A Terra e o Semeador

Capítulo X

Reencarnação, família e sexo



Através de 22 emissoras de televisão, sob o comando da TV-TUPI de São Paulo, o programa Flávio Cavalcanti apresentou, ao vivo, uma entrevista com o querido médium Francisco Cândido Xavier, em 14 de julho de 1974, qual apresentamos agora, resumidamente.

Após ser apresentado a toda a plateia presente e aos telespectadores de todo o Brasil pelo animador do programa, Chico Xavier disse em determinado momento, em agradecimento: “E peço licença para dizer que esta medalha, este troféu assim tão brilhante, pertence à Doutrina Espírita da qual temos sido, até agora, o último dos últimos servidores.” (Chico referia-se à Medalha Cinquentão, a ele ofertada pelo programa).

Sob intensa expectativa, seguiram-se as perguntas.


104 — CONHECIMENTO ANTECIPADO DA MORTE

P — O senhor admite que Emmanuel irá, quando chegar o momento, informá-lo antecipadamente do dia e da hora de sua morte?

R — Creio que ele reconhece a minha condição de criatura humana, frágil ainda; se o nosso Benfeitor Espiritual observar-me em condições adequadas para receber a notícia sem alarme, ele o fará. Mas, compreendendo decerto as minhas deficiências, nosso caro Emmanuel me abençoará com a caridade do silêncio.


105 — RELIGIÃO E TRANSFUSÃO DE SANGUE

P — Por motivos religiosos, neste confronto entre o direito à vida e a convicção religiosa, no caso do menino filho de Testemunhas de Jeová que não permitiram a transfusão de sangue que o salvaria, com quem o senhor ficaria?

R — Notamos que os pais da criança estão ou estariam agindo com muita honestidade perante a fé que abraçaram. Acreditamos que a Providência Divina podendo manifestar-se através de circunstâncias e através de ocorrências diversas terá induzido a um outro pai, no caso, o Exmo. Sr. Juiz de Menores, a providenciar os recursos para o tratamento necessário à criança doente. (Aplausos).


106 — OS ESPÍRITAS E O MEDO DA MORTE

P — O Espiritismo diz que a morte é o começo de uma nova vida. Por que, então, muitos espíritas têm medo de morrer, inclusive o senhor?

R — Essa notícia a meu respeito naturalmente é divulgada através daquela história, com a descrição que fiz de um dos problemas nossos numa viagem aérea. É verdade que tive muito medo da partida súbita para outro gênero de vida, mas também tive medo de quebrar a coluna e ficar impossibilitado para o trabalho. É que, efetivamente, nunca houve na Terra esse ou aquele curso de preparação para a morte. Sempre encaramos a desencarnação como sendo uma prova sem remédio ou uma dor irreversível, Isso impõe sérias complicações ao assunto. Através de existências numerosas, entramos sempre no Além com muitas dificuldades, e inibições, recapitulando de óbito em óbito, essa espécie de terror.


107 — PERÍODO DE SONO

P — O Senhor dorme muito?

R — Durmo atualmente na média de 4 horas diárias, incluindo no total das minhas pausas de repouso de meia hora para tratamento dos olhos.


108 — ALIMENTAÇÃO

P — Come bem?

R — Almoço regularmente, incluindo a carne em meu prato comum. Aliás sou uma pessoa natural.


109 — ESTADO DE SAÚDE

P — O senhor está doente?

R — Tenho andado com alguma hipotensão, mas, estou em tratamento médico melhorando sempre.


110 — ATENDIMENTO SEMANAL

P — Quantas pessoas o senhor atende por semana?

R — Na atualidade, tenho contato com o público, em duas noites por semana: sextas e sábados, na média de 500 pessoas semanalmente com a repetição em mais ou menos vinte por cem, de alguns contatos pessoais com amigos e conhecidos sempre muito estimáveis.


111 — OPERAÇÃO PLÁSTICA. PERMISSÃO.

P — Nós temos no juri um cirurgião plástico, famoso aqui em São Paulo, o Dr. Oswaldo. O senhor seria capaz de se permitir uma operação plástica?

R — Desde que a plástica fosse para regenerar o aspecto de minha apresentação, acho que seria um dever meu, para não assustar o público, em meu relacionamento habitual. (Aplausos e risos).


