Meu primeiro encontro com Francisco Cândido Xavier, foi em 17-08-1951, quando fui a Pedro Leopoldo em companhia de Pietro Ubaldi, Dr. Clovis Tavares e Antônio Batista Lino, tendo sido apresentado antes pela Sra. Zaira Junqueira Pitt, pessoa muito querida do Chico.
Nessa ocasião, Jesus ofertou-me a oportunidade de co-participar de uma reunião na Fazenda Modelo, com a presença do Dr. Rômulo Joviano, quando nosso querido Chico recebeu uma mensagem de Francisco de Assis, endereçada a Pietro Ubaldi, impressa no livro Conferências no Brasil, Editora O Pensamento.
No advento dessa mensagem, Pietro Ubaldi também recebia a sua, Vós, o seu guia Espiritual o presenteava com sua presença. Muito admirados e emocionados, percebíamos o ambiente se tornar aos poucos todo iluminado. Sentíamos a grande elevação espiritual que aqueles momentos possuíam.
O interessante é que os participantes, em número de doze, vieram de vários estados brasileiros e maravilhados com o acontecimento não cansavam de comentá-lo entre si.
Pietro Ubaldi, emocionadíssimo, não só com o conteúdo dessa riquíssima mensagem, como também e especialmente pela maneira profunda da identificação com as suas necessidades e, em vista disso, muito a comentou durante o nosso período de regresso.
Posteriormente, mantivemos novos encontros, dentre eles, recebemos em 1952 uma mensagem de minha mãe (Alvina Rodrigues Gonçalves Pereira). Nessa mensagem trouxe-nos novas provas de grande valia, com identificações relacionadas com os familiares. Deu-nos bases para confirmar o valor da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.
Destacando como um dos valores acima mencionados, os nomes dos meus irmãos e de meu pai Horácio Gonçalves Pereira, que não tinham sido mencionados ao Chico, mas pensava neles no momento.
A questão da filha mais velha não aceitar o Espiritismo, foi comprovada, pois, em tempo oportuno, ela se tornou espírita, assumindo responsabilidades e tarefas na evangelização da infância e juventude. Assim suas irmãs Jeny e Eny.
Para que os leitores possam ter a ideia do que mencionamos, à seguir transcreveremos a mensagem.
Pedro Leopoldo, 7 de Junho de 1952.
Filho do meu coração, Deus abençoe todos os seus passos, amparando sempre as suas realizações.
Se o coração pudesse falar com letras o que lhe vae por dentro, por certo, as lágrimas de alegria que eu choro estariam neste papel como notas de luz do amor que nos une para sempre. Quisera ter aqui, ao meu lado, igualmente, a nossa Luiza e as minhas queridas netas para envolvê-las no mesmo cântico de júbilo e reconhecimento. Entretanto, seu lar é para nós um santuário e, sempre que me é possível, lá me encontro, rogando ao Senhor nos conceda a felicidade de viver invariavelmente unidos em nosso ideal de renovação.
Meu filho, tantos annos passaram, mas o amor não se modifica. O tempo é como uma veste do nosso Espírito — a roupa se altera, mas nossa alma permanece acima de todas as transformações e de todos os reajustes.
Do passado até agora, muita mudança poderíamos registrar… Graças a Deus, porém, e digo-o com santa vaidade no coração, a maior de todas foi o seu crescimento e a sua fidelidade ao bem. Lembro-me dos dias em que conservando você tenro e pequenino, junto do peito, pedia a Deus fizesse de seu destino uma linda história de auxílio e triumpho para a nossa casa. Via Horácio lutando e pensava — “hoje será difícil, mas os meninos serão homens e tudo melhorará”. Agora encontro em nosso caminho as bênçãos de seu esforço. Quando chego à sua casa, meu filho, tenho a ideia de que as gottas do seu suor se transformaram em flores de luz. Na bondade de sua companheira que considero filha de minhalma e no carinho das pequenas, encontro tudo aquillo que eu sonhei para o futuro.
