Era o Dr. Aristides Spínola distinto diretor da Federação Espírita Brasileira, no Rio, quando foi procurado por um amigo do Méier, que lhe comunicou a desesperadora situação no lar.
Tinha esposa e quatro filhas a se voltarem contra ele, em difícil obsessão.
Duas filhas solteiras rixavam com as duas casadas, e os genros, inimigos entre si, injuriavam-no, publicamente, cada qual querendo senhorear a casa. E, no que era mais triste, a esposa ficara moralmente ao lado de um deles, criando-lhe posição insustentável.
A cada momento, era instado a discutir.
Sentia-se tentado a matar um dos genros, mas começara a ler algo da Doutrina Espírita e sentia-se necessitado de orientação.
Não desejava perder a migalha de luz que a fé lhe acendera nalma.
O Dr. Spínola, que era muito humilde e sereno, aconselhou:
— Evite a discussão.
— E se eu for insultado? — indagou o consulente.
— Conte até sessenta, sem responder.
— Mas, se a provocação continuar?
— Busque mudar de assunto.
— Se for inútil?
— Saia de casa.
— É possível, no entanto, que mo impeçam tornou o amigo, sinceramente interessado em tratar de todas as minúcias.
— Se isso acontecer, procure isolar-se num quarto, a chave.
— E se abrirem o aposento à força?
— Nesse caso, telefone imediatamente para o Pronto-socorro e espere a ambulância na porta.
— E quando a ambulância chegar?
— Entre nela e recolha-se ao hospital — disse o Dr. Spínola —; isto é melhor que entrar na faixa do crime, comprometendo-se por muitas reencarnações.
O cavalheiro despediu-se mais tranquilo; no entanto, rogou ao prestimoso orientador para que o visitasse, por espírito de caridade, no dia seguinte, a fim de ajudá-lo a conversar com a esposa, que parecia francamente obsidiada.
Na manhã seguinte o Dr. Spínola encaminhou-se para o endereço de que se munira; entretanto, ao chegar à porta, deu com uma ambulância que deixava a casa, tilintando, ruidosamente, a pedir caminho…
(Psicografia de Francisco C. Xavier)