112 — MENSAGEM AOS QUE SOFREM

P — O senhor sabe que, quando anunciamos que iríamos entrevistá-lo, várias penitenciárias do Estado e de outros Estados pediram autorização para que os aparelhos ficassem ligados até mais tarde, porque os presidiários gostariam de ouvi-lo e vê-lo. Assim aconteceu com muitos hospitais, inclusive, com a Santa Casa de Misericórdia e vários outros nosocômios. Enfermos de toda sorte, mosteiros, casas de freiras, asilos… Em todos esses lugares o senhor está sendo visto e ouvido agora. Chegou-nos, igualmente, a notícia de que, em quase uma dezena de detenções, os aparelhos se encontram ligados, e os detentos pedindo uma palavra de carinho e de amor.

R — Isso me surpreende muito porque eu nada fiz para merecer essas atenções, nem tenho possibilidade ou dotes quaisquer para corresponder à tanta grandeza de alma. Em razão disso peço permissão aos nossos irmãos presidiários e aos caros amigos telespectadores para contar um pequeno episódio ocorrido meses atrás: Conheci em Uberaba, uma criança de seis anos que, costumeiramente, acompanhava a própria mãezinha à cidade de Igarapava e a cidades outras de nossa vizinhança, a procura de trabalho. Esse menino que se locomovia com muita dificuldade chamava-se Pedro. Demorou-se, perto de nós cerca de dois meses, frequentando a beneficência da Comunhão Espírita Cristã. Certa vez, perguntei-lhe: “Pedro, o que é que você quer ser quando for homem feito?” Ele respondeu: “Tio Chico, quando crescer eu quero ajudar Deus a pintar as flores!”

Aquilo me enterneceu muito e eu disse: “Então você vai ser um grande artista.” No dia seguinte ao nosso diálogo, um veículo em disparada atropelou o menino. Fui vê-lo, no colo materno, entre a expectativa da morte que se aproximava e o enternecimento que o garoto me suscitava ao coração, e perguntei-lhe: “Pedro, o que é que você quer agora? O papagaio de papel ou o carro de brincar de que você gosta tanto?”

“Ele me disse: “Tio Chico, eu quero… eu quero ajudar Deus…” Meu Deus, se todos nós andássemos no trânsito respeitando os sinais; se amássemos mais profundamente os nossos semelhantes ao guiar as nossas máquinas… Refiro-me a este episódio porque todas as crianças são nossos filhos, em todos os níveis sociais. Os Espíritos Benfeitores explicam sempre que as crianças são esperanças de Deus, que vieram até nós ajudando a Deus, colorindo por isto mesmo, a nossa vida de felicidade e paz.

Com referência ao assunto, rogo licença para lembrar aos amigos que nos emprestam atenção e, bondade que nós todos também certas vezes, desrespeitamos as sinais vermelhos da lei e consequentemente entramos em grandes dificuldades, embora ninguém atropele ninguém por querer.

Em várias ocasiões, achamo-nos sob clima psicológico difícil.

Nossos irmãos nos presídios, em escolas de tratamento espiritual, são, como nós, filhos de Deus,

Jesus, quando nos recomendou entregar os nossos julgamentos aos juízes, para que não venhamos a julgar erradamente uns aos outros, compreendia, decerto que geralmente temos, digo isso de mim determinado grau de periculosidade e que, em virtude disso, precisamos da misericórdia de todos.

Todos estamos presos a circunstâncias, a provações, problemas e lutas.

Quem de nós não está encerrado em alguma estreiteza, dentro dos nossos próprios sonhos e ideais na própria vida humana?

Com todo o nosso coração desejamos aos nossos irmãos, nos presídios, paz e amor, muita alegria, esperança, e também muito respeito à justiça, porque a violência não ajuda ninguém. (Aplausos).


Flávio Cavalcanti — Agora, cada um do júri fará uma pergunta a Chico Xavier. Por favor, aqui está o maestro Erlon Chaves, que desejava conhecer o senhor há longo tempo.


