"O pensamento é a sonda indestrutível que, alimentada pela fé — essa certeza divina que o poder da vida implanta e acalenta por dentro de cada criatura no Universo –, viaja potente pela infinita Criação do Inominável, vislumbrando para sentir, em perfeito movimento de expansão das potências eternas... Refletir é laborar, meditar é aclimatar, aderir é viver... A onda mental é o circuito das evoluções possíveis a quem se descobre na Criação. Não se limita a nenhum orbe, a nenhuma condição existente ou por existir, contudo, é apenas ensaio e vislumbre se não houver a consequente entrega, a inexpugnável adesão ao plano desvelado pela sonda do arcabouço mental. Por isso, as mais sublimes expressões cósmicas, de mais subido valor e beleza, estão contidas, em essencialidade e poder, na força do que ama e por essa suprema Verdade labora, tantas vezes suportando as imensuráveis pressões ambientes. Beber a cicuta foi uma atitude mecânica, pois o que emancipa é o sentimento vigente, de aceitação e profunda compreensão do momento. Amar significa considerar e querer bem para além dos cálculos. Só o Amor ultrapassa todas as equações, todas as formas, todos os talentos cocriadores, porque o Amor é a identidade viva e vibrante do Eterno; é a integração definitiva na Causa eterna e imutável da Vida".
Não há Verdade sem Amor, e não existe Amor sem Verdade. A Verdade seria, a nosso ver, a decodificação inteligente do que o Amor representa na Criação e, por sua vez, o Amor resume tudo o que a Verdade expressa, para referência evolutiva dos que ainda não amam. São, ao mesmo tempo, Lei e Vida.
De modo sutilíssimo, o Embaixador da Sabedoria cósmica nos ajuda a compreender que não basta fazer, é preciso sentir o que faz. Daí esses modelos envernizados de conduta e religião, completamente ocos por dentro. Considerávamos, ainda encarnado, que seria preferível à criatura abster-se de pregar e impor aos outros o que já laborou mentalmente, até que se afinize emocionalmente com a proposta, incorporando-a de algum modo à conduta, pois a usurpação dos bens divinos representa um delito espiritual de graves consequências para a individualidade. Isso foi nomeado por Jesus de hipocrisia, quando Ele próprio anuncia que prostitutas e bandidos entrariam primeiro no Reino dos Céus, querendo dizer isso que sem orgulho e vaidade, até por efeito de consciência culpada ou dilapidada e, por isso, submetida à Lei, é possível reajustar-se e salvar-se de cristalizações mentais complexas e de longo curso escravizante.
Quando julgamos os semelhantes, não importa o motivo, colocamo-nos na posição de infalíveis ou de superiores. Muitos objetarão que seria impossível não enxergar os desvios de conduta e a declarada má intenção dos que violam direitos alheios. Mas o que se considera em julgamento, segundo Jesus, é o expurgo, a rejeição, a malsinação emocional de alguém que se enfermou no processo evolutivo. É o que aprendemos com O Evangelho segundo o Espiritismo: separar criminalidade do criminoso, que é nosso irmão. O Amor divino somente é reconhecido pela capacidade de abnegação e de perdão. Devotar-se ao Bem significa não se opor a ninguém e a nada ("Não resistais ao mal") e prosseguir vibrando amor e oportunidade para seu reajuste e elevação. Perdoar implica não condicionar a atenção, o auxílio, a generosidade, a inserção em favor de alguém em nosso íntimo, mesmo que a pessoa nos pareça indigna e se mostre ingrata: "Há mais egoísmo que caridade nos que deixam de fazer o bem por terem colhido os frutos da ingratidão dos beneficiários de suas ações... ".
Nas relações que entretecemos uns com os outros, desde as mais íntimas, incluindo as que se marcam por trocas sexuais, até as de cordialidade social, a paciência e o respeito pelo arbítrio do outro são condições essenciais de êxito. Geralmente se pensa em retribuição e reconhecimento na troca, mas isso é secundário. Toda relação entretecida, cultivada tem um objetivo: capacitar a criatura a desenovelar de si as potências do Amor que herdou do Pai. Quando estudamos as lições de Jesus em O Novo Testamento, identificamos o que um Espírito puro, capaz de refletir o excelso Amor de Deus, pensa, sente e faz com os semelhantes... É isso que buscamos no Evangelho, a vida pura e perfeita, sem os jogos e as imposições de ego que geralmente nos escravizam.
Não existe Amor, em sua essencialidade, se não respeitamos os outros, mesmo tendo que lamentar — e não julgar e excluir — as suas atitudes momentâneas. Os grandes mártires cristãos foram instrumentos de Deus, após Jesus exemplificar o Amor, para sensibilizar e implantar valores no psiquismo dos seus verdugos — e isso ocorre em menor escala e com tempo mais duradouro nos lares, entre familiares difíceis; na profissão, entre chefes e subalternos resistentes e autoritários; nas atividades sociais e até religiosas, com elementos que distorcem valores e buscam compensar-se às avessas entre orgulho e vaidade, tornando-se instrumentos de escândalo.
Acreditar no Bem e viver pela conquista do que esse Amor imanente da Criação nos sugere é a nossa verdade e a genuína manifestação de nosso amor.