"O livre usufruto da Imortalidade, que é nossa herança divina, somente se dá sob a luz da consciência que desponta com o pensamento contínuo, quando o indivíduo, ainda acrisolado pela ilusão da matéria — essa túnica mutante que vem nos suportando no tempo, em mundos ainda de expressões inferiores, para imantação adequada de nosso ser em sua constituição externa e intermediária entre a essência e as cocriações infinitas —, inicia-se, por mais amplo alcance dessa consciência em despertamento, no universo das Causas, podendo "ler", pelo sentimento, as forças divinas que a tudo governam. Chamam isso de virtude ou valor moral. Mas é a identidade essencial da criatura que então passa a vibrar no Criador, através de obras que refletem, de algum modo, o Amor do Sempiterno... ".
Toda a obra de evolução significa a descoberta da Vida infinita em Deus, o Pai e Criador. São imensuráveis os recursos à disposição da criatura que, desde o berço, como Princípio Inteligente, até a fase consciente, na condição de Ser Inteligente da Criação, se move, em gravitações espetaculares, desde as mais rudes e concêntricas - como as que definem os reinos naturais da Terra, do mineral aos animais, que contêm ainda a força bruta e incapaz de sublimação –, até que, na condição de homem, essas potências se refinem, se aprimorem na denominada mente, para que haja filtragem inteligente das propostas e das condições existenciais. Ocorre aí, nessa fase humana, uma dupla função: a percepção mental da vida em dimensões múltiplas e o desenvolvimento dessa percepção, o que aprimora, alarga, aprofunda o poder "metabólico" do fulcro mental. Isso revela que só o trabalho, no sentido de experimentação, é que consolida entendimento e sensibilidade.
Quando pensamos que uma rocha contém inúmeros Princípios 1nteligentes que lhe asseguram as formas e cores, a dureza e a impermeabilidade, devemos lembrar que, intelectualmente, as letras do alfabeto contêm o poder da arte da escrita inteligente, que se revelará pela habilidade e domínio dessas letras. Já os Seres inteligentes, os Espíritos, graduam-se em valores subjetivos, dando-lhes expressão humana na Terra. Basta lembrar que as leis que regem as sociedades são apenas conceitos morais, subjetivos e guardam um poder impressionante na contenção da barbárie e dos maus hábitos, para salvaguarda da comunidade de cada país ou região. Por essa análise, depreendemos o valor e o papel da Mensagem Evangélica trazida ao mundo por Jesus Cristo, como Lei de Amor em torno da qual todos gravitamos, para sublimar as propostas da Lei de Talião, o que foi proposto no Antigo Testamento.
Mas, se a vida que enxameia de valores e recursos o Universo guarda o poder de abrir caminhos e embalar anseios e clamores, o usufruto dela pode demonstrar, em mundos ainda marcados pelos desvios e pelo mal, um tipo de compensação estranha, que, no Espiritismo, denominamos obsessões. Estudamos com Paulo, o Apóstolo, que a Lei só existe para quem tem experiência somada, evolução consciente. Nas faixas mentais de menor expressão, quando a instintividade ou a viciação dos sentidos predominam, os Seres fazem o que querem e como querem — e não está errado, pois eles aprendem por consequência de suas ações e não operam ainda como os mais evoluídos, ou seja, aqueles regidos por princípios morais, por uma ética depreendida da somatória de suas reencarnações a se projetarem na ordem social em que se inserem.
No estudo das faixas de sombra ou de treva que vigem entre os encarnados e principalmente em zonas erráticas do mundo espiritual, vamos identificar as "compensações" vibratórias de mesmo teor e objetivo comum. Quando um criminoso confesso levanta a mão para ferir seus semelhantes, em verdade ele "sente" no objeto de sua maldade deliberada "alguém" que deve à Lei, ou seja, alguém que carrega na alma um delito que está em acordo com o golpe que lhe vão desferir. Essa verdade cósmica, expressando a Lei de Causa e Efeito, está bem resumida na saga de Caim, filho maldito de Adão e Eva, quando diz a Deus, após ter assassinado seu irmão: "Serei fugitivo e vagabundo na Terra, e todo aquele que me achar me matará... ".
Devemos salientar que, em mundos como a Terra, a virtude ainda é espancada, como se seus detentores fossem devedores comuns, mas, em verdade, eles dão testemunho de suas virtudes, consolidando-as em si enquanto - assim como o sândalo que, ferido pelo machado, o inunda de perfume - impregnam o psiquismo dos seus algozes, numa enxertia solidária e inexpugnável que assegura o determinismo da perfeição.