113 — CONSOLO A UM AFLITO

Erlon Chaves — Este momento é muito importante para mim, porque eu tinha guardado comigo a ideia de pedir uma palavra sua de muito carinho com meu pai, que está doente. Aliás, está muito menos doente do que estava há dias atrás. E, quando Flávio falou dos presidiários, eu me lembrei de um caso que está acontecendo no Brasil. Meu pai vai entender, o assunto que exponho, pois ele me conhece bem, como eu o conheço, enfim, porque eu não peço uma palavra para ele e sim para esse rapaz, ao qual vou me referir. Por motivos óbvios, eu não vou declinar-lhe o nome, mas v ou contar o caso. Há dois anos atrás, um rapaz de 19 anos, por uma loucura da mocidade, armado com um revolver de brinquedo, cometeu um assalto, auferindo Cr$ 28,00, apenas para gastar num fim de semana. Depois disso, a vida dele andou, a polícia não o encontrou, e hoje, com 21 anos de idade, ele é um homem recuperado. Mas acontece que a Justiça também andou e no Código Penal, assalto é punido com um mínimo de 4 anos, Ele está para ser preso. Porém, está recuperado. E como vai ser difícil a vida dele, a partir daí! Tomara que ele esteja nos vendo agora e principalmente tomara que ele ouça a sua palavra, Chico, de paz e de confiança.

— Maestro Chaves, esperamos que ele, o rapaz a que o senhor se reporta de consciência edificada, quanto à solução do problema, se considere tranquilo e se submeta à magnanimidade da Justiça, na certeza de que os senhores juízes farão um pronunciamento favorável à dignidade com que ele comparecerá à barra dos tribunais.

Confiamos na Justiça, porque a Justiça traduz em si os Desígnios Divinos e creio que uma consciência tranquila nada tem a temer.


114 — ESPAÇO E TEMPO NO MUNDO ESPIRITUAL

Flávio Cavalcanti — Vamos chamar agora, para fazer uma pergunta, a jornalista Anik Malvil da “Última Hora”, de São Paulo.

Anik Malvil — Está sendo um grande prazer conhecer o senhor. Como explica que as pessoas recém-falecidas possam se orientar, se elas não têm os mesmos pontos de referência de espaço e tempo, do mundo físico?

— Os Amigos Espirituais têm nos esclarecido que, quando nos adestramos suficientemente, através da religião ou da meditação, para a Vida Espiritual, fazemos um curso instintivo de reaprendizado de nossos controles, quanto às noções de espaço e tempo, verificando-se, no Além mais ou menos, aquilo que acontece com a nossa chegada à Terra, através da reencarnação, quando despendemos, às vezes, seis a oito anos para tomar conhecimento das noções de espaço e tempo no Plano Físico, ao atravessarmos o período da primeira infância.


115 — OS PLANOS ESPIRITUAIS

Flávio Cavalcanti — Por gentileza, com a palavra o cirurgião plástico, Dr. Oswaldo.

Dr. Oswaldo — Inicialmente, eu quero expressar minha profunda admiração e respeito pelo senhor, por tudo aquilo que tem feito. Eis a minha pergunta: muito se tem ouvido falar, especialmente por parte dos estudiosos da matéria, que o mundo espiritual é dividido em muitos Planos. Fala-se, inclusive, em Subplanos. Existe, realmente, essa distinção de Planos na 5ida Espiritual?

— O nosso Emmanuel costuma dizer sempre que podemos observar isto nos próprios agrupamentos sociais da Terra. Conquanto convivamos uns com os outros, cada qual de nós pertence a determinada faixa cultural, sentimental, racial, e através dessas faixas, vamos efetuando a nossa autoeducação. Isso existe naturalmente no Mundo Maior, dizem os nossos Amigos, como existe aqui também.


116 — REENCARNAÇÃO, FAMÍLIA E SEXO

Flávio Cavalcanti — Com a palavra, Lucinha Kauffman.

Lucinha Kauffman — A minha pergunta é sobre reencarnação. Gostaria de saber se ela se limita ao nosso grupo, porque, pelo que dizem alguns espíritas, a gente tem a impressão de que a reencarnação se faz quase sempre no mesmo grupo familiar. E também quero saber se o homem reencarna sempre como homem e mulher como mulher.

— De um modo geral, até que venhamos a conseguir um grau maior de evolução, permanecemos jungidos ao nosso grupo familiar.

Quanto à reencarnação, do ponto de vista da filiação morfológica, isso pode variar. O sexo pode ser modificado, para efeito de provação regenerativa ou para o desempenho de tarefas específicas por parte da criatura que retorna à Terra.


117 — FENÔMENOS COM O COPO

Flávio Cavalcanti — Agora, vamos à pergunta de Nair Belo.