Louvado seja Deus que ouviu nossas preces e santificou a nossa boa vontade.
Você pergunta por seu pae e devo dizer lhe que elle vae passando bem, enriquecendo-se para a vanguarda do serviço que o espera no porvir. Você sabe que nada existe sem preço e as conquistas espirituais reclamam muito esforço. Horácio tem realizado muito e já collabora até mesmo em sua missão de amor. Lucinda tem actualmente lutado bastante. Amélia, a nossa Amélia querida, conta outras tarefas que não me é permittido relacionar agora e o nosso Benedicto continua merecendo a nossa carinhosa attenção. Sei que você tem feito por nós quanto pode fazer, em sacrifício e ternura, um filho e um irmão, dedicado ao nosso bem, contudo, peço ainda a você e à nossa Luiza não se desanimarem com as lutas. Há corações que se ligam aos nossos, obedecendo ao pretérito afflictivo e escuro e que devemos amparar, de longe ou de perto, sem desalento.
As mães, meu filho, não adormecem. Nosso amor é como uma raiz viva e persistente no fundo da terra — ainda que a foice nos decepe os ramos renascentes, continuamos invisíveis embora, na profundeza do solo dos sentimentos, buscando meios de voltar para redimir, auxiliando e sustentando sempre.
Em casa, a nossa Alvina tem recebido toda a nossa dedicação. Ella é uma herdeira afortunada de grande cultura da intelligência e se tem ainda certas difficuldades para acceitar o Espiritismo, em sua feição integral, tempo virá em que esposará nossos princípios de hoje com todos os primorosos recursos de seu cérebro e de seu coração para o desempenho das lindas tarefas que trouxe ao renascer. Esperemos e confiemos.
Desnecessário será dizer a você que contamos sempre com o seu devotamento e com a sua comprehensão.
Filho querido, a única identidade que nos torna reconhecidos, além da morte, é aquella que procede das boas obras. A caridade é a nossa luz para o grande caminho que o futuro nos descortina. Não se canse de espalhar lhe as bênçãos. E não olvidemos que soffrer para auxiliar é sempre o maior privilégio para o coração ligado a Jesus.
Que Deus nos abençoe e nos illumine. E reunindo você, Luiza e as netinhas no meu abraço, cheio de carinho e de reconhecimento, sou, com todo o coração, a mãezinha muito amiga que não os esquece.
Continuando ainda em novos encontros em Pedro Leopoldo com Chico Xavier, tivemos oportunidades de aprender o valor da Doutrina Espírita, assimilando mais as obras de Allan Kardec, através da leitura dos livros de Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, Batuíra, Meimei, Auta de Souza e mensagens de Scheilla, permitindo-nos ainda receber do médium Chico Xavier exemplos edificantes de trabalho, perseverança, humildade, renúncia, amor e fidelidade à Doutrina que nos permitiram desenvolver as nossas atividades nas Obras Assistenciais da Federação Espírita do Estado de São Paulo, mostrando, conforme mensagem recebida na mesma data da recebida de mamãe Alvina. Seu título, MEU AMIGO, MUITA PAZ. Junho de 1952. Seu conteúdo veio traçar um roteiro de luz e amor para as obras assistenciais espíritas, despertando-nos para as responsabilidades de vivência do Evangelho na prática da caridade, que é o Amor em ação. (conforme nos diz André Luiz). Vamos à leitura dessa beleza de mensagem.
Meu amigo, muita paz!
A assistência social é a fraternidade em ação. Sem ela, indiscutivelmente, os nossos mais preciosos arrazoados verbalísticos não passariam de belos mostruários sonoros.
É necessário teorizar com o exemplo se desejamos argumentar com eficiência e segurança, no campo de nossas realizações.
