O Evangelho dos Humildes

CAPÍTULO 3

JOÃO BATISTA



MT 3:1-12


MC 1:1-8

LC 3:1-20


JO 1:19-34

1 Naqueles dias pois veio João Batista pregando no deserto da Judeia.

2 E dizendo: Fazei penitência; porque está próximo o reino dos céus.

3 Porque este é de quem falou o Profeta Isaías, dizendo: Voz do que clama no deserto; aparelhai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas.

4 Ora o mesmo João tinha um vestido de peles de camelo e uma cinta de couro em roda de seus rins; e a sua comida era gafanhotos e mel silvestre.

5 Então vinha a ele Jerusalém e toda a Judeia e toda a terra da comarca do Jordão.

6 E confessando os seus pecados, eram por ele batizados no Jordão.

7 Mas vendo que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, lhes disse: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?

8 Fazei pois dignos frutos de penitência.

9 E não queirais dizer dentro de vós mesmos: Nós temos por pai a Abrahão; porque eu vos digo que poderoso é Deus para fazer que nasçam destas pedras filhos a Abrahão.

10 Porque já o machado está posto à raiz das árvores. Toda a árvore pois que não dá bom fruto será cortada e lançada no fogo.

11 Eu na verdade vos batizo em água para vos trazer d penitência; porém o que há de vir depois de mim émais poderoso do que eu; e eu não sou digno de lhe ministrar o calçado; ele vos batizará no Espírito Santo: e no fogo.

12 A sua pá na sua mão se acha; e ele a limpará muito bem a sua eira; e recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará as palhas num fogo que jamais se apagará.

A figura máscula de João Batista inicia a idade evangélica, na qual estamos. Pregador rude, homem de um viver austerissimo, desprezou as comodidades da vida, a ponto de se alimentar com o que achava no deserto e de se vestir com a pele de animais. Assim impressionou fortemente o povo, que acorria a ouvi-lO e a pedir-lhe conselhos. Poderoso médium inspirado, foi o transmissor das mensagens do Alto, pelas quais se anunciava a chegada do Mestre e o começo dos trabalhos de regeneração da humanidade.

A todos os que queriam tornar-se dignos do reino dos céus, João aconselhava que fizessem penitência.

Qual seria essa penitência, primeiro passo a ser dado em direção ao reino de Deus?

Não eram as longas orações, nem os donativos e esmolas; nem as peregrinações aos lugares santos nem as construções de capelas; nem os jejuns nem os votos nem as promessas; não era a adoração de imagens nem a entronização delas.

A penitência não consistia em formalidades exteriores, mas sim na reforma do caráter e na retificação dos atos errados que cada um tinha praticado.

De que valem formalidades exteriores se o íntimo de cada qual permanece o mesmo? As práticas exteriores podem enganar os homens, mas não enganam a Deus, nosso Pai.

Qual o valor da confissão de erros a um homem, que, geralmente, erra tanto quanto seus irmãos?

Permanecendo o erro de pé, pode haver justificativa diante de Deus, nosso Pai?

A verdadeira confissão se faz quando se procura a pessoa a quem se ofendeu e com ela se conserta o erro.

Roubaste teu irmão? Restitui-lhe o que lhe roubaste.

Defraudaste alguém? Entrega-lhe o que lhe pertence.

Cometeste adultério? Purifica-te por um viver honesto. Tens vícios?

Abandona-os.

És mau, vingativo, rancoroso? Torna-te bom, perdoas sê indulgente.

És rico? Ajuda o pobre.

És pobre? Não murmures contra tua situação.

És sábio? Instrui o ignorante.

És forte? Ampara o fraco.

És empregado Obedece diligentemente.

És patrão? Sê humano para com teus subalternoS.

Sois pais? Encaminhai VOSSOS filhos pelas veredas do bem.

Sois esposos? Tratai-vos com carinho, amor e amizade, fazendo do lar um santuário de virtudes, de abnegação e de devotamento.

Sois filhos? Respeitai vossos pais.

Estes são alguns dos dignos frutos de penitência que João ordenava que se fizessem.

Já o machado está posto à raiz das árvores é uma das mais belas, sugestivas e vigorosas das figuras usadas por João, para demonstrar-nos o que sucederá depois de a Terra ter recebido o Evangelho.

O Evangelho é a lei eterna de Deus, reguladora dos atos de cada um de nós, não só no plano terreno, como em qualquer outro plano do Universo. O Pai promulgou uma só lei para seus filhos, não importa em que plano habitem.

O Evangelho é o Regulamento Moral que cumpre observar. Ora, acontecerá que serão banidos da Terra os espíritos que não se conformarem com a lei evangélica. Os endurecidos no mal e nos vícios e sem vontade de se reformarem, desencarnarão. Depois de desencarnados não se reencarnarão mais na terra; emigrarão da terra para planos do Universo que estiverem de acordo com seus caracteres.

