Amor e Luz

Capítulo XIII

Maria Acácia Maciel Cassanha




Quando mais jovem tomei conhecimento do trabalho de Francisco Cândido Xavier, através das suas primeiras obras. Aproximadamente por volta de 1957.

Papai, seguidor da Doutrina Espírita e, em contato com Chico, levava para casa os volumes de seus livros que me encantavam sobremaneira, deixando sobressair um desejo enorme de conhecê-lo pessoalmente.

Chico residia em Pedro Leopoldo. Lá era o campo de seu trabalho profissional e também das reuniões no campo doutrinário, de onde saíam as coisas maravilhosas que todos conhecemos. Viajava de avião, pois as estradas não ofereciam condições de se viajar de carro.

Contava-nos que era delicioso. Chico recebia pequenos grupos, levava-os à sombra dos eucaliptos. Ali conversavam e ele contava lindos casos, comentando sobre o Evangelho e outros ensinamentos que só quem estava presente podia avaliar.

O tempo foi passando. Cresceu-nos o desejo de estruturarmos uma obra para crianças e necessitados. Fomos ter com o Chico, mas em Uberaba, para onde se transferira havia pouco tempo. Estivemos com um pequeno grupo, não que fôssemos em função da obra que iniciava e nem pela curiosidade, mas pela vontade de estar com o médium que nos trazia pela sua psicografia, os ensinamentos que tanto admirávamos.

Esse grupo, com alguns conhecimentos da Doutrina, trabalhava em passes para tratamento espiritual. Um grupo harmonioso como se fora um grupo familiar. Chico nos atendeu maravilhosamente. Para mim foi um impacto emocional muito grande, mesmo sem ter falado com ele quando chegamos.

Realizava o receituário em ambiente público, enquanto companheiros desenvolviam palestras doutrinárias. Hoje, esse receituário é feito em sala separada devido ao grande número de pessoas presentes.

Achava o Chico formidável. Era simples demais.

Um fato naquela oportunidade chamou minha atenção: ele sentou-se à mesa para os trabalhos, tirou os pés dos sapatos e colocou-os sobre os mesmos. Achei aquilo maravilhoso. Cheguei a pensar comigo mesma: — “Que simplicidade! Com tanta gente aqui, ele não está se incomodando com coisa alguma, totalmente voltado para o seu trabalho.”

Experimentamos indefinível alegria. Psicografada e lida a mensagem, constatamos ser de Emmanuel, aquela autoridade que nos legou maravilhas como “Há Dois Mil Anos”, “50 Anos Depois”, “Paulo e Estêvão” “Renúncia”, “Ave, Cristo!” e outras mais. Aquelas palavras soavam-nos como se estivéssemos fora da Terra.

À medida que o pessoal se despedia e diminuía o número dos presentes, pudemos estar mais junto com o Chico. Fui até o papai pedindo que me apresentasse a ele, o que não chegou a acontecer pois, ao nos aproximarmos, Chico foi logo dizendo: — “Boa noite, então a nossa Maria Acácia veio aqui conosco.”

Achei aquele momento fora do comum. Não havia trocado uma palavra com ele. Depois passou a falar de minha filha Célia, que renasceu com deficiência física. Contava naquela época dois anos de idade. Disse-me da tarefa que eu teria com ela. Comentou não tratar-se de uma reencarnação compulsória. Ela mesma escolhera a prova e me daria grandes alegrias. Enfim, o que Chico falou, aconteceu e está acontecendo.

Após esse encontro, passei a frequentar Uberaba uma vez por ano, não indo mais vezes devido às dificuldades naturais que me prendiam em meu lar e na Obra em formação, hoje, graças a Deus, em franca atividade.

Ao longo dos anos, as tarefas foram se desenvolvendo e conheci a Sra. Yolanda Cezar. Com a partida de seu filho Augusto Cezar Netto, começou a visitar Chico Xavier e, as vezes que viajava para Uberaba, convidava-me, permitindo-me assim, vê-lo mais amiúde.

Mamãe desencarnou e nos dez meses que se seguiram, nunca deixei de pedir notícias dela. Sempre recebia recados do Dr. Bezerra de Menezes, dizendo que ela estava bem, se refazendo, se integrando no trabalho. Eram notícias muito confortadoras.

Em 23 de maio de 1976, tivemos a felicidade de receber sua mensagem. Foram surpresas e alegrias do começo ao fim. Com isso, achei que não devia mais incomodar o Plano espiritual.

Interessante que na mensagem ela fazia referência à Nina. Chico chamou-me e disse: — “Você sabe quem é Nina?”— No começo não consegui lembrar-me. Depois, procurando ligar os fatos, recordei-me de tia Ângela que desencarnara um ano antes e, entre os familiares, era chamada por Nina. Voltei ao Chico e esclareci tratar-se da irmã de mamãe. Isso tudo calou-me muito fundo.

Mamãe teve sua vida muito dedicada à Doutrina Espírita. Cerca de quarenta anos trabalhou sem medir sacrifícios, com espírito de renúncia, sempre transmitindo muita paz e serenidade.Às vezes, nós a achávamos passiva demais. Mas com a mensagem, fomos perceber quanto estávamos erradas. Aquela serenidade lhe permitira uma situação espiritual privilegiada e, com isso, hoje tomamos mais cuidado em nossos atos, na forma de nos dirigirmos e tratarmos com os semelhantes.

