Abrigo

Capítulo XI

Cruzes



Cada alma, na escola da Terra, sob a abençoada cruz da carne, conduz consigo a cruz invisível da prova, indispensável à elevação a que aspira.

Aqui, vemos a cruz do ouro, impondo aos companheiros que a transportam, o círculo do medo e da inquietação.

Além, observamos a cruz do poder, exigindo de quantos lhe detêm, a força de pesados tributos de responsabilidade e sofrimento.

Acolá, notamos a cruz da beleza física, atraindo apelos inferiores.

Mais além, contemplamos a cruz da enfermidade, situando esperanças e sonhos no labirinto da indagação e do desalento.

Não longe, vemos a cruz da carência material, induzindo muita gente à inércia e à lamentação.

Agora, observamos junto de nós a cruz da injustiça aparente, tentando a criatura a reivindicações que a projetam em maiores dificuldades.

Mais tarde, encontraremos a cruz das paixões, vergando ombros sensíveis e afetuosos, reclamando-lhes o amargo imposto do desequilíbrio e das lágrimas.


Cada criatura passa entre os homens algemada ao posto de graves obrigações, alusivas ao progresso que lhe cabe alcançar.

O santo traz a cruz do sacrifício.

O delinquente carrega a cruz do remorso.

O melhor suporta o madeiro da liderança.

O mau tolera o lenho da expiação regenerativa.

O berçário é um viveiro de cruzes que se desenvolvem, pouco a pouco, no curso do tempo, definindo-se cada qual delas, segundo as necessidades de cada um.


Naturalmente, não viverás sem o instrumento de dor e luta que a existência terrestre te deu a transportar, mas se colocas o madeiro do próprio aperfeiçoamento na direção do Cristo, seguindo após Ele, no Calvário da Ressurreição, com amor e humildade, renúncia e perdão, guarda a certeza de que os braços de tua cruz se converterão na morte, em asas de espiritualidade, arrebatando-te do vale pantanoso da Terra para os topos resplendentes do Infinito.