O Caminho do Reino

CAPÍTULO 37

A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO



Sem a presença física de Jesus Cristo no Orbe, todo o seu processo evolucional, em aspecto moral, estaria comprometido, embora a legitimidade de seus antecessores em todos os domínios conhecidos do Mundo, arrostando o terreno ainda impermeável das almas brutas para o advento do Amor e da Verdade. Krishna, Buda, Zoroastro, Fo-Hi, Lao-Tsé, Pitágoras, Sócrates e um elenco de avatares vieram ao Mundo a serviço do "Filho de Deus" que nos rege os destinos no Planeta, para "criarem", de algum modo, referenciais dessa pureza que nos interessa a todos, quais os raios de um sol magnânimo a rasgar a noite das obscuridades em que sobreviviam e lutavam os filhos da Terra: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim" (MT 24:14).

O Cristo opera, em Jesus, a "unidade" da Criação excelsa do Pai, seja na individualidade de Jesus perante a Terra, assim como na missão crística assumida por este - a síntese do poder divino em reflexão pelo Cosmos, através de Seus filhos purificados graças à mecânica evolucional e, por isso, cocriadores em plano maior: "Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo"(Efésios 4:6-7).

Compreendendo que a "unidade" é o determinismo da Vida Universal, reunindo todos os filhos em potencial no seio do Criador e Pai ("Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor" - JO 10:16), identificaremos, nos processos múltiplos de experimentação de vida, os Espíritos em diversos patamares evolutivos, a "se ensaiarem" para a justa percepção de seu destino supremo - Deus. Será dentro dessa órbita de apreciação que entenderemos os lances do Sermão Profético em análise. Após a primeira laçada, em que há a descrição dos "choques" de interesses (personalismo, individual e coletivo), colocando nação contra nação e reino contra reino (domínios de orgulho e vaidade, nascidos do egoísmo), fomentando ódios, mortes (golpes morais que exterminam ideais, esperanças, sonhos), traições, pestes (depressões, síndromes do comportamento, obsessões) e terremotos (perda do piso de vida, ausência de identidade), falsos profetas e falsos cristos surgem, por espírito de rapina (oportunistas, obsessores), sobre cadáveres (morte moral, expiação): "E, respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias" (LC 17:37).

Vencido esse primeiro lance da espiral evolutiva que o Sermão em análise configura, em sabedoria e beleza moral, vamos observar que "este evangelho do reino será pregado em todo o mundo", quer dizer, após a guerra de egos, quando surge a saturação de alma e, com ela, chegam as reflexões e deduções de natureza moral, é que o Evangelho, como a Boa Nova do Reino Divino, pode ser notado, observado, estudado, considerado: "Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda" (MT 24:15). A partir desse momento, ocorre uma abertura significativa nos corações - esse "lugar santo" das almas –, e o entendimento se faz, para então se cumprir a "finalidade" da vida ("E então virá o fim"), pela iluminação e conversão das criaturas em lutas.

As imagens utilizadas por Jesus, logo a seguir (versículos de 16 a 18), referem-se à elevação - montes, telhado, campos. Nesta hora, nada que se refira a "gueto", a "corporação", a "personalismo" pode prevalecer, pois é chegado o tempo da "comunhão" no divino, condição sublimada para que o Amor reine. "Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias" (versículo 19). Estas são imagens belíssimas, a nos dizerem dos que, diante de tantas lutas saturantes, ainda persistem, algo saudosistas, como a mulher de Ló, que, ao sair de sua cidade em destruição, não conseguiu avançar e "cristalizou-se" como uma estátua de sal. Intimamente ficamos grávidos quando somos "fecundados" por algum ideal ou objetivo que passa a nos dominar progressivamente. O "filho" ou a execução do que desejamos e esperamos se desenvolve por dentro, num processo febril e obsidente, até que o concluímos, e o crime é cometido contra a consciência: "Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:15). Quanto à amamentação, isso ocorre quando "nutrimos" o homem velho, o vício, a deserção. São os cultos internos ao que mais não presta, ao que não pode mais nos ajudar: "Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (MT 4:10). E como "tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3:1), toda alma deve ser diligente para não "fugir"(versículo
20) no "inverno" (declínio das forças) ou no "sábado" (dia simbólico consagrado ao descanso da obra que termina no dia sexto).