1 Naquele tempo Herodes tetrarca ouviu a fama de Jesus.
2 E disse aos seus criados: Este é João Batista; ele ressuscitou de entre os mortos e por isso obram nele tantos milagres.
3 Porque Herodes tinha feito prender a João e ligar com cadeias; e assim o meteu no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão.
4 Porque João lhe dizia: Não te é licito tê-la por mulher.
5 E querendo matá-lo temia o povo, porque o reputavam como um profeta.
6 Mas no dia em que Herodes fazia anos, bailou a filha de Herodias diante de todos e agradou a Herodes.
7 Por onde ele lhe prometeu com juramento que lhe daria tudo o que lhe pedisse.
8 Mas ela, prevenida por sua mãe: Dá-me, disse, aqui em um prato a cabeça de João Batista.
9 E o rei se entristeceu; mas pelo juramento e pelos que estavam com ele à mesa, lha mandou dar.
10 E deu ordem que fossem degolar a João no cárcere.
11 E foi trazida sua cabeça num prato e dada à moça e ela a levou à sua mãe.
12 E chegando os seus discípulos, levaram o seu corpo e o sepultaram e foram dar a notícia a Jesus.
João Batista é o símbolo do cristão que se sacrifica pela Verdade. Todavia João Batista não sofreu unicamente pela Verdade que pregava. Em virtude da lei de causa e efeito, sabemos que não há efeito sem causa. Por conseguinte, para que João Batista sofresse a pena de decapitação é porque ainda tinha dívidas de encarnações anteriores a pagar. Apesar do alto grau de espiritualidade que tinha alcançado, João teve de passar pela mesma pena que infligira aos outros. De fato, se João Batista era a reencarnação de Elias, poderemos ver nessa decapitação o saldo da dívida que tinha contraído quando, como Elias, mandou decapitar os sacerdotes de Baal. É a Justiça Divina que se cumpre, nada deixando sem pagamento. Deus, porém, sempre une a Justiça à Misericórdia e assim permitiu que João resgatasse o passado, trabalhando também pelo seu futuro espiritual, com o desempenho de sua tarefa de abrir caminho a Jesus. Também a nós é dada essa oportunidade: espíritos devedores que somos, se bem soubermos aproveitar nossa encarnação, iremos liquidando o passado culposo e construindo um futuro feliz.
13 E quando Jesus o ouviu, se retirou dali em uma barca, a um lugar solitário apartado; e tendo ouvido isto, as gentes foram saindo das cidades a pé, em seu seguimento.
14 E ao saltar em terra, viu Jesus uma grande multidão de gente e teve deles compaixão e curou os seus enfermos.
15 E vindo a tarde, se chegaram a ele os seus discípulos, dizendo: Deserto é este lugar e a hora é já passada; deixa ir essa gente, para que passando às aldeias compre de comer.
16 E Jesus lhes disse: Não têm necessidade de se ir; dai-lhes vós outros de comer.
17 Responderam-lhe: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.
18 Jesus lhes disse: Trazei-mos cá.
19 E tendo mandado à gente que se recostasse sobre o feno, tomando os cinco pães e os dois peixes, com os olhos no céu abençoou e partiu os pães e os deu aos discípulos e os discípulos ao povo.
Nesta pequena narração, temos de distinguir dois aspectos: o material e o espiritual. Materialmente falando, o fato pertence ao gênero dos fenômenos de efeitos físicos. E nas sessões espíritas de efeitos físicos, já se tem observado a formação de objetos pelos espíritos com o auxílio dos médiuns. Jesus, médium de Deus, ajudado pela mediunidade de seus doze discípulos e assistido pelos espíritos que o secundavam nos trabalhos evangélicos, faz com que se materialize em suas mãos os bocados de pão para o povo.
Interpretado o fato pelo lado espiritual, Jesus ordena a seus discípulos, que satisfaçam o ardente desejo do povo em se instruir nas coisas divinas.
Realmente, era em busca da palavra de Jesus e pelo conforto espiritual pelo qual ansiava, que o povo o seguia. E os discípulos, possuidores de um maior conhecimento espiritual, estavam em condições de saciarem a fome de saber espiritual da multidão.
Mandando que os discípulos dessem de comer ao povo, é como se Jesus lhes dissesse: Ensinai a todos o que sabeis e vereis que ficarão fartos.
Espiritualmente falando, o Espiritismo repete hoje o milagre da multiplicação dos pães. Por toda a parte, humildes Centros Espíritas congregam as multidões e os espíritos do Senhor, distribuindo o pão da palavra divina, saciam a fome espiritual de quantos os procuram.
20 E comeram todos e se saciaram. E levantaram, do que sobejou, doze cestos cheios daqueles fragmentos.
21 E o número dos que comeram foi de cinco mil homens, sem falar em mulheres e meninos.
O Evangelho é o celeiro de Jesus. Neste celeiro há pãO para todos os famintos, porque o Mestre não deixa que se perca a mínima parcela de seus ensinamentos. Assim Jesus sacia os que o procuram de boa vontade e sempre sobra para os retardatários, que acorrem a ele, premidos pela dor e pela necessidade de luzes e de conforto espiritual.
22 E obrigou logo Jesus a seus discípulos a que se embarcassem e que passassem primeiro que ele à outra ribeira do lago, enquanto ele despedia a gente.
23 E logo que a despediu, subiu só a um monte a orar. E quando veio a noite, achava-se ali só.
É significativo o fato de Jesus não procurar os templos, nem os lugares consagrados para orar. Quis, assim, ensinar-nos que as oraçôes a Deus podem ser feitas em qualquer parte, porque a presença de Deus abrange o Universo e de onde estivermos, ele nos ouvirá e nos dará segundo nosso merecimento, isto é, segundo nossas obras.
De duas maneiras podemos orar: em conjunto e isolados. Reunindo-se várias pessoas para orarem em conjunto, a prece adquire extraordinário valor, por formar-se uma fõrte corrente rituais; serão assim beneficia os os sofredores encarnados e os desencarnados. Quando oramos isolados, em lugar solitário, longe das multidões e do bulício, onde o silêncio favoreça nossa meditação e concentração, retemperamos nossas forças fluídico-espirituais; assim ficamos encorajados e fortificados para os trabalhos terrenos. Devemos também aproveitar esses momentos de solidão para agradecermos ao Pai as infinitas graças que recebemos continuamente. Pobres e ricos, sábios e ignorantes, sãos e doentes, sempre teremos o que agradecer à misericórdia divina, da qual nos provém tudo.
24 E a barca no meio do mar era combatida das ondas, por que o vento era contrário.
25 Porém, na quarta vigília da noite, veio Jesus ter com eles, andando sobre o mar.
26 E quando o viram andar sobre o mar, se turbaram, dizendo: É pois um fantasma. E de medo começaram a gritar.
27 Mas Jesus lhes falou imediatamente, dizendo: Tende confiança, sou eu, não temais.
28 E respondendo, Pedro lhe disse: Senhor, se tu és, manda-me que vá até onde tu estás, por cima das águas.
29 E ele lhe disse: Vem. E descendo Pedro da barca, ia caminhando sobre a água para chegar a Jesus.
Assistimos aqui a um fenômeno de levitação, o qual pertence à categoria dos fenômenos de efeitos físicos. Nas sessões de efeitos físicos já se viram médiuns serem sustentados no ar e desse modo serem transportados como se propriamente andassem no ar. Jesus nos dá um exemplo desse fenômeno sendo levitado sobre a água. E ao permitir que Pedro lhe fosse ao encontro, Jesus faz com que Pedro também fosse levitado.
30 Vendo porém que o vento era rifo, temeu — e quando se ia submergindo gritou, dizendo: Senhor, põe-me a salvo.
31 E no mesmo ponto Jesus, estendendo a mão, o tomou por ela e lhe disse: Homem de pouca fé, porque duvidaste?
32 E depois que subiram à barca, cessou o vento.
33 Então vieram os que estavam na barca e o adoraram, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus.
Toda dúvida traz fracasso. Foi o que aconteceu com Pedro ao temer; faltando-lhe a fé, faltou-lhe o amparo. Através da vida, jamais devemos duvidar do. auxílio divino. Todas as vezes em que a dúvida se instalar em nosso intimo, abrimos as portas para a derrota. É mister que fortaleçamos a fé, nunca duvidando do auxílio divino, que no momento oportuno chegará infalívelmente, às vezes por meios inesperados.
Simbolicamente podemos ver na barca batida pelas ondas nós mesmos, quando somos visitados pelo sofrimento. A fé nos salva nos momentos dolorosos, como a mão de Jesus salvou Pedro. Quando as ondas do desespero e da dúvida ameaçarem tragar-nos; devemos apoiar-nos inteiramente e com a máxima confiança em Deus, pois a fé é qual luz que ilumina nosso roteiro, fazendo com que evitemos esses dois terríveis abismos que são a dúvida e o desespero.
34 E tendo passado à outra banda, vieram para a terra de Genesaré.
35 E depois de o terem reconhecido os naturais daquele lugar, mandaram por todo aquele país circunvizinho e lhe apresentaram todos quantos padeciam algum mal.
36 E lhe rogavam que os deixasse tocar sequer a orla de seu vestido. E todos os que o tocaram ficaram sãos.
Curando os enfermos, Jesus predispunha o povo a ouvi-lo e a comentarlhe os ensinamentos, atraindo-o amorosamente a si.
As curas de Jesus efetuavam-se pela fé. Essas curas se operavam da seguinte maneira: Jesus, cuja confiança em Deus era ilimitada, irradiava fluidos curativos; bastava que o enfermo possuísse um pouco de fé, para movimentar a seu favor os fluidos curativos, que se emanavam de Jesus.
A fé constitui uma força de atração e de projeção. Pela sua fé em Deus, Jesus projetava seus eflúvios curativos sobre o doente e pela sua fé o doente tornava seu corpo receptivo a esses fluidos. As duas vontades, a de Jesus e a do doente, firmados na fé em Deus, produziam a ambicionada cura.
Modernamente, o Espiritismo, ensinando como se formam correntes magnéticas curativas por meio dos médiuns e fazendo brotar um pouco de fé nos corações sofredores, consegue realizar algumas curas espirituais.