Almas em Desfile

Capítulo V

O porteiro e o Almirante



O Almirante Francisco Vieira Paim Pamplona, que foi Presidente da Federação Espírita Brasileira e espírita dos mais abnegados, no Rio, dirigia o “Asilo de Órfãos Anália Franco” e era ali muito procurado.

Homem de muitas atribuições, compadecia-se daqueles companheiros aos quais não podia ceder maior atenção.

Pensando sanar o problema, tomou a cooperação de um confrade desempregado que lhe pedira auxílio.

Até que lhe arranjasse colocação, o moço ficaria junto à instituição, atendendo às visitas inesperadas.

Conversaria pacientemente.

Trataria a todos com caridade.

Indicaria o horário certo em que ele pudesse ser encontrado, sem prejuízo do trabalho.

E ele, o Almirante, pagaria modesta remuneração do próprio bolso.

O amigo aceitou, contente.

No vigésimo dia de serviço, porém, Paim Pamplona teve responsabilidades mais graves e por lá ficou, até muito tarde, sem que o homem soubesse de sua presença, em sala próxima.

Em certa hora, ouviu altas vozes.

Aguçou o ouvido e escutou.

O moço gritava para pobre mulher:

— Safe-se daqui! “Sua” velhaca! A senhora acha que pode pedir ao Almirante uma coisa dessas? Espiritismo não é feitiçaria. Se a senhora voltar aqui com este assunto de homem fugido, bato a porta em sua cara! Compreendeu? Rua! vá para a rua! O Almirante não esteve, não está e nem estará. Suma de minha vista!

— Desculpe! desculpe! — rogava a pobre.

Mas o improvisado porteiro gritava:

— Rua, antes que eu chame a polícia! Rua, antes que eu chame a polícia!

A senhora saiu correndo.

O Almirante chegou calmo e ainda encontrou o moço fulo de cólera.

— Há quantos dias você está trabalhando? falou Paim Pamplona, sem alterar-se.

— Vinte dias, Almirante.

O distinto oficial da Marinha Brasileira enfiou a mão no bolso, retirou a carteira, contou a importância e estendeu as cédulas ao moço, dizendo-lhe:

— Bem, meu filho, de hoje em diante não se considere mais a meu serviço.

— Mas, por quê? — indagou o amigo desapontado.

E o Almirante sereno:

— A cena que você acabou de representar não condiz com o programa espírita desta Casa.



(Psicografia de Francisco C. Xavier)




O PORTEIRO E O ALMIRANTE



O Almirante Francisco Vieira Paim Pamplona, que foi Presidente da Federação Espírita Brasileira e espírita dos mais abnegados, no Rio, dirigia o "Asilo de órfãos Anália Franco" e era ali muito procurado.

Homem de muitas atribuições, compadecia-se daqueles companheiros aos quais não podia ceder maior atenção.

Pensando sanar o problema, tomou a cooperação de um confrade desempregado que lhe pedira auxílio.

Até que lhe arranjasse colocação, o moço ficaria junto à instituição, atendendo às visitas inesperadas.

Conversaria pacientemente.

Trataria a todos com caridade.

Indicaria o horário certo em que ele pudesse ser encontrado, sem prejuízo do trabalho.

E ele, o Almirante, pagaria modesta remuneração do próprio bolso.

O amigo aceitou, contente.

No vigésimo dia de serviço, porém, Paim Pamplona teve responsabilidades mais graves e por lá ficou, até muito tarde, sem que o homem soubesse de sua presença, em sala próxima.

Em certa hora, ouviu altas vozes.

Aguçou o ouvido e escutou.


O moço gritava para pobre mulher :

– Safe-se daqui! "Sua" velhaca! A senhora acha que pode pedir ao Almirante uma coisa dessas?

Espiritismo não é feitiçaria. Se a senhora voltar aqui com este assunto de homem fugido, bato a porta em sua cara! Compreendeu? Rua! vá para a rua! O Almirante não esteve, não está e nem estará. Suma de minha vista!

– Desculpe! desculpe! – rogava a pobre.


Mas o improvisado porteiro gritava:

– Rua, antes que eu chame a polícia! Rua, antes que eu chame a polícia!

A senhora saiu correndo.

O Almirante chegou calmo e ainda encontrou o moço fulo de cólera.

– Há quantos dias você está trabalhando? – falou Paim Pamplona, sem alterar-se.

– Vinte dias, Almirante.


O distinto oficial da Marinha Brasileira enfiou a mão no bolso, retirou a carteira, contou a importância e estendeu as cédulas ao moço, dizendo-lhe:

– Bem, meu filho, de hoje em diante não se considere mais a meu serviço.

– Mas, por quê? – indagou o amigo desapontado.


E o Almirante sereno:

– A cena que você acabou de representar não condiz com o programa espírita desta Casa.