Amor e Luz

Capítulo IV

Lélia de Amorim Nogueira




Há uns trinta anos mais ou menos, Nayá Siqueira Amorim, minha mãe, já visitava o Chico em Pedro Leopoldo. Trazia lindos casos e ensinamentos que nos alegravam muito.

Gostava muito de ouvir mamãe pela sua peculiaridade em nos transmitir, entusiasmada, os acontecimentos quando de suas viagens a Pedro Leopoldo.

Apaixonava-me por tudo aquilo, apesar de trazer em meu coração a orientação católica que buscava nas missas e catecismos.

Devido à alegria contagiante de mamãe, comecei a ler os livros de Chico e, a cada um que lia, encantava-me cada vez mais.

Nos caminhos de nossa vida, estamos presos aos débitos do passado, trazendo-nos as promissórias para serem cobradas no vencimento. O dia da cobrança chegou com o inevitável acidente que ocasionou o desencarne do meu marido e mais dois companheiros que estavam conosco.

Curiosamente, dois dias após o acidente, mamãe recebeu uma carta de Chico que em determinado trecho dizia o seguinte: — Dona Nayá, a Sra. Esmeralda esteve aqui e confiou-me o seguinte recado: — “Diga à dona Nayá que os passeios para chupar jabuticabas nunca deram certo. Dona Nayá sabe porque estou dizendo isso”. Chico, sem entender, perguntou: — “Este recado faz sentido?”

Tanto fazia, que o acidente ocorrera exatamente quando estávamos a caminho de um sítio, como costumeiramente fazíamos, para ir chupar jabuticabas.

Apenas para esclarecimento dos amáveis leitores, a Sra. Esmeralda Bittencourt era amiga de mamãe, hoje encontra-se no Plano espiritual.

Do acidente, fiquei quase um ano em cadeiras de rodas. O médico, achando que não haveria mais condições para eu andar, resolveu dar-me alta. Em vista disso, resolvi ir ao Rio de Janeiro fazer um tratamento de recuperação na BBR. Assim fui melhorando.

Estava com mais de dez fraturas no corpo todo. As mãos totalmente paralisadas. Quando percebi os primeiros movimentos em minhas mãos, senti uma grande vontade de escrever para o Chico. Completei meu desejo.

Continuei no Rio de Janeiro, em tratamento, por uns dois anos. E, em viagem a Goiânia para reconforto dos meus familiares, resolvi parar em Uberaba.

Nessa oportunidade vi o Chico pela primeira vez. Maravilhada e muito feliz, junto com mamãe, sentamo-nos aguardando para poder falar-lhe.

Mamãe já idosa, com problemas de saúde e eu sem muitas condições de permanecer por muito tempo. Por isso, ela resolveu escrever um bilhete ao Chico. Assim que lhe chegou às mãos e o leu, imediatamente mandou chamar-nos. Na sua presença, notei-lhe muita alegria e carinho pela minha melhora, pois o meu estado, quando do acidente, não permitia a reabilitação.

No hospital tomava comunhão diariamente e, apesar de ser católica, também recebia o tratamento de passes que mamãe e um pequeno grupo me aplicavam.

Nesses momentos, vi várias vezes nuvens lindíssimas, nas cores rosa e branca. Preocupava-me sensivelmente, pois pensava que fosse problema de visão. Pedi ao médico para examinar-me. O especialista oftalmológico, após os exames, constatou não haver problemas de visão. Meus olhos estavam perfeitos.

Em outras vezes, comecei a ver pontos luminosos que subiam e desciam em torno do meu corpo, como se estivesse sendo ministrado algum medicamento espiritual. A partir de então, passei a encarar com mais seriedade o Espiritismo kardecista.

Perdoem-me os leitores a interrupção na sequência do nosso assunto, mas, continuando aqueles momentos felizes na presença do Chico, este convidou-nos para a prece no dia seguinte cedo. Era com um número menor de pessoas e não havia receituário, a menos que houvesse necessidade.

Nessa manhã tivemos uma grande alegria, pois nos chegou a primeira mensagem de papai. Mamãe reanimou-se. Atravessava uma situação muito séria, com problemas de minha irmã que há trinta anos era freira e se via obrigada a deixar sua missão, por motivos alheios à sua vontade. Isso magoou-a muito, pois essa tarefa ia de encontro com seus sentimentos. Hoje, graças a Deus, reintegrou-se na vida normal. Papai reanimava-a.

Para mamãe foi uma prova real de que quem estava ali escrevendo era papai. E não foi só isso. Outros assuntos nos esclarecia. Informava que meu marido melhorava dia a dia.

A satisfação era muito grande, pois precisávamos daquele conforto. Aqueles momentos pareciam inacabados, afastando-nos todo o sofrimento. Percebi que papai e Alvicto, meu esposo, estavam sob proteção total dos amigos espirituais. Conscientizei-me de que deveria trabalhar muito para ajudar cada vez mais meu marido, pois sabia perfeitamente que após sua recuperação estaria trabalhando em meu auxílio e dos meus.

Graças a Deus hoje sinto-me feliz, com o coração cheio de alegria, sei que Alvicto está conosco na cooperação do bem comum.

A nossa alegria é constante, pois, quando sentimos saudades, recorremos às mensagens e nos reanimamos com as palavras que nos dão forças para o trabalho. Não que nos faltem outras fontes de sustentação, mas ali estão representadas as presenças de suas imagens. Nesses momentos, mamãe recorda os tempos de Pedro Leopoldo e nos conta alguns casos como o que se segue:

“Certa feita, estava no hotel em Pedro Leopoldo e como os trabalhos terminaram altas horas da noite, aproveitou um pouco mais o dia seguinte para descansar. Escutou bater à porta e não se importou, concluindo que não era com ela, pois ninguém a conhecia na cidade, a não ser o Chico. Continuou deitada, pensando, inclusive, que fosse no quarto ao lado. Tornaram a bater e a chamaram pelo nome. Levantou-se rapidamente, e verificou tratar-se de Chico Xavier.

— “Preciso da senhora, dona Nayá. Tem um senhor aqui no hotel passando mal. Veio do Rio de Janeiro e está com problemas muito sérios. Ajude-me a levá-lo para casa. Não quero que lhe aconteça mal maior. Veio de muito longe para visitar-me e preciso cuidar dele.”

Colocaram o homem num carro e foram à sua casa. Trabalharam com preces e passes até que ele melhorasse. Voltaram ao hotel.

Tempos depois, mamãe havia esquecido do ocorrido mas, na presença do Chico, lembrou-se e perguntou-lhe: — “Como vai aquele senhor do Rio?

— Voltou para casa bem melhor”.

Há pouco tempo em visita a Goiânia, Chico passou rapidamente em casa. Mamãe perguntou-lhe novamente por aquele senhor, e feliz, soube que ele está gozando boa saúde.

Pois é, meus amigos, com tudo o que nos aconteceu pudemos observar que a mediunidade sem dedicação, sem amor e trabalho, não levará a nada. E Chico aí está para estimular-nos com seu exemplo de amor e disciplina no seguimento desta Doutrina que emana de Deus, onde encontramos as chances do trabalho redentor que nos levará aos caminhos certos na pureza do sentimento, envolvendo-nos de amor ao Evangelho de Jesus.




ANTENOR DE AMORIM — Nascimento: 17/07/1875 — Desencarnação: 26/03/1948.


ALVICTO OSORIS NOGUEIRA — Nascimento: 08/08/1914 — Desencarnação: 22/10/1967.