Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se.
—Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.
Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.
—Manda-o entrar – ordenou o político.
—Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos. . .
Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção. . .
Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor. . .
—De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição.
—Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo. . .
—Ah! você não perdoa!
—Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito?
—Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre. . .
A observação penetrou Quintino como um raio.
—Solte o homem. O caso está liquidado.
—Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.
Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado.