A Parábola do Filho Pródigo é uma fonte de sublimes reflexões sobre o longo e tantas vezes penoso processo evolutivo, que guinda o Espírito, de sua condição "simples e ignorante", aos apogeus da sabedoria e do amor - condição dos puros Espíritos, que operam as Vontades do Criador na Criação.
Registrada no Evangelho de Lucas, no 15 de 11 a 32 (LC 15:11-32), o texto culmina no confronto dos dois irmãos: o mais novo (referência à condição ainda infante de um dos filhos) e o mais velho, que estava no campo e, chegando à casa, surpreende uma festa com música, dança e comida. Essa postura do filho que não deixou a casa paterna é um retrato fiel da "convenção", dos que, seguindo a Lei e não conseguindo interpretá-la em sua proposta essencial (absorver a lição de que é portadora), dogmatizam e se tornam rígidos, exigentes, preconceituosos, egoístas... A cristalização mental responde pelas "prisões" psicológicas e emocionais que escravizam as pessoas, tornando-as verdadeiros "azorragues de cordéis" (JO 2:15) - instrumentos de suplício para quem se enveredou nas malhas da expiação ou para quem necessita dar testemunho de tolerância e amor aos semelhantes de modo incondicional.
O filho mais velho da parábola ilustra o que o apego às convenções, por mais nobres elas sejam, pode fazer com o indivíduo. No processo evolutivo que nos é comum, "entrar" nas órbitas de condicionamento como as da reencarnação, da interpretação religiosa (igrejas, religiões) e mesmo da profissão ou dos relacionamentos interpessoais (mãe, pai, irmãos, amigos, amores) torna-se um dever, um imperativo do aprendizado cósmico, porque essas "gravitações", essas "vinculações" são meios efetivos de fazer desabrochar, em nosso íntimo, valores que dormitam, ainda desconhecidos ou não plenamente explorados.
Mas o grande salto para a Vida Eterna, ou seja, a real conquista, se dá quando o indivíduo, nesse processo de orbitação ou de vinculação, compreende e aceita, mesmo com algum sacrifício, que sempre chega a hora de "sair" do processo (quebra de vínculos, perda de recursos, mudança de rumos, desencarnação ou sublimação de sentimentos acerca do vínculo).
No estudo dos processos reencarnatórios, o filho mais novo alcança méritos pelo arrojo a que se dá: "E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda" (LC 15:12). Essa proposição é consciente, pois somos herdeiros de Deus, e o Criador espera nos movimentemos na Criação, para expansão dos potenciais que nascem d’Ele e que são dinamizados por nós, os Seus filhos ("cocriação": "Mas vós frutificai e multiplicaivos; povoai abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela" - Gênesis 9:7). Quando o filho mais velho admoesta o Pai ("Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos"), assume a posição de servo comum, que opera pelo ganho, pelo negócio, e foge à condição do filho que comunga, que compartilha os bens do Pai.
Depreende-se daí que ele é a imagem de Caim, em nova versão, sob novo prisma ("Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irouse Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante" - Gênesis 4:5). Esse filho mais velho se submetia à Lei, mas a Lei, por si, apenas prepara, não dá o galardão, porque todas as operações realizadas sob o guante da Lei condicionam, preparam (João Batista foi precursor de Jesus, preparava ele o Caminho), mas não plenificam: "Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre" (Hebreus 7:28).
Em contrapartida à insatisfação e rebeldia do filho mais velho (o Caim reeditado em convenções, submetido à Lei, mas caprichoso e exigente como dantes), o Pai, com mansidão e incondicional amor, responde: "Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se" (LC 15:31-32). Num sublime testemunho do legítimo escopo do Evangelho (que é Amor), o Pai avoca a "ressurreição", o "cair em si" do filho mais novo, considerando que, pelo cumprimento da Lei (resgate, expiação, submissão ao que é correto), ele, o filho mais velho, já estava inserido nos santos propósitos da Vida Universal, enquanto o irmão, utilizando o livre-arbítrio, tomara caminhos duvidosos, perigosos e conseguira reencontrar a casa paterna por deliberação pessoal, num fechamento digno de ciclo evolutivo (despertamento da consciência).