Quando fitamos, embevecidos, uma linda flor, seja uma orquídea, uma rosa, um lírio, deixamo-nos enovelar pela formosura e pelo perfume que lhe é peculiar — isso é sentimento, reverência, adoração. Mas nossos olhos podem estar guiados pelo espírito de indagação, de pesquisa, de análise, e será então que essa flor poderá ser dissecada por nossa inteligência, e descobriremos os fundamentos de sua eclosão, de sua estruturação, de seus encantos — isso é razão, intelecto, ciência.
Sentindo-me "enxertado" no campo mental de Sócrates, que nos envolvia com sua autoridade extraterrena, totalmente desataviada de qualquer nota de idolatria ou de domínio exclusivista, lograva eu "navegar" pelos circuitos de vida mais ampla e mais profunda dos mundos siderais que aquele expoente do Criador, tão lúcido e tão consciente, já conhecia por méritos próprios. Recordei-me incontinenti de médiuns que conheci em minhas tarefas ainda no mundo, dizendo-me em transe nas reuniões mediúnicas: "Vejo, ouço e sinto pessoas e acontecimentos que estão para além de minha realidade, mas isso me vem "em bloco", não é uma percepção analítica, racional... ". Efetivamente, somos iniciados a comungar o Universo desde que apresentemos alguma base moral para gravitar em torno de expressões maiores de Vida, como um flerte, como um leve despertar que no tempo nos absorverá totalmente.
Esse fenômeno assegura o fluxo do progresso, da evolução. Quantas vezes a criatura está inserida no seu grupo familiar, em atividades profissionais, em entretenimentos artísticos ou esportivos, mas "algo" não a permite estar ali, inteira, de modo que seu coração, muito mais que sua mente, anseia e sonha, se distende e se enleia a situações, pessoas, ou mesmo se deixa levar por aquilo que, no momento, não pode definir, mas que a conclama, chama, encanta... Uma leve melancolia se insinua e, no olhar, geralmente distante, uma tisna de infinito, de abstração incompreensível e profundamente magnética...
Essas digressões dizem respeito à vida interior, são movimentos e equações que merecerão estudo nas linhas psicológicas do futuro que aguarda a Humanidade, quando grandes almas reencarnadas em tarefas específicas delinearão as estruturas essenciais de sentimentos eletivos, em viva conexão com os valores de espiritualidade. Sócrates ensejava ao nosso diminuto grupo de estudiosos um grandioso universo de percepções, que valia por extensa caminhada além do corriqueiro movimento das almas na Terra. Obviamente que essa "iniciação" nos custaria, em plano de retaguarda (voltar aos círculos de deveres e testemunhos entre os homens), muito suor e até lágrimas, considerando que semelhantes registros - em plano de gravitação que eu definiria como sendo o fechamento de um conjunto de laçadas espiraloides, a nos projetar para a grande laçada também em espiral que contém todas as já experimentadas, ou seja, sete laçadas fundamentando a grande laçada em abertura — são uma poderosa síntese se abrindo para outros domínios vibratórios. Em termos de análise de mundos, seria como deixar a Terra e, com base em valores de Júpiter e Saturno, começar a se aproximar do Sol, em sua essencialidade... Talvez não me compreendam, de pronto, essas afirmativas, mas fica o registro para os que apreciam semelhantes conjecturas espirituais.
Segundo o emérito visitante do Instituto Celeste de Pitágoras, onde a misericórdia de Jesus me situara, com o auxílio de Gabriel, o Benfeitor de sempre, todas as órbitas do Infinito a serem percorridas pelas almas em desabrochamento e elevação se dão por caminhos adredemente trilhados por outros Seres, igualmente filhos do Grande Pai, com notas diversas de natureza intrínseca a cada um, como as flores em sua diversificação, como as gemas em sua estruturação múltipla, como as estrelas de expressão e grandeza tão diversa quanto a Criação... "Na essência de nós mesmos, a Verdade Divina, como farol, como elã imortal, permitindo-nos gravitar e existir onde, com quem e quando a necessidade ou a vontade definirem".
Sim, meus amigos, Sócrates confirmava que a Verdade é o guia e se encontra no âmago de cada filho de Deus. É essa verdade que nos faz seguir, construindo, edificando, tentando, marcando, impregnando, estabelecendo "campos de trabalho e gravitação", porque nossos "rastros" são trilhas ou caminhos para quem ainda não sabe e ainda não sente. Essa interdependência é mecanismo divino de progresso, unindo todos os Princípios e Seres na mesma e magnífica obra de socialização, de elevação — Lei de Sociedade.
É por esses meios que os mundos siderais surgem e passam a abrigar outros corações que, desenvolvendo suas habilidades e capacitações, os converterão em moradas mais formosas, mais dinâmicas, pois o trabalho é de todos, e nenhum filho do excelso Pai é maior que o outro, já que a perfeição é meta comum, e o exercício contínuo de autodescoberta, para identificação da presença de Deus, o Criador e Pai, em nós, é determinismo do qual ninguém foge!