Se é verdade que as obras sem ideal são primorosas esculturas da arte humana, sem o calor da vida, a fé sem obras, segundo já nos asseverava a palavra apostólica, há quase dois mil anos, (Tg
2: ) não passa de um cadáver bem adornado.17 A escola, a maternidade, a creche, o hospital, o refúgio de esperança aos viajantes da amargura, o albergue, o posto de socorro, a visitação fraterna aos doentes e aos necessitados, a palestra amiga e confortadora, a casa de desobsessão, o auxílio de emergência aos companheiros de angústia, o amparo aos irmãos presidiários, a cooperação metódica nos centros especializados de tratamento, quais sejam os sanatórios, os hospitais e os leprozários, a contribuição desinteressada, enfim, a dor de todos matizes e de todas as procedências, desafiam a nossa capacidade de imaginar, organizar e fazer, afim de que possamos momentalizar a nossa Doutrina de Amor e Luz no mundo vivo dos corações.
Trabalhemos, auxiliando-nos uns aos outros. Somos associados de uma só empresa de redenção, usando o sentimento, o raciocínio, as mãos, a palavra, a tribuna, a imprensa e o livro para o mesmo glorioso desiderato.
Conscientes, pois, de nossas responsabilidades, marchemos para diante, sob a inspiração do Cristo, Nosso Senhor e Mestre, entrelaçando braços e corações na mesma vibração de otimismo e esperança, serviço e sublimação.
Hoje é o nosso dia. Agora é o momento.
A luta é a nossa oportunidade.
Ajudar é a honra que nos compete.
Sigamos assim, destemerosos e firmes na certeza de que o Senhor permanece conosco e, indubitavelmente, alcançaremos amanhã a alegria e a paz do mundo melhor.
Em outras oportunidades, estávamos certa madrugada entre os pés dos eucaliptos, quando um grupo de estudo de astronomia estava examinando as estrelas e a lua. Alguns companheiros começaram a comentar que somente a Terra era um plano habitado. Adentrávamos a madrugada com esse comentário, quando compareceu o Espírito de André Luiz e através de Chico Xavier comentou: — “Observando seus comentários que somente a Terra tem condições de ser habitada, achei conveniente mencionar aos nossos irmãos, que essas opiniões poderão ser esclarecidas e, para isto, imaginemos o oceano Pacífico, como o é, o maior da Terra e, joguemos uma laranja em seu meio, comparando, como se a laranja fosse do tamanho da Terra, e o oceano o Infinito, e nós seus habitantes: Pergunto, como ficaria o resto?” Consideramos portanto o ensinamento de Jesus quando nos disse: “Há muitas moradas na casa de meu Pai” (Jo
14: ) .2 Nos contatos subsequentes com Chico, o acompanhamos em muitas tarefas de Assistência Social, aos carecedores de auxílio, quando realizávamos juntos, visitas diurnas e noturnas nos lares mais humildes nos arrabaldes da cidade. O Lar dos 5elhinhos “Lindolfo Ferreira”, demonstrava-nos mais uma atividade como vivência do Evangelho. Finalizando a fase em Pedro Leopoldo, ainda, em reuniões da Doutrina na cidade de Matozinhos, chegou-nos uma mensagem através de sua psicografia, de Irene S. Pinto, quando mencionava a sua presença e nos confirmava assunto de meu conhecimento no encaminhamento de uma irmã a ser atendida em São Paulo. Para que testemunhássemos a autenticidade e a veracidade de seus dizeres, colocou-nos em mãos, número, rua e local onde jazia seu túmulo. Para nós, confiantes em sua mensagem, deixamos de verificar, mas, com o passar dos tempos, recebemos através do Dr. Walter Gonçalves, que na oportunidade exercia a função de Engenheiro Supervisor dos Cemitérios na Capital de São Paulo, sabendo de nossa ligação e conhecedor da mensagem de Irene, gentilmente enviou-nos a foto do seu túmulo, onde constava todos os detalhes mencionados em sua mensagem.
