"A Eternidade é a vida abundante no Criador, por resumo de todas as lutas e pelejas evolutivas que o Espírito leva a efeito em mundos onde a matéria sugere o supremo poder, a fim de ilustrar sua mente e capacitá-la à comunhão divina... " — asseverava o ilustre filho da Grécia, com harmonia indescritível. "Até agora, na Terra, por exemplo, as religiões, atreladas aos interesses primários, apenas deixam gotejar sobre as almas superficiais conceitos do excelso Pai de tudo o que existe; não fosse o Testamento Divino que Jesus legou ao mundo em seu martírio de amor, os homens prosseguiriam entronizando a matéria, travestida de espiritualidade, para gáudio de suas criações inferiores no plano das percepções mentais... Sabemos o quanto os Espíritos mais conscientes têm se empenhado pela renovação dos interesses desse globo sangrento e egoísta por escolha de seus habitantes, e, ainda mesmo nos ambientes em que a Revelação do Mundo Espiritual sugere desprendimento e caridade, notas dissonantes de interpretação da Verdade tisnam os corações, incrementando as provas e as expiações de extensos grupos de irmãos nossos em elementar aprendizagem de vida... ".
A força moral de Sócrates, ao enunciar semelhantes verdades, nos impactava, pois a sua verve transcendente e ainda inexplicável para mim magneticamente atuava em minhas memórias evolutivas, induzindo-me a uma revisão de meus atos, de minhas escolhas em diversas encarnações que tive no planeta. O fenômeno, incomum para quem há pouco deixara o corpo físico e ensaiava passos de vida livre no Além, exigia força moral, e recordei-me de João, ao escrever em suas anotações: "Difícil é ouvir esse discurso; quem o pode ouvir?... ". Mas o arauto do Infinito prosseguiu, fixando a pequena comitiva com o olhar inflamado de vida: "É nesse emaranhado de matéria que os Espíritos devem descobrir a Força Divina em si próprios... Por enquanto, filosofam sobre Deus, sem senti-Lo; ensinam-Lhe os preceitos herdados de interpretações antigas, como as do Velho Testamento ou dos livros sagrados de diversas regiões do Oriente, sem auscultar-lhes os ecos sutis, como o fazem os ouvidos acoplados às conchas expurgadas pelas correntes do mar... Essa conversão, do domínio da matéria para o domínio do Espírito, é o escopo supremo de todas as vinculações dos Seres com os mundos preparatórios de vida pelas vias das encarnações, mesmo quando elas se sutilizam e passam a ter uma função mais superficial e menos oclusa nos mundos mais etéreos e mais graduados da Criação... A descoberta da Fonte da Vida e do Amor é, em si, a realização máxima dos Espíritos que gravitam pelo Cosmos".
O ambiente se saturava de espiritualidade, e a impressão que me causava não era em nada parecida com as emoções humanas. Eu me sentia gravitar, como um mundo, em torno de uma grande e potente estrela, que era a consciência ilustrada de Sócrates. Luzes e forças se conjugavam, e eu me deixava conduzir por aquele poder gravitacional, pois, ao contrário de nos reter em seu magnetismo, ele apenas alavancava um movimento interno em nós, que o ouvíamos sedentos e nos sentíamos projetar para outras órbitas de vida interior e ainda inexploradas, pelo menos por mim... Percebi que Gabriel, meu amigo e orientador, discretamente sorria, compreendendo que eu alcançava novos padrões de percepção da vida universal com a poderosa indução do grande Filósofo grego. "Tudo é pensamento!" - ousou o Instrutor das Alturas. "Existimos para sempre no pensamento de Deus, e o excelso Senhor da Vida nos permite gerar, de nós, as polarizações que nos interessem, como meio de despertamento dos próprios sentidos, e, por isso, os mundos da Amplidão surgem e desaparecem, ambientando condições de experiência e leitura de nós mesmos, até a exaustão... ".
Impossível descrever o impacto que sentia nos refolhos do meu ser. Sócrates nos proporcionava uma incursão dupla, que me fez depreender o porquê e a importância das forças centrípeta e centrífuga conjugadas na ordem da Criação. Primeiramente, ele nos induziu a uma revisão sintética de nossas experiências reencarnatórias deixadas no mundo físico, e, a seguir, com base nessas experiências e principalmente no proveito que fizemos delas, em termos conscienciais, nos projetou a outros domínios internos e externos da Vida, ou seja, identificamos potências de alma, e isso nos permitiu avançar vibratoriamente pelos "caminhos" do Infinito de Deus, que ele já dominava... Era uma perfeita enxertia, sem limitação de possibilidades e, ao mesmo tempo, respeitando conquistas de cada um dos envolvidos... Definitivamente, pensamento é vida!