E Jesus terá limpa sua eira, isto é, a terra será habitada somente pelos espíritos evangelizados. E a palha, isto é, os espíritos que não aceitarem o Evangelho, em novos ambientes sofrerão as transformações que os levarão, futuramente, a caminho do Bem.


O BATISMO DE JESUS

(Mt 3:13-17; MC 1:9-11; Lc 3:21-23)

13 Então veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele.

14 Porém João impedia, dizendo: Eu sou o que devo ser batizado por ti e tu vens a mim?

15 E respondendo, Jesus lhe disse: Deixa por ora; porque assim nos convém cumprir toda a justiça. E ele então o deixou.

16 E depois que Jesus foi batizado, saiu logo para fora da água; e eis que se lhe abriram os céus; e viu o Espírito de Deus, que descia como pomba e que vinha sobre ele.

17 E eis uma voz dos céus que dizia: — Este é meu filho amado, no qual tenho posto toda minha complacência.

Este ponto, em que os EvangeliStaS tratam do batismo do Mestre, deu origem a intermináveis discussões, que sempre se reacendem ao depararem com circunstâncias favoráveis.

Todas as seitas que se constituíram ao influxo das palavras evangélicas, adotaram o batismo. Algumas de um modo racional, pois só permitem que seus adeptos se batizem na idade em que possam julgar o ato que praticam. Outras obrigam seus seguidores a se batizarem na prmeira infância, idade em que lhes é impossível avaliarem a cerimônia na qual tomam parte inconscientemente.

O batismo em nossos dias é uma formalidade exterior, sem significado moral e serve apenas para a satisfação de vaidades e preconceitos arraigados nos coraçõeS dos pais. o Espiritismo não adota o batismo. O batismo, diante das revelações do Espiritismo. é uma cerimônia do passado, inútil no presente.

E por que Jesus se batizou?

Porque lhe convinha cumprir toda a justiça, segundo ele próprio o declara a João.

O precursor encerra o período das fórmulas exteriores, quais até então se adorava o Pai. Jesus inaugura o período em que se presta veneração a Deus em espírito e verdade, no santuário da consciência de cada um de seus filhos.

O batismo de João era bem diferente do que conhecemos em nossos dias.

Pregando no deserto as alvoradas do reino dos céus, dirigia enérgico convite a todos para que se preparassem para o luminoso dia da redenção. Seduzidos pela sua palavra vibrante de fé, muitos dos ouvintes se arrependiam da vida delituosa que tinham levado e confessavam-lhe as faltas, como penhor e que não tornariam a cometê-las. E João batizava-os, isto é, lavava-os, dando a entender que o arrependimento sincero, seguido do firme propósito de não mais reincidir no erro, limpa o espírito como a água limpa o corpo.

E João prega que Jesus batizaria no Espírito Santo e no fogo. Entrando jesus na água para ser batizado, é como se dissesse: Até agora foi assim; daqui por diante, será conforme lhes vou ensinar.

E seu batismo é do Espírito Santo e de fogo.

O avaro que deixa de ser avarento.

O hipócrita, que se torna sincero.

O orgulhoso que se torna humilde.

O mau que se torna bom.

Os viciados que abandonam os vícios.

Os inimigos que esquecem os ódios que os separavam se abraçam à luz do Evangelho.

O forte que se lembra de proteger o fraco.

O rico que procura concorrer para o bem-estar dos pobres.

O pobre que não murmura.

Os que, apesar de seus padecimentos, bendizem a vontade de Deus.

Todos esses não sofrem um verdadeiro batismo de fogo?

O batismo de fogo, pois, com o qual Jesus nos batiza, é o esforço que ele nos convida a fazer para que nos livremos das paixões inferiores, que nos dominam; livres delas, estaremos batizados, isto é, puros diante de Deus, nosso Pai.

O Espírito Santo é a denominação dada à coletividade dos espíritos desencarnados, que lutam pela implantação do reino de Deus na face da terra.

Batizar-se no Espírito Santo significa receber-se a mediunidade. Todos os que recebem a mediunidade se colocam àdisposição dos espíritos do Senhor para os trabalhos de evangelização que se desenvolvem no plano terrestre. É um batismo de renúncia, devotamento, abnegação e humildade. Todos são chamados para o sagrado batismo do Espírito Santo, porque todos podem trabalhar para o advento do reino dos céus.

Quando Jesus saiu da água, João viu a legião dos fulgurantes espíritos que seguiam Jesus e ouviu o cântico que entoavam ao Senhor nas alturas. E para ser compreendido pelo povo, traduziu a visão celeste por um símbolo material.