O conteúdo desta mensagem modificou completamente a estrutura do meu lar e até mesmo do meu trabalho espiritual. Esta mudança é constatada quando observamos fatos que acontecem e dos quais, às vezes, fazemos parte, como os que se seguem:

“Um senhor recebeu pelo Chico uma mensagem do filho. Sua mãe presente, humilde, abatida e com luto fechado que mais realçava sua tristeza. Estava acamada há quase dois anos e, durante esse tempo, havia recorrido a todos os recursos médicos e religiosos para sair daquela situação. Quando Chico iniciou a leitura da mensagem, a senhora quase desmaiou. Foi socorrida e levada para junto do Chico. O rapaz explicava ao Chico que fora levado ao suicídio, hipnotizado por Espíritos ligados a ele por compromissos do passado. Assim, suicidara-se involuntariamente. Falava de todos os familiares, inclusive de um cunhado japonês, presente, citando seu nome por completo. Também a um seu irmão, que se encontrava em companhia da esposa, pedia-lhe que procurasse melhorar, que abandonasse a ideia de suicídio. O moço, emocionado, dizia que iria modificar-se e transformar-se.

“Em outra ocasião, coincidentemente, esta família estava lá e o rapaz trouxe outra mensagem. Nesse dia, soubemos que a mãezinha já não estava de cama, sentindo-se mais tranquila e segura. O rapaz, seu irmão, voltando-se para mim disse: — “A senhora sabe que naquela sexta-feira estava com tudo preparado para, na segunda-feira, suicidar-me? A mensagem de meu irmão salvou-me”.

“Em outra vez, uma senhora, moça ainda, chegando-se a mim, chorando muito, queria um contato com Chico. Estávamos sentadas fora do salão. Começou a contar que o marido suicidara-se em circunstâncias tais, deixando a impressão de que ela o matara. A família havia aberto inquérito. Casada há pouco tempo, desesperada, rogava que precisava falar com Chico. Pedi a ela que tivesse paciência e aguardasse na fila. Era grande o número de pessoas. Não deu tempo dela ser atendida. Chico entrou para o receituário. Mas, no fim do trabalho, voltou a psicografar. O Espírito comunicante era o marido dela. Contava a forma como desencarnara esclarecendo que ela não tivera culpa alguma. Vejam a autenticidade da comunicação. A moça só conversara comigo. Tenho até uma foto dela quando da leitura da mensagem. Chorava muito.”

Aqui em São Paulo, nosso companheiro de diretoria do Lar do Amor Cristão, o Luciano, sentia uma vontade enorme de conhecer Chico. Na época em que o médium viajou para os Estados Unidos, Luciano morava perto do Aeroporto e achou por bem despedir-se. Querendo ter a certeza do que ouvia a respeito do Chico era verdade, no caminho pensava: — “Apesar de acreditar nele, se fosse chamado pelo nome como dizem que ele faz, seria uma forte confirmação”. Colocou-se na fila e quando estava chegando perto para os cumprimentos, Chico olhou para ele e cumprimentou-o: “Boa noite Luciano”. Ele, totalmente desconcertado, chorou de emoção.

As fases do trabalho de Chico sempre foram bem acentuadas e marcantes. Tomemos como exemplo o primeiro “Pinga-Fogo”, onde a repercussão de seu trabalho mediúnico alcançou horizontes até o infinito.

Eufórica, na época escrevi-lhe que “O Brasil amanheceu de roupa nova”, tamanha a penetração de suas palavras.

Esse dia marcou não somente para os que não o conheciam, mas também a nós que o acompanhamos de perto.

Ante e o seu exemplo, vamos sentindo a transformação, a responsabilidade cada vez maior, colocando-nos a prova do amor-cristão.

Em assuntos do cotidiano, ao depararmos com qualquer empecilho, pensamos logo como Chico agiria. Nunca nos lembramos de tê-lo visto revidar ante qualquer atitude indelicada ou agressiva de pessoas menos felizes que o cercam e que feriria a suscetibilidade de qualquer um. E àquela ofensa responde com amor e carinho.

Agora, cedo a vez para que minha irmã Lucy Maciel registre o seu parecer.

Quando estamos em Uberaba, procuramos sentir a vivência do Chico no seu trabalho mediúnico. Percebemos que é um Espírito altamente preparado, trazendo esse preparo de longa data. Uma criatura completamente liberta de muitas necessidades. Chico não é um místico. É um médium, uma pessoa extraordinária.

Levamos às vezes algum problema no coração que nos aflige, e na sua delicadeza, atenção e carinho, vira-se às vezes em nossa direção e comenta alguma coisa que vem de encontro aos nossos conflitos.

Passamos novamente a palavra à Acácia.

Concluindo as palavras de Lucy, Chico em nosso entender trouxe-nos novos horizontes no estudo das obras de Kardec, confirmando esses ensinamentos na vivência do Evangelho demonstrado em seu trabalho mediúnico, despertando-nos e mostrando-nos o valor da mediunidade a serviço de Jesus. Espíritas ou não adeptos da Doutrina de Kardec, todos mostram pelo Chico um grande respeito, admiração e carinho.

Parecer do Sr. Benedito Pedro dos Santos, esposo da Lucy Maciel dos Santos.

Endossando as palavras de Acácia, quero dizer, ainda, que Chico sempre foi para mim o algo mais. Foi conhecer o respeito, a preciosidade, o amor e o equilíbrio maior. E demonstra, através do exemplo, que podemos ampliar estas qualidades dentro de nós.

Conheço Espiritismo desde os 17 anos, mas com Chico aprendi algo que não conhecia.

E agora, o aparte do Sr. Celso Cassanha, esposo da Sra. Acácia Maciel Cassanha.

Em nossa família ele marca presença sobre dois aspectos:

— primeiro, como espíritas praticantes que somos, sempre que se fala em Doutrina, não omitimos o nome de Francisco Cândido Xavier como médium, pelo seu exemplo e pelo seu respeito;

— segundo, como homem é aquele amigo certo para as horas difíceis. Aquele que chamamos de amigo e dizemos tudo.




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