Nair Belo — Também eu tenho um grande prazer em conhecê-lo. Vou fazer uma pergunta que eu, há muito tempo, tenho vontade de saber. Os espíritas fazem e os não espíritas também, alguns na base da brincadeira, as tentativas de ação mediúnica com o uso do copinho. O verdadeiro espírita sabe que a comunicação desse modo é uma forma primária de intercâmbio, não é? Eu gostaria de perguntar se além de primária também é perigosa, porque eu tive uma experiência e acho muito perigosa. Gostaria que o senhor me esclarecesse e a todos que assim procedem por brincadeira.

— Os Benfeitores Espirituais nos dizem que devemos sempre separar mediunidade de Doutrina Espírita, porque esta última veio-nos para disciplinar os fenômenos. Assim através do copinho, ser-nos-á possível entrar em contato com os Espíritos amigos, mas, por vezes ainda não educados ou não sublimados, isto é, com criaturas desencarnadas muito próximas da nossa faixa de evolução, de modo que, sem a Doutrina Espírita, qualquer fenomenologia, inclusive a do copo, é capaz de suscitar dissabores, pelas experiências.

Flávio Cavalcanti — Então, não se deve brincar?…

— É interessante não brincar.


118 — RENASCIMENTO. MOMENTO DA LIGAÇÃO. PAIS. DEFEITOS FÍSICOS.

Flávio Cavalcanti — Paulo Roberto, por gentileza.

Paulo Roberto — Eu quero fazer duas perguntas, embora resumidas numa só. Gostaria de saber se o feto, isto é, se a criança nascitura recebe espírito no momento em que é concebida ou no momento que nasce, e qual é a relação entre o pai, a mãe e o feto, ou seja a relação espiritual entre eles, porque eu quero chegar àquela pergunta : por que nascem crianças defeituosas, crianças retardadas? Há alguma relação com os pais?

— Sim, na maioria dos casos, porque os pais possuem vínculos cármicos com o Espírito renascente. Com frequência, criaturas que foram compelidas à morte violenta por nossa causa, ou à morte lenta por determinadas atitudes nossas, em especial as que recorreram ao suicídio, para se libertarem da nossa crueldade mental na Terra, não se afastam mentalmente de nós. Mesmo quando ausentes em outros Planos da Vida, continuam vinculadas a nós outros, particularmente quando não sabem exercer a faculdade do perdão. Essas criaturas habitualmente, reencarnam na condição de nossos próprios filhos. E a posição do Espírito, diante da vida fetal, varia muito, segundo a evolução de cada reencarnante ou segundo a tarefa com que venham ao nosso mundo. Há, também, vinculações de puro amor, possibilitando o renascimento da criatura necessitada de apoio em lares pertencentes a corações amigos que os recebem com extremada abnegação. Fora disso, no campo normal da reencarnação, temos a considerar os casos em que o espírito, por méritos conquistados, tem o direito de escolher o corpo em que atuará sobre a Terra junto dos pais à cuja bondade e nobreza já se imanizam, quase sempre, desde muito tempo.

Certos musicistas, por exemplo, ao reencarnarem, poderão merecer um sistema auditivo magnificamente organizado com o qual se lhe facilite o discernimento dos sons. Noutros aspectos isso ocorre com todos aqueles obreiros da cultura e do progresso, habilitados a influenciar milhares de pessoas. Esses já conquistaram o poder de selecionar os recursos de que farão o uso preciso na existência terrestre. Quanto ao mais, a e a respectiva resposta, contidas em “O Livro dos Espíritos” esclarece a questão da união da alma e do corpo, afirmando que essa união se dá na concepção e se completa no nascimento.


119 — REENCARNAÇÃO EM VEGETAIS

Flávio Cavalcanti — Por gentileza, Márcia de Windsor.

Mas, antes, o telespectador Antônio, aqui de São Paulo, pergunta se o senhor acredita que os vegetais sofram um processo de reencarnação? É possível um ser humano voltar reencarnado num vegetal?

— Não, isso nós não podemos admitir porque seria um retrocesso. Ocorre que a evolução dos vegetais se verifica num plano ainda inabordável, especialmente para minha capacidade de compreensão. Mesmo que os Espíritos quisessem me esclarecer sobre isso, eu não teria cérebro para registrar os esclarecimentos em todas as nuances desejáveis.


120 — PERDA DE SERES QUERIDOS

Flávio Cavalcanti — Márcia de Windsor, a sua pergunta.

