Manifestaste indisfarçável aborrecimento, ante as observações paternas que te contrariaram os propósitos impensados.
Ontem, abusaste da alimentação, hoje pretendias uma excursão inconveniente.
Referiu-se teu pai às necessidades do espírito, com acentuada tristeza; todavia, longe de lhe entenderes a nobreza do gesto, buscaste, intempestivo, os braços maternos, na ânsia incontida de aprovação aos teus caprichos juvenis.
Foste, porém, injusto.
O jovem que recusa a orientação acertada dos mais velhos que lhe desejam o bem, procede qual lavrador leviano que reprova a boa semente.
Estimas as longas incursões no pomar, quando as laranjeiras se cobrem de frutos e quando a parreira deita uvas doces.
Acreditas, no entanto, que as árvores excelentes teriam crescido sem cuidado? Admites que a vinha não necessitou de amparo em pequena?
Todas as plantas, mormente as mais tenras, sofrem insistentes perseguições de detritos e vermes. Sem carinhosas mãos que as protejam, ser-lhes-ia impraticável o desenvolvimento e a frutificação; muitos dias de vigilância requerem do pomicultor antes de nos atenderem na chácara.
Ignoras que o mesmo acontece no campo do coração?
As más experiências de uma criança acompanham-na a vida inteira.
Diz antigo provérbio: “Com o tempo, a folha da amoreira converte-se em veludoso cetim”; mas não podemos esquecer que também com o tempo as águas desamparadas e esquecidas se transformam em pântano.
Não te revoltes contra a sementeira de reflexão e bondade que o carinho paterno realiza em teu espírito.
Sobretudo, não te impressiones com a fantasiosa opinião de colegas da rua. O tempo dará corpo aos princípios inferiores ou superiores que abraçares e, enquanto o companheiro estranho ao teu lar pode ser o amigo de alguns dias, o papai ser-te-á o amigo e benfeitor de muitos anos.