Religião Cósmica

CAPÍTULO 33

CONHECE-TE A TI MESMO



(LC 6:42)

"Embora seja imprescindível a todo e qualquer movimento de progresso interior, assinalando conquistas gradativas e crescentes pelas Vastidões Siderais, nenhum Espírito alcançará a Sabedoria do Eterno e todas as evoluções morais que lhe brotam da sensibilidade intrínseca, permitindo-lhe comungar as expressões do Amor Supremo, se permanecer condicionado à matéria de que se vale para existir e operar, segundo as próprias concepções. Toda essa conjugação das forças emanadas do Criador e utilizadas pelo poder mental das criaturas em dimensões infinitas guarda um máximo objetivo: situar a Inteligência espiritual naquele que a herdou do eterno fundamento do Cosmos. Toda expressão de matéria é meio, condicionando o Ser para que esse Ser se revele em essencialidade. Daí o progresso alcançado através de incontáveis labores existenciais em mundos os mais diversos da Amplidão assinalar, nos Espíritos mais experientes, a desativação do ego exterior, em renúncia e humildade que ultrapassam os conceitos meramente religiosos ou filosóficos que conheceis. É que em "desmaterializando-se", eles adentram o âmago da Criação, assumindo a natureza divina e imaterial que está inserta no conceito "Espírito". Quanto mais materializada a alma, mais distante do Eterno. Quanto mais livre dos sistemas e das impressões materiais, mais se pode "ver" o Criador. Só existe um meio efetivo de vencer todas as ilusões e condições impostas pela matéria, esse plasma universal que se gradua ao infinito para fins de progresso coletivo: conhecer-se a si mesmo!... ".

Diante da majestade serena de Sócrates e podendo sorver dele a seiva de Sabedoria em sublime adesão cósmica, sentia a beleza irretocável do processo evolucional que respeita cada Princípio e cada Ser na faixa de interação que lhes corresponda às conquistas e aos anseios...

Vislumbrei, ao ouvir e registrar conceitos ao mesmo tempo sintéticos e tão profundos em matéria de leitura das Leis universais, a grandeza didática da obra que Allan Kardec entregou ao mundo, oriunda dos ensinos dos Espíritos. A lucidez e o domínio espiritual do grande Sábio que nos falava pela vibração elevadíssima, conquistada com devoção e altruísmo no tempo, se me entranhavam acordando em mim todos os conceitos doutrinários que, por décadas, eu estudara no mundo físico, entre companheiros queridos do Espiritismo. Percebi o alcance dos termos "alicerce" ou "base", no caso, doutrinários. Por mais Sócrates nos ensejasse a visão mais complexa e mais profunda das potências da vida em Deus, eu as vislumbrava e interpretava sem muita dificuldade, graças aos estudos e reflexões levados a efeito no plano carnal.

Costuma-se dizer, nas esferas psicológicas e psicanalíticas do mundo, que, na adolescência, a criatura descobre o universo subjetivo, o que a deixa ao mesmo tempo extasiada e confusa... Lanço mão dessa interpretação terapêutica habitual da Terra para, em analogia, pensar o Espírito que, avançando da primitividade para os desafios da fase de expiações e provas, passa a vivenciar os dilemas e conflitos próprios da individualidade que se positiva e se afirma em sentimentos, impressões, anseios e pensamentos de natureza moral-espiritual. Inicia-se aí o despertamento mental de maior expressão, quando o Ser abandona gradativamente os condicionamentos meramente materiais, de sobrevivência, para se projetar aos domínios lúcidos e também místicos da vida, em que reverência e adoração, patrocinando sentimentos de compaixão e solidariedade, de renúncia e humildade, ensaiam o amor caridoso — o fundamento da fraternidade universal.

Conhecer-se a si mesmo não é uma operação intelectual, embora os estudos ampliem de algum modo os territórios mentais, através do aculturamento. Há uma gradação nesse processo, que, no mundo, buscávamos utilizar como didática de ensino e justificação da proposta espírita: a instrução informa, a educação forma, e o Evangelho transforma. Toda a filosofia de Sócrates, como podemos sentir nessas pinceladas que adaptamos de algum modo à linguagem terrena, diz respeito à integração consciente em Deus, mas na contramão das propostas religiosas tradicionais que conhecemos ao longo dos milênios, ou seja, não mais através da adoração exterior, geralmente transferindo responsabilidades aos numes tutelares, tenham eles o nome que for, porém, num movimento de entrar para "dentro", usando o panorama externo de existência como referencial e espelho, pois o que está fora não é de nosso domínio, mas nos ajuda a nos situar, como contraponto. Quando operamos em favor do outro, despertamos em nós o que desconhecíamos — e isso é real, é sentir, não apenas expectar ou calcular. Assim, podemos entender que "desmaterializar-se" não significa desprezar ou abandonar as expressões materiais ou de interesse mais imediato que nos requisitam na Crosta ou no Mundo Espiritual. A questão de desprendimento é toda ela de natureza moral e se dá no sentimento. Por isso Jesus afirmou que "quem perder a sua vida ganhá-la-á", pois o citado "ego exterior" é a capa que necessitamos retirar de nós próprios. E isso somente é possível quando estamos abertos ao "conhece-te a ti mesmo", o caminho efetivo para Deus!