Márcia de Windsor — Eu faço apenas uma pergunta, servindo de portadora da mesma. Uma senhora perdeu um filho há um ano e durante esse ano inteiro essa senhora tem chorado, tem penado dores incríveis, numa inconformação absoluta por essa perda. Ela, muito aflita, me pede que lhe pergunte se essas lágrimas, se toda essa dor, esse sofrimento podem prejudicar, de algum modo o seu filho.

— Em outros casos semelhantes, lemos recebido o esclarecimento de que essa dor, essa dor entranhada na alma inconformada daqueles que ficam, prejudica muito e às vezes, de maneira intensa, aos corações amados que nos precedem na 5ida Espiritual. Seria tão bom que essa mãe generosa pudesse entregar o filhinho a Deus, de quem ela recebeu esse mesmo filho, a fim de protegê-lo e orientá-lo neste mundo! E estamos certos de que ela procurando reencontrá-lo entre tantas outras crianças que aí estão necessitadas, rapazes mesmo que precisam de benfeitores paternais e maternais, essa abençoada mãezinha estará extinguindo a dor dela no caminho desse filho, que deve, naturalmente, se afligir.

Peçamos a Deus para que ela tenha bastante serenidade e que, na condição de mãe, na grandeza maternal de todas as mães, ela possa continuar auxiliando e abençoando o filho que partiu no rumo da Vida Maior.



121 — MENSAGEM

Flávio Cavalcanti — Muito obrigado. Agora o senhor não há de estranhar as folhas nem o lápis, porque sei que só mesmo o senhor poderá resolver, tomada a resolução, porque o senhor me falou do meio ambiente, me disse das necessidades psíquicas, psicológicas… Eu gostaria de pedir ao senhor, que é amigo do Erlon e amigo de todos nós, que se possível for, psicografe uma mensagem para os doentes, os detentos, para a Penitenciária do Estado da Guanabara, para os estimados 5elhinhos da Casa de São Luiz, da minha querida Dra. Rute Ferreira de Almeida, enfim, para todas as pessoas que sofrem.

— Podemos ouvir um pouco de música?


Flávio Cavalcanti — Perfeitamente. Atenção, por favor, ele precisa de música e de silêncio no ambiente.

(Há uma longa pausa, enquanto Chico psicografa, concentrado, várias folhas de papel enquanto se fazem ouvir os sons arpejados de um prelúdio.)

Flávio Cavalcanti — A mensagem já está pronta e o espírito pediu que o próprio médium leia a mensagem já que não deve caber a outra pessoa essa missão.

Nesse ponto da entrevista, Chico Xavier se levanta e faz em voz alta, a leitura da página psicografada:


SEMPRE AMOR

Se a provação te alcança,

Contempla a Natureza, alma querida e boa,

E encontrarás, na Terra, em toda parte,

O lar de luz que nos aperfeiçoa.


Dores? Dizes que as dores lembram trevas

Compelindo-te o sonho a persistir de rastros…

Fita o império da noite desvendando

A floresta dos astros.


Renúncia? Há quem afirme que a renúncia

É carga improdutiva para o amor…

Olha o brilhante arrebatado à pedra,

Esbanjando esplendor.


Sofrimento? Assevera a rebeldia

Que todo sofrimento é processo infecundo,

Mas a fonte filtrada entre os punhais da rocha

Acrescenta o conforto e a beleza do mundo.


Crises? Lembra o fragor da tempestade…

O campo grita ao furacão violento…

Depois, o chão se alimpa e o Sol espalha

Mais Ouro e mais Azul no firmamento.


Sacrifício? Medita sobre o tronco

A tombar sem apoio a que se arrime…

Depois, fez-se violino entre mãos hábeis

Interpretando a música sublime.


Morte? Se crês que a morte é o fim de tudo,

Qual abismo escavando abismos agressores,

Fita a semente nua a renascer do solo

Para ser planta nova e esmaltar-se de flores…


Escuta, alma querida! A vida é sempre amor

Do mais nobre caminho aos mais plebeus

E a presença da dor, em qualquer parte,

É uma bênção de Deus.


Maria Dolores


Transcrita do “Serviço Espírita de Informações” — SEI —, Rio de Janeiro (RJ), 27 de julho de 1974, sob o título “Chico Xavier no Programa Flávio Cavalcanti”.