Quais são as sensações da criatura logo após a morte do corpo? Durante os preparativos da nossa reunião pública, trocávamos ideias sobre o assunto. As opiniões divergiam bastante. Um amigo nos escrevera, solicitando que perguntássemos a Cornélio Pires a respeito, sugerindo-lhe alguns apontamentos sobre essa questão.
Encaminhando-nos, no auge das conversações, para as tarefas da noite, os amigos espirituais nos indicaram para estudo a pergunta 155 de , onde se explica que os dois estados se ligam e se confundem.
Nosso amigo Cornélio manifestou-se, por nosso intermédio, com a mensagem em quadras a que denominou Impressões Depois da Morte.
Recebi sua pergunta, Meu caro Tito Belém, Sobre os momentos primeiros De nossa vida no Além. A pergunta é pequenina, No assunto como se aponta. Mas a resposta, a rigor, Seria livros sem conta. A morte é assim, qual a vida: Renovação sem atraso… Cada vida — nova história, Cada morte — novo caso. Embora o pouco que diga Naquilo que eu não sabia, Posso falar, de algum modo, Sem muita filosofia. Entre os que deixam a Terra, Vê-se enorme diferença; Cada pessoa que parte Está naquilo que pensa. Quem viveu para o trabalho, Sempre em serviço constante, Estudando e construindo, Não para, segue adiante… Entretanto, a maioria Continua, muitas vezes, Nos caprichos preferidos, Por muitos e muitos meses. Recorde nessa matéria, O nosso amigo João Pio: Morreu no abuso da pesca E vive à beira do rio. Anita do apego aos ouros, No Roçado das Giboias, Sem corpo vive atracada Em velha caixa de joias. Finou-se em brasas da ira, O nosso Adálio Godinho. Hoje, é um fantasma de casa, Gesticulando sozinho. Morreu apostando em bichos O nosso Cecílio Luz. Desencarnado ele clama Por touro, cabra e avestruz… Atarracado à cobiça O Antonico do Hemetério, Sem corpo, enxerga diamantes Nas pedras do cemitério. Bebia em caneco grande Teotônio de Xique-Xique. Desencarnado, deitou-se Quase à frente do alambique. Agarrado a bois de preço Finou-se Juca Beiral. Sem corpo, é um rondante aos gritos Fiscalizando o curral. Vivendo de sombra e rede, Morreu Flausina da Granja. Hoje é um fantasma de leito, Pedindo prato de canja. Tiro lá, tiro de cá, Tombou Lino Santarém. Desencarnado, quer briga, Mas já não acha com quem. Morreu perseguindo a muitos Nhô Nico de João da Venda. De tanta culpa ele é hoje Assombração na fazenda. Parada em sono e doença Faleceu Joana Mangaba. Depois da morte, carrega Doença que não se acaba. Sempre fugiu do trabalho Dona França da Abadia. Sem corpo, ela própria clama Que sofre paralisia. A Lei de Deus, caro amigo, É clara, simples, segura… Tudo o que temos na vida É aquilo que se procura. Deus nos inspire e nos guarde, A verdade é isso aí… Cada qual acha na morte Aquilo que fez de si. |