componentes inarredáveis do caminho evolutivo de quantos jornadeiam rumo à angelitude, para que haja dinamismo fixador dos conteúdos morais nesse processo de expansão de potenciais: "Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" (Tiago 1:12). Alargando nossa visão interpretativa, na base do discernimento justo, interpretaremos "falsos cristos e falsos profetas" como manifestações personalistas e tendenciosas, dentro de jogos puramente mentais, intelectuais, para justificação de poder ilusório e de vaidades tóxicas. Se o falso profeta geralmente opera como "justiceiro", adulterando por interesse pessoal a harmonia da Justiça perfeita, o falso cristo propõe a "máscara da santidade", como o lobo vestido de ovelha: "Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas" (JO 10:12).

Esse contexto terreno de formação moral, revelando o "bem" e o "mal", ou o "melhor" e o "menos bom", como "céu e terra", como "dia e noite", como "luz e treva", se define bem quando Jesus, em seu formoso Sermão, refere-se a "guerras e rumores de guerras", ao levante de "nação contra nação", de "reino contra reino", tendo por resultante "fomes, pestes e terremotos"... (MT 24:5-8). Embora possamos ver isso de modo global no Planeta, o maior objetivo do Cristo, por compreender que os grandes conflitos nascem de cada coração sem rumo ou desvirtuado moralmente, é a terra íntima de cada um de nós, porque, "envenenados" pelo interesse pessoal e egoístico, a força bruta, na feição de violências, é nossa defesa e estratégia de conquista, daí os levantes de "nação" (personalidade) contra "nação", de "reino"(domínio, apego) contra "reino", gerando desespero e sofrimentos ("fomes" de paz, de concórdia, de união, de estabilidade, de equilíbrio físico e moral).

A falsidade ideológica, estribada nos julgamentos precipitados, nas ações tendenciosas e em busca da entronização do "eu" (orgulho), lança a criatura aos abismos de si mesma (inferno), enquanto suas escolhas infelizes "provam e expiam" os que estão em torno: "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (MT 18:7).