A conferência no tempo espírita versara sobre tentações, compromissos, faltas, culpas. . .
—O orador não precisava ser assim exigente.
Expôs, por mais de uma hora, como se nós, os da assembleia, fôssemos malfeitores.
—Entretanto – disse Ramos -, cautela nunca é demais. Todos somos capazes de cair. . .
—Ah! mas não temos a prece e o conhecimento? – falou Dona Cornélia. – É impossivel que estejamos assim tão atrasados!. . .
—Não! – tornou Gama – não somos tão ruins! Já subimos um degrauzinho. . .
A chegada ao lar interrompeu a conversação.
Logo, porém, depois de instalados em casa, enquanto Dona Cornélia preparava o chá, o telefone tilintou.
Gama atendeu.
—Quem é? – perguntou.
—Pois você estranha, Antônio? Somo nós. . .
—Dê as ordens.
—É um negocião. Basta apenas um recibo assinado por você e receberá oitocentos mil cruzeiros. . .
A voz continuou, explicando que se tratava da venda de vários automóveis para determinada companhia.
Antônio, percebeu que se tratava de operação inconfessável, e pediu um momento.
Emocionado, explicou a Dona Cornélia de que se tratava, e, alarmados, conversaram rapidamente.
Oitocentos mil cruzeiros!
—Afinal – concluiu Dona Cornélia -, é um negócio como os outros.
—Sim – falou o marido -, se eu não aceitar, outros aceitarão.
—Deve ser o amparo de algum amigo espiritual para que possamos comprar, enfim, o nosso apartamento.
—Aceito.
—Muito bem! – responderam – encontrar-nos-emos amanhã, no mesmo lugar.
—Explique-me. Onde estarei para o entendimento?
—Mas ouça! Você não está compreendendo? Diga! É você mesmo quem fala?
—Sim – aclarou Antônio -, sou eu, Antônio Gama, o corretor. . .
—Ah! – concluiu o outro com inflexão de profundo desapontamento – desculpe, cavalheiro, houve erro de ligação. . .
Só então o casal de incipientes na Doutrina reconheceu que ambos haviam fragorosamente caído em perigosa tentação. . .