O Evangelho dos Humildes

CAPÍTULO 17

A TRANSFIGURAÇÃO



(Mt 17:1-27; Mc 9:2-8; Lc 9:28-36)
1 E seis dias depois toma Jesus consigo a Pedro e a Tiago e a João, seu irmão, e os leva à parte, a um alto monte:

2 E transfigurou-se diante deles. E o seu rosto ficou refulgente como o sol, e as suas vestiduras se fizeram brancas como a neve.

3 E eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com ele.

4 E começando a falar, Pedro disse a Jesus: Senhor, bom é que nós estejamos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos: um para ti, outro para Moisés, e outro para Elias.

5 Estando ele ainda falando, eis que uma lúcida nuvem os cobriu. E eis que saiu uma voz da nuvem, que dizia: Este é aquele meu querido Filho em quem tenho posto toda a minha complacência; ouvi-o.

6 E ouvindo isto, os discípulos caíram de bruços e tiveram grande medo.

7 Porém Jesus se chegou a eles e tocou-os; e disse-lhes: Levantai-vos e não temais.

8 Eles então, levantando os seus olhos, não viram mais do que tãosomente a Jesus.

À medida que se aproxima o instante do desencarne de Jesus, mais ele se preocupa em fortalecer a fé e o bom ânimo de seus discípulos. E recorre a todos os meios para que eles possam, depois, desassombradamente espalharem a nova doutrina, fortificados pela lembrança das provas que o Mestre lhes dera.

Transfigurando se diante de Pedro, Tiago e João e fazendo com que Moisés e Elias aparecessem ao seu lado, Jesus deu a seus discípulos uma prova segura e concreta da imortalidade da alma. Quando ele desencarnasse no alto da cruz, estes discípulos se recordariam da cena da transfiguração e não perderiam a fé. Foi tão real a materialização dos dois profetas ao lado de Jesus, que Pedro pede permissão para levantar os tabernáculos, um para cada um. Esta ideia foi afastada não só pela impossibilidade de executá-la, como também porque Jesus quer que seu tabernáculo seja o nosso próprio coração, purificado pela fiel observância de seus ensinamentos.

A voz que ouviram era um hino de glória, que os espíritos superiores entoavam em louvor ao Mestre.

Tomada em seu sentido simbólico, a transfiguração significa que as provas materiais, quando cumpridas de conformidade com as leis divinas, transfiguram o espírito, tornando-o puro e luminoso.

A transfiguração pertence à categoria dos fenômenos de efeitos físicos e já foi observada nas sessões experimentais de efeitos físicos, nas quais se assistiu a médiuns se transfigurarem e tornarem-se luminosos.

9 E quando eles desciam do monte, lhes pôs Jesus preceito, dizendo: Não digais à pessoa alguma o que vistes, enquanto o Filho do homem não ressurgir dos mortos.


(Mc 9:9-13)

10 E os seus discípulos lhe perguntaram dizendo: Pois por que dizem os escribas que importa vir Elias primeiro?

11 Mas ele, respondendo, lhes disse: Elias certamente há de vir, e restabelecerá todas as coisas.

12 Digo-vos porém que Elias já veio, e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às suas mãos.

13 Então conheceram os discípulos que de João Batista é que ele lhes falara.

Conquanto tenham sido anunciados com antecedência os missionários, que assentariam as bases da reforma espiritual do planêta, quando iniciaram seus trabalhos, não foram reconhecidos. E além de tudo, foram perseguidos e combatidos. Jesus não escaparia à regra geral: sofreria também o combate e a perseguição que tôda ideia nova acarreta a seus pregadores.

Jesus pedia a seus discípulos que guardassem sigilo, por causa da incompreensão dos homens da época, os quais ainda não estavam preparados para compreenderem tudo quanto Jesus fazia ou ensinava. Era preciso que o tempo lhes fosse aumentando o cabedal de conhecimentos espirituais, a fim de aprenderem o significado das palavras e dos atos de Jesus. Caso os discípulos espalhassem certas particularidades que o Mestre lhes mostrava, possívelmente surgiriam dúvidas, confusão e mesmo até o descrédito de sua missão.

Dizendo que Elias já viera, Jesus demonstra a seus discípulos a reencarnação dos espíritos, os quais se reencarnam periodicamente, não só para progredirem e saldarem o passado culposo, como também para desempenharem tarefas em benefício da coletividade.


A CURA DE UM LUNÁTICO

(Mc 9:14-29; Lc 9:37-42)

14 E depois que veio para onde estava a gente, chegou a ele um homem que, posto de joelhos diante dele, lhe dizia: Senhor, tem compaixão de meu filho, que é lunático, e padece muito; porque muitas vezes cai no fogo, e muitas na água.

Este é um caso de possessão. Em nossos dias, é comum comparecerem aos Centros Espíritas infelizes irmãos, apresentando este gênero de loucura.

Não são loucos; são simplesmente vítimas de espíritos desencarnados que os perseguem.

O Espiritismo, demonstrando a causa de grande número de sofrimentos tidos por loucura, é o melhor remédio para os supostos loucos.

15 E tenho-o apresentado a teus discípulos, e eles o não puderam curar.

16 E respondendo, Jesus disse: Ó geração incrédula e perversa, até quando hei de estar convosco? até quando vos hei de sofrer? Trazei-mo cá.

17 E Jesus o ameaçou e saiu dele o demônio, e desde aquela hora ficou o moço curado.

18 Então se chegaram os discípulos a Jesus em particular e lhe disseram: Por que não pudemos nós lançá-lo fora?

19 Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá; e ele há de passar e nada vos será impossível.

O simples fato de alguém se intitular discípulo de Jesus, e o suficiente para adquirir a autoridade necessária para falar em nome dele. A autoridade espiritual se consegue através da moralidade. É preciso cultivar a fé viva, a pureza de pensamentos, de palavras e de atos, a fim de que os espíritos inferiores obedeçam irresistívelmente a quem os mandar.

Os discípulos ordenavam ao espírito obsessor que abandonasse a vítima; porém vacilavam na fé, duvidavam de si próprios, o que fornecia forças para o obsessor desobedecer-lhes.

O cultivo da fé, isto é da confiança ilimitada na bondade divina desenvolve dentro de nós uma alta força magnética, que convenientemente usada pela nossa vontade, é capaz de operar prodígios, sempre que for utilizada para beneficiar nosso próximo.

Não devemos, é claro, tomar ao pé da letra a figura de que Jesus se serve para exemplificar o poder da fé. Todavia, remover o mal, os vícios e os erros dos corações dos homens é tarefa talvez maior que mandar um monte se mova do lugar. Contudo, Jesus nos adverte de que por pequenina que seja nossa fé, sempre conseguiremos influir favoravelmente no sentido de melhorar a nós e a nossos semelhantes.

20 Mas esta casta de demônios não se lança fora, senão à força de oração e de jejum.

Aqui Jesus faz referência aos espíritos inferiores, refratários ao influxo do bem e que por isso exigem fervorosa oração e alto padrão de moralidade dos que os doutrinam. A oração fervorosa é aquela que se faz ao Pai, cheia de amor pelo irmão infeliz, que ainda se compraz na ignorância. O jejum que Jesus recomenda é o jejum espiritual, que consiste na abstinência dos vícios, da imoralidade, e na renúncia a bem do próximo, jejum esse que dá forças ao doutrinador para lidar com os espíritos rebeldes.

21 E achando-se eles juntos em Galileia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem será entregue às mãos dos homens.


(Mc 9:30-32; Lc 9:43-45)

22 E estes lhe darão a morte, e ressuscitará ao terceiro dia. E eles se entristeceram em extremo.

A missão de Jesus estava quase terminada aqui no plano terreno. Sua ação como encarnado findava, para que ele a recomeçasse no plano espiritual, onde trabalha e trabalhará até a consumação dos séculos, em benefício de seus pequeninos tutelados que somos todos nós.

Aproximava-se o momento de ele voltar para o Alto. Apesar de sua elevada hierarquia espiritual, Jesus pede forças ao Pai e não se esquece de fortificar seus discípulos.

Precisamos não nos esquecer de vigiar e de orar, pois, nós também, de acordo com nosso adiantamento espiritual, teremos desses momentos supremos, nos quais demonstraremos nossa fé e nossa fortaleza moral, e espiritual.


JESUS PAGA O TRIBUTO

23 E tendo vindo para Cafarnaum, chegaram-se a Pedro os que cobravam o tributo das duas dracentímetroas, e disseram-lhe: Vosso Mestre não paga o tributo das duas dracentímetroas?

24 Ele lhes respondeu: Paga. E depois que entrou em casa, Jesus o preveniu, dizendo: Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou censo? de seus filhos ou de estranhos?

25 E Pedro lhe respondeu: Dos estranhos. Disse-lhe Jesus: Logo estão isentos os filhos.

26 Mas para que os não escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol; e o primeiro peixe que subir, toma-o; e abrindo-lhe a boca, acharás dentro um stater; tira-o e dá-lho por mim e por ti.

De tudo Jesus procurava extrair lições proveitosas para seus aprendizes.

Não deixava escapar nenhuma ocasião de ensiná-los a viverem na terra, segundo as leis de Deus. Os mais pequeninos fatos da vida cotidiana forneciam-lhe o material para desenvolver os seus ensinamentos e os exemplos para ilustrá-los. Assim, conseguiu fazer de seu Evangelho, não só um manual prático, que devemos observar, em nossa vida diária de relação com nosso próximo, como também de respeito e de amor para com nosso Pai Celestial.

Nesta passagem em que se conta como Jesus paga o tributo, ele nos lega uma lição de fé no trabalho. Ele nos demonstra que com o trabalho honesto e honrado de nossas mãos ou de nossa inteligência, granjearemos tudo quanto necessitamos para nossa subsistência, e para cumprirmos lealmente nossas obrigações e compromissos terrenos.

Ao serem Pedro e Jesus solicitados para pagarem o tributo, não tinham o dinheiro. E Pedro foi pescar. Com o tra balho de Pedro, foi pescado um peixe que, vendido, deu-lhes a quantia de que precisavam para o pagamento do imposto.

Em sua simbologia, este trecho do Evangelho nos recorda que por mais aflitiva que seja nossa situação financeira, o trabalho é o recurso que o Pai nos deu para resolvermos satisfatoriamente a parte material de nossa existência terrena.