Motivado por todo este aprendizado e exemplos de amor e dedicação de Chico Xavier e, através das mensagens recebidas dos nossos Benfeitores Espirituais, trouxe-nos a necessidade de ampliarmos nosso programa da Federação Espírita do Estado de São Paulo, levando-nos à criação da Casa Transitória, baseada nas obras mediúnicas de André Luiz, nos volumes do Nosso Lar e Obreiros da Vida Eterna, quando recebemos a mensagem de Batuíra, que nos trouxe orientação e incentivo mencionando a necessidade urgente na construção desta obra.
Novembro de 1954.
…Nesse sentido, a Casa Transitória, com os serviços assistenciais que nos dizem respeito, surge, sempre mais imperiosa, mais urgente.
Não desconhecemos o acervo dos problemas que a edificação e consolidação da obra exige em si, mas contamos igualmente com a infinita bondade do Senhor que não nos olvidará em Sua ilimitada misericórdia. Cremos realmente que situar a instituição, na parte central de nossa cidade seria de momento uma iniciativa impraticável, entretanto, o meio-termo para a localização da obra será indiscutivelmente a solução ideal do problema. Nem o agravo de responsabilidades materiais no centro urbano, nem as dificuldades da distância excessiva nas regiões que lhe sejam vizinhas.
Daí, o motivo pelo qual consideramos de grande oportunidade o teu entendimento com os irmãos da Assistência, tanto quanto com as autoridades que nos dirigem o instituto venerável, a fim de que o assunto possa ser estudado em alicerces tão sólidos quanto possíveis.
Guarda, contigo, a certeza de que não estarás sozinho no trato da questão… Durante o período de implantação, em nossas horas difíceis, recebemos incentivo, orientação, amparo e sustentação do mundo espiritual.
Devemos agradecer a Jesus que nos permitiu conhecer o médium Francisco Cândido Xavier e que no andamento dessa obra, proporcionou a oportunidade de auxiliar milhares de irmãos nas suas necessidades, exercitando na prática a vivência da Doutrina Consoladora que, como ensinou Allan Kardec “Fora da caridade não há salvação”.
De uma maneira mais ampla, devemos assinalar ou destacar o exercício da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, da Luz e do Amor, não só pelas comunicações dos Espíritos Benfeitores que nos trouxeram esclarecimentos do Evangelho do Senhor, como também nos exemplos que Chico Xavier nos ofereceu em todos os instantes, quer nos trazendo o amparo através dos órgãos noticiosos como jornais, revistas e televisões, como por exemplo, o programa Pinga-Fogo, e junto as Autoridades Públicas, onde recebeu título de Cidadão em várias cidades e capitais no Brasil e, com toda humildade transferiu os valores desses títulos à Doutrina Espírita.
Mostrou-nos com isso, a renúncia e o devido valor dos nossos Benfeitores Espirituais, demonstrando mais uma vez, que o amor ao trabalho edificante só nos trará a consciência de que a caridade em prol do nosso semelhante, é e será sempre reconhecida por aqueles que compreendem, respeitam e reconhecem o valor da mediunidade a serviço de Cristo.
Traz-nos a alegria, paz e a certeza, que no amanhã estaremos nos reunindo na Pátria Espiritual, onde iremos reconhecer que o aprendizado trazido e aceito, colocou-nos na condição de reconhecidos e devedores a esse médium querido, Francisco Cândido Xavier.
Nosso reconhecimento ainda se estende num pedido a Deus: que lhe dê as forças necessárias e, que Francisco Cândido Xavier não fique só nos 150 livros, [até julho de 1977] que continue no seu trabalho mediúnico, a nos dar a palavra desses irmãos que incansavelmente trazem-nos à luz, o Amor de Deus.
[: A saudação inicial “Meu amigo, muita paz” foi utilizada como título da mensagem; embora tenha sido dirigida a um amigo extremamente dedicado à assistência social, alteramos seu título para torná-lo mais significativo]
Rua Numa Pereira do Vale, 25. São Paulo — SP.
HORÁCIO GONÇALVES PEREIRA — Nascimento: 11/03/1874 — Desencarnação: 05/11/1930.
Citação parcial para estudo, de acordo com o artigo 